O fracasso da seleção brasileira na Copa do Mundo de 2022 fez despencar a avaliação do técnico Tite. Criticado por algumas de suas escolhas no Qatar especialmente no jogo da eliminação, nas quartas de final, contra a Croácia, ele deixa o cargo com sua pior avaliação, segundo o Datafolha.
O instituto vem questionando, ao longo dos últimos cinco
anos, o parecer dos brasileiros a respeito do desempenho do gaúcho à frente do
time nacional. Nunca as respostas foram tão desfavoráveis ao profissional
quanto as dadas no mais recente levantamento.
Terminado o Mundial deste ano, apenas 29% consideraram o
trabalho do treinador de 61 anos bom ou ótimo. Foram 38% os que classificaram a
atuação do comandante como ruim ou péssima. "Regular" foi a resposta
de 26%, e 7% não souberam responder.
O Datafolha ouviu 2.026 pessoas de 16 anos ou mais, em 126
municípios, nos dias 19 e 20 de dezembro. A margem de erro da pesquisa é de
dois pontos percentuais, para mais ou para menos, dentro do nível de confiança
de 95%.
O mais novo levantamento apontou uma queda brusca na
aprovação de Tite, que chegou a ter seu desempenho considerado bom ou ótimo por
64%. Isso ocorreu às vésperas do Mundial de 2018, após campanha de excelente
aproveitamento nas Eliminatórias.
A queda nas quartas de final na Rússia levou parte do prestígio
do técnico, que, no entanto, teve seu emprego mantido pela CBF (Confederação
Brasileira de Futebol). Um treinador não ficava na seleção após a derrota em
uma Copa desde 1978, com Cláudio Coutinho.
De contrato renovado há quatro anos, o gaúcho respondeu
levando o Brasil à conquista da Copa América de 2019 e a uma campanha recorde
nas Eliminatórias. Na Copa América de 2021, ficou com o vice-campeonato, com
derrota para a Argentina na final.
O desempenho sólido credenciou a seleção como uma das favoritas
ao título na Copa do Mundo e voltou a elevar o apreço dos brasileiros pelo
treinador.
Em julho, 47% consideravam o trabalho bom ou ótimo, salto
considerável em relação aos 37% que deram essa resposta em dezembro de 2019.
O fracasso no Qatar, no entanto, fez Tite deixar a equipe
nacional com sua pior avaliação. Os 38% que classificaram sua atuação como ruim
ou péssima são, de longe, o número mais alto da série. Em 2019, momento que era
o de maior desconfiança, os descontentes eram 16%.
O julgamento é mais severo entre os que declaram ter votado
na eleição presidencial em Jair Bolsonaro (PL), por quem, não esconde, o
técnico não tem apreço. Entre aqueles que apertaram 22 na urna só 24%
consideraram o desempenho do comandante bom ou ótimo; 44% acharam ruim ou
péssimo.
Já entre os que ajudaram a eleger Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) a aprovação é de 32%, com 36% descontentes. A diferença é notável mesmo se
levada em conta as margens de erro de cada estrato -três pontos percentuais
para os eleitores de Lula, quatro pontos percentuais para os eleitores de
Bolsonaro.
De maneira geral, o resultado do Datafolha é retrato da
visão de que o gaúcho fez escolhas ruins no Mundial. Uma delas foi a convocação
do lateral direito Daniel Alves, 39, que foi chamado por sua boa relação com os
companheiros e só esteve em campo quando o jogo não valia nada.
Diante da Croácia, sem seus dois laterais esquerdos,
machucados, o técnico decidiu improvisar o lateral direito Danilo do outro
lado. Isso abriria espaço para Daniel, mas a opção foi por outra improvisação
na direita, com o beque Éder Militão.
Tite também foi criticado pela insistência com o atacante
Raphinha, que não fez uma boa Copa -e deu uma das declarações mais infelizes do
torneio, dizendo que não precisava ver Messi e Mbappé. Algo parecido com o que
fizera em 2018 com Gabriel Jesus.
O treinador também foi alvo de censura por ter abandonado o
campo assim que acabou a disputa de pênaltis com a Croácia, sem oferecer apoio
aos atletas. Explicou que sempre sai do gramado rapidamente, nas vitórias e nas
derrotas, mas a atitude não foi positiva para sua imagem.
Assim, após dois bons ciclos, com ótimas campanhas nas
Eliminatórias, seguidas de frustração e elimina
ção nas quartas de final do Mundial, Tite deixa a seleção
com uma avaliação ruim. Algo que, logo após a queda, em Al Rayyan, ele afirmou
compreender.
"Dividimos a alegria, dividimos a tristeza. O tempo
pode responder melhor", disse. "Não tenho condição de avaliar todo o
trabalho realizado. Com o passar do tempo, vocês farão essa avaliação. Não
tenho essa capacidade agora depois de uma eliminação."
MARCOS GUEDES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
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