quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Encontro cultural entre contador de histórias africano e comunidades quilombolas do Sertão do Pajeú ganha curta-metragem

Segue sugestão de pauta sobre estreia de filme pernambucano. "Do Burkina Faso a Terras Quilombolas: um encontro pela oralidade" será lançado no próximo domingo (29), no canal de YouTube da artista Laura Tamiana, uma das idealizadoras do projeto. O curta-metragem retrata a realização do projeto de mesmo nome, que no início de 2020, proporcionou o encontro entre o contador de histórias e ator François Moïse Bamba, vindo do Burkina Faso, país da África Ocidental, e as comunidades quilombolas Abelha, Travessão do Caroá, Gameleira e Brejo de Dentro, do município de Carnaíba, no Pajeú.  

Encontro cultural entre contador de histórias africano e comunidades quilombolas do Sertão do Pajeú ganha curta-metragem

Filme “Do Burkina Faso a Terras Quilombolas: um encontro pela oralidade” estreia no próximo domingo, dia 29 de agost

Um intercâmbio de imersão cultural carregado de identificação e vivências compartilhadas, unindo as tradições orais da África Ocidental e do Sertão pernambucano. Essa é a experiência retratada pelo filme "Do Burkina Faso a Terras Quilombolas: um encontro pela oralidade", que tem estreia marcada para o próximo domingo, dia 29 de agosto, às 16h, no canal de YouTube de Laura Tamiana, uma das idealizadoras do projeto.

O filme coroa a realização do projeto de mesmo nome, "Do Burkina Faso a Terras Quilombolas: um encontro pela oralidade", que, no início de 2020, proporcionou o encontro entre o contador de histórias e ator François Moïse Bamba, vindo do Burkina Faso, país da África Ocidental, e as comunidades quilombolas Abelha, Travessão do Caroá, Gameleira e Brejo de Dentro, do município de Carnaíba, no Pajeú. Durante oito dias, Bamba e uma pequena equipe residiram na comunidade de Abelha, com um programa que incluía atividades e momentos cotidianos, espaços para o artista e os moradores das quatro comunidades partilharam mutuamente suas heranças e vivências na tradição oral. Foram intensos momentos de partilha, que agora, sob um registro poético, serão compartilhados com um púbico mais vasto, no formato de filme.

O projeto, que tem o incentivo do Funcultura - Governo do Estado de Pernambuco, foi concebido e realizado pelas artistas e produtoras Laura Tamiana e Karuna de Paula, residentes em Recife, em parceria com Edna Andrade, liderança quilombola, e a Comissão Quilombola do Caroá. A artista Paula Vanina foi convidada pelas idealizadoras para vivenciar a imersão, fazendo o registro audiovisual. Vanina assina as imagens, roteiro e edição do filme. 

A relação entre François Bamba e a arte de contar histórias vem da infância. “Desde pequeno, tive a sorte de ter meu pai que contava histórias. Pouco a pouco, um grupo de crianças contadoras se constituiu, tentando imitar as histórias do meu pai. Indo coletar os contos, eu descobri um outro valor da vida, um outro valor do humano, que começa a desaparecer nas grandes cidades”, comenta o ator. “Então, assim que eu soube que viria encontrar comunidades, foi um grande prazer para mim, porque significava, imediatamente, poder conhecer mais e também compartilhar as palavras de onde eu venho, além de encontrar as palavras daqui, desta comunidade”, completa. 

A programação da imersão retratada nas telas se deu da seguinte maneira: pelas manhãs, moradores das quatro comunidades – do veterano Seu Sebastião Gonçalo da Silva, mestre do Coco e uma das lideranças do quilombo Abelha, à jovem Maísa, de 11 anos – se reuniam no quilombo Abelha, para ouvir e trocar sobre as partilhas de Bamba em torno da cultura oral de sua região no continente africano, na oficina “A oralidade como base da educação”. Depois da refeição do almoço, sempre compartilhada, as tardes foram marcadas por visitas organizadas pelos integrantes da Comissão Quilombola do Caroá, levando Bamba e a equipe ao encontro de detentoras e detentores de saberes locais, como o benzedeiro Manoel Benedito e o mestre Dezinho do Pífano, além de locais como a Casa de Farinha e a Pedra do Giz.

Momentos de apresentação abriram e fecharam a estadia: a abertura contou com o grupo de coco de Abelha e os contos do Burkina Faso, na voz de François Bamba, com a interpretação artística de Laura Tamiana; e o encerramento trouxe, além dessas duas atrações, outros artistas locais como a Dança Afro e a Batucada Feminista. Todas as atividades foram gratuitas e tiveram a tradução entre o português e o francês, segunda língua de Bamba, feita por Laura. Chama a atenção a adesão das crianças da comunidade, presentes nas diversas atividades, às vezes como protagonistas, às vezes observando, sempre aprendendo, tal como é característico da região de origem de Bamba também.

A Comissão Quilombola do Caroá, que cuidou de toda a organização local das atividades, é composta por lideranças das quatro comunidades – Abelha, Brejo de Dentro, Gameleira e Travessão do Caroá. Essas comunidades dialogam entre si através das artes e de elementos tradicionais dos quais são herdeiras. A matriz afrodescendente é o elo dessas comunidades que abrigam em torno de 330 famílias e uma população de 1.320 pessoas. Edna Andrade, que desde muito jovem atua como uma das lideranças do quilombo Abelha, foi responsável pela articulação entre o convite feito pelas idealizadoras do projeto e a Comissão. “Todas e todos que participam, acolheram a proposta de forma muito positiva e solidária”, explica Edna. Aparecida Tereza, outra liderança, ressalta que o encontro revela o quanto as realidades são parecidas e completa: “É um fortalecimento, a gente se sente fortalecidas para continuar lutando”.

“As tradições orais carregam uma imensa sabedoria. Acreditamos que colocar em contato essas práticas, entre pessoas de cá e de lá, seja profundamente enriquecedor para ambos os lados, pois o encontro permite reconhecermos no corpo a conexão antes de tudo humana que a oralidade traz, e mais precisamente a conexão histórica que existe, e através desse corpo torná-la atual e viva, abrindo caminho para novos possíveis”, pontua Laura Tamiana, que desde 2017 trabalha em parceria com Bamba, com atividades artísticas e culturais entre o Brasil e o Burkina. “Eu acho que quando vivemos o encontro e a experiência no corpo, quando encontramos realmente a partir da presença, tem algo que fica impresso na gente, no sentido do afeto, que é extremamente transformador”, finaliza. A dupla Bamba e Tamiana deu ao conjunto de suas atividades realizadas em parceria o nome de Ba-kô, que na língua africana Bambara tem dois significados: “as costas da mãe” e “do outro lado da margem”, esse nome simbolizando para eles o convite a ir ao encontro do outro, à descoberta do mundo, a partir de um lugar de acolhimento e cuidado. 

O filme será exibido com legendas em francês, possibilitando também o acesso aos conterrâneos de Bamba. Na sequência do lançamento do filme, a equipe convidará o púbico para um bate-papo em torno do projeto e do filme.

Segunda etapa – O intercâmbio cultural com comunidades do Sertão do Pajeú terá continuidade, através do projeto “Do Burkina Faso a Terras Quilombolas: a voz das histórias”, aprovado em novo edital do Funcultura. Após a descoberta mútua que a etapa “um encontro pela oralidade” proporcionou, a etapa “a voz das histórias” tem enfoque no repertório de histórias das comunidades locais e no exercício da arte de contá-las, através da mediação de François Moïse Bamba e seus mais de 20 anos de experiência como contador. Juntos, o artista e um grupo de jovens e de lideranças das comunidades irão num primeiro momento trabalhar a prática de coletar histórias: como coletar, junto a quem, que procedimentos estão envolvidos nesse registro; indo ao encontro dos mais velhos e das mais velhas das comunidades. Em um segundo momento, Bamba vai trabalhar com esse grupo a arte de narrar as histórias coletadas.


 


Ao final do encontro será realizado um grande momento de contação, aberto a toda a comunidade. A proposta é por um lado valorizar e reativar essa prática da narração em contextos familiares e comunitários, que permitem a transmissão dos saberes e fazeres locais. E por outro, munir os jovens e a Comissão Quilombola da arte da narração, pelo viés da prática oral africana, uma ferramenta potente na luta pelo seu reconhecimento. A realização dessa nova etapa está prevista para o primeiro semestre de 2022, com a data a confirmar de acordo com a situação da crise sanitária. O projeto não pretende parar por aí. O passo seguinte será buscar caminhos para viabilizar a ida de integrantes das comunidades para participarem do FIPI – Festival Internacional dos Patrimônios Imateriais, organizado por Bamba anualmente em seu país. “Eu ouvi algumas pessoas falando que conhecer a África é conhecer a história delas que foi negada. E história é memória. E memória é poder”, afirma Karuna de Paula, co-idealizadora do projeto.


Serviço:


Estreia do filme "Do Burkina Faso à Terras Quilombolas: um encontro pela oralidade"

Local: youtube.com/lauratamiana

Data: 29 de agosto, às 16h no Brasil e às 19h no Burkina Faso.

Realização: Terreiro Produções e Equinócio Produções com a parceria da Comissão Quilombola do Caroá, da Cia Les Murmures de la Forge e de Ba-kô Burkina Brasil.

Apoio: Prefeitura Municipal de Carnaíba.

Apoio para o lançamento: Dupla Comunicação.

Incentivo: Funcultura - Governo do Estado de Pernambuco

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