sábado, 17 de dezembro de 2022

Pernambucano idealizador do 'Projeto Invasão’ aposta alto para multiplicar sonhos através do funk



O recifense José Otávio de Queiroga Maciel Júnior, mais conhecido como Empresário Queiroga, começou a vida de forma não muito diferente da maioria dos brasileiros.
Filho de uma família sem muitos recursos, ele enfrentou, durante a infância e adolescência, as mais diversas dificuldades, sobretudo, financeiras. Hoje, aos 42 anos - após mais de duas décadas de trabalho árduo - tornou-se empresário e investidor. Mas ao contrário do que muitos possam pensar, o empreendedor continua a trabalhar duro, agora, “em prol da música, dança, esporte e comunicação das favelas” da Região Metropolitana do Recife (RMR), onde ele tem promovido a multiplicação de sonhos através do Projeto Invasão. .

Durante a infância em Palmares, Zona da Mata Sul de Pernambuco, Quei acompanhou a luta da  mãe feirante e do pai, coordenador de funcionários de engenho, para sustentar a família. Ainda garoto, ele começou a ajudar a matriarca da família no comércio popular, mesmo indo contra ao pai, que fazia questão que ele e os irmãos apenas estudassem. “Eu ia com a minha mãe para a feira - ela vendia calcinha, sutiã, essas coisas. Eu ficava chamando os clientes, inventando coisa, colocava calcinha na cabeça. No fim da feira eu tava em cima dos balaios dormindo, cansado”, relembra aos risos.

De lá para cá, sempre com espírito de independência e vontade de vencer, o agora empresário passou por diferentes atividades. De colocar pessoas para vender frutas na feira, para que pudesse juntar dinheiro para brincar o Carnaval quando adolescente, a dar continuidade aos negócios do pai, já adulto. Nesta última, aproveitou para aprender a comandar uma empresa, indo das funções mais primárias às do mais alto escalão. “Eu cheguei lá achando que ia ser uma tranquilidade, o filho do dono, né? Mas ele me botou pra fazer de tudo: carregava caixa, falava em carro de som. Primeiro, eu perguntava: ‘Mas só tem eu para fazer as coisas aqui, por que?”, relembra. A resposta veio três anos mais tarde, quando o patriarca passou ao filho a liderança do negócio.

PROJETO INVASÃO

Em 2020, procurando alternativa à problemática da pandemia do coronavírus, que atrapalhou os rendimentos dos negócios, Queiroga mirou na arte e no entretenimento. O empresário montou um elenco com mais de nove artistas de diferentes comunidades recifenses - entre eles Vilão da Norte, Matheus Perverso, o próprio MC Anjo e MC Louco, entre outros. Além de produzir muito funk consciente, brega funk, e trap funk, o grupo vem desenvolvendo ações sociais nas favelas da capital e já chegou a apresentar-se no encerramento do projeto Libertas, vinculado à Organização das Nações Unidas (ONU). “Pra gente foi muito importante. Todos ganharam certificados e é muito forte o favelado estar lá no quadro da ONU, é um orgulho, é mérito.”

O custeio do projeto ainda vem apenas da renda própria do empresário, que estima já ter investido cerca de R$ 1 milhão nos últimos dois anos. Atualmente, a iniciativa atende diretamente 40 famílias. Além dos artistas, o time conta com motoristas, assessoria jurídica e de comunicação, designers e equipe de foto e vídeo.

O objetivo maior é atuar em frentes como distribuição de renda justa, geração de emprego e dignidade para os moradores das comunidades. “O favelado só precisa de uma coisa na vida: esperança. Às vezes a pessoa vai lá e tira a esperança dele. Com respeito, compreensão e colaboração, a gente consegue transformar dificuldade em oportunidade. A gente vai tocar nos corações certos pra fazer coisas grandiosas”, diz.

Para isso, o empresário, que também já foi morador de favela, quer que o trabalho cresça ainda mais para que os frutos sejam  compartilhados de forma coletiva. “No meu ponto de vista é muito simples cuidar de uma comunidade, o que não há é interesse de pessoas que não têm esse objetivo. Mas essa realidade está mudando. A gente tá apostando nesse modelo de valores humanos. Eu falo de construção, colaboração, e multiplicação de sonhos”. Com otimismo e muita positividade, o empresário até brinca: “A Europa é muito bonita mas ainda não me arrancou da favela. Ooobaaa!

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