sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Coletiva Mulheres+ de Propósito realiza hoje última apresentação do cortejo Encantadas



O cortejo teatral Encantadas: No Caminho das Tias Pretas, após curta temporada na área da Pequena África, Zona Portuária do Rio de Janeiro, chega a sua última apresentação hoje, dia 06 de outubro, a partir das 19h no Cais do Valongo. 

O espetáculo desenrola-se com interação total com o público em uma caminhada festiva e celebrante que terá canto, dança, poema, reza e muito resgate da memória negra e das Tias Pretas baianas que deixaram um legado cultural imenso, não apenas para a região, mas para a cultura brasileira como um todo. A atração cultural visa a uma construção política acerca do pertencimento a uma cosmologia Africana e homenageia essa tradição em três gerações: Tia Carmem do Xibuca (séc. XIX),Tia Dodô da Portela (séc. XX) e Tia Lúcia (séc. XXI).

A ação é dividida em cinco estações com partida no Cais do Valongo, passando pela Esquina do Pecado com a Rua do Livramento, Praça da Harmonia, Instituto dos Pretos Novos e termina com uma roda de samba no MUHCAB (Museu da História e Cultura Afro-Brasileira) com gosto de cultura, sendo servido aos presentes: feijão, cachaça, cocada, bolinho de estudante e acarajé.

Durante todo o trajeto as artistas: Lú Fogaça, Azula, Angélica de Paula, Gaby Magalhães, Francine Melo e percussionistas se revezam na performance que resgata a história das Tias Pretas ocupando através da música com coro de vozes, falas e cantos entoados ao toque de tambor a Pequena África. Todo o trabalho é realizado por mulheres e pessoas trans, pondo em questão não só o debate acerca da cor da pele, mas também de gênero, valorizando então, uma pauta sobre a exclusão social que ainda hoje, se faz muito marcante.

Roteiro do cortejo 

O espetáculo músico-teatral começa no Cais do Valongo, local emblemático pela sua relação histórica com os povos negros oriundos da África que desconectados de sua essência cultural vinham forçados, em navios negreiros, para serem escravizados e mortos no Brasil. O cortejo trata-se de uma busca ancestral através da figura feminina das "tias". Elas são consideradas mulheres mais velhas, lideranças religiosas e culturais que devido à sua sabedoria se reconhecem e são reconhecidas por deterem um saber-fazer que remonta essa herança africana na cidade. As Tias são progenitoras, líderes, rezadeiras, cozinheiras, quitandeiras... mães de Santo. Uma honraria das mais altas e caras na Pequena África.

Na Estação 01, chamada de Valongo Afrofuturista: Reis e Rainhas de África desembarcam em São Sebastião do RJ. Aqui é o ponto de partida do cortejo, o Cais do Valongo. Após, partem para a Estação 02, Povo de Rua - Encruzilhada da Rua do Livramento com Esquina do Pecado, e neste momento é o toque do tambor que brilha junto da performance das artistas. 

A Estação 03 destaca-se pela abertura com a música Quilombo entoada pela cantora travesti Azula, (apresentou-se no espaço favela do Rock'n Rio, este mês), pelo poema: Vozes-Mulheres de Conceição Evaristo e a apresentação da figura das Tias homenageadas. O fechamento deste ciclo se dá com uma música inventada, interpretada pela cantora Angélica de Paula, moradora da Zona Portuária, que mescla português e o dialeto Iorubá.

Estação 04 - Saravando Nossos Ancestrais representa a chegada ao Cemitério dos Pretos Novos.  Aqui é um momento de protesto e reflexão política contra a realidade contemporânea de violência aos marginalizados socialmente no Brasil. Nomes de vítimas do genocídio que assola o RJ são lembrados sob a realização de descarrego e Água de cheiro. Um varal com blusas fecha a rua em um minuto de silêncio.

A Estação 05, o Quintal das Tias. O MUHCAB é a parada final do cortejo, mas que é só o início de uma bela comemoração que remonta às celebrações festivas que eram promovidas nos quintais das Tias Pretas. Para animar ainda mais o público e valorizar os frutos da cultura afro-brasileira, um "sambinha de lei", regado a quitutes comumente oferecidos pelas Tias nas festas que realizavam em seus quintais em tempos de resistência negra, que motivam e inspiram até os dias atuais.

Quem realiza e onde nasceu o Cortejo sobre as Tias Pretas?

A Coletiva Mulheres+ de Propósito sediada na Casa do Propósito é formada por mulheres e pessoas trans de diversas frentes de atuação, desde comunicação e produção cultural até história e artes visuais e cênicas. Por meio de projetos artísticos e sociais promovem a luta contra a LGBTQIA+fobia e as desigualdades de classe, gênero e raça.

A Casa do Propósito é um espaço artístico, cultural, afetivo e político, localizado na Gamboa/Rio de Janeiro. Idealizado em 2018 pela artista Adriana Zattar, a casa atua em diversas frentes do fazer cultural como artes visuais, música, teatro, cinema, dança, terapias holísticas, rodas de conversa, palestras e cursos. 


Serviço

Cortejo | Encantadas: No Caminho das Tias Pretas 

Datas: 06 de outubro  

Horários: Concentração: 18h30 no Cais do Valongo / Cortejo: 19h.

Rota: Cais do Valongo; Esquina do Pecado com a Rua do Livramento; Praça da Harmonia; Instituto dos Pretos Novos; MUHCAB (Museu da História e Cultura Afro-Brasileira). 

Contatos: mulheresdepropositorj@gmail.com  @mulheresmaisdeproposito


Nenhum comentário:

Postar um comentário