terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Amantes de Glória completa 25 anos de tradição no Carnaval do Recife

 


Quando o assunto é Carnaval do Recife, não há como deixar de citar o Amantes de Glória, parada obrigatória e uma das mais aguardadas agremiações na folia da Capital pernambucana. Em 2022, mais um ano sem os dias de folia, o bloco completa 25 anos renovando a saudade de voltar a fazer sua brincadeira de desbravar sem rumo as ruas do centro da Cidade, à revelia dos desejos de sua musa, repetindo o lema ao folião desavisado: na dúvida, “siga o estandarte!”

Mas para entender os mistérios de Glória, é preciso saber como tudo começou. Em 1996, um grupo de amigos estudantes da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) resolveu marcar um ponto de encontro após às aulas, todas as segundas-feiras, para assistir à sessão de arte do Cine Veneza, que funcionava na Rua do Hospício, na região central do Recife. Em seguida, eles sempre procuravam algum bar para se reunir, beber e conversar sobre os filmes. E nessa época isso não era exatamente uma tarefa fácil.

“Era a maior dificuldade porque não tinha tantos bares abertos nas segundas. Um amigo nosso indicou um bar na Boa Vista, por trás do Colégio Salesiano, chamado Stylettus. Lá a gente construiu uma ótima relação com os donos e passamos a sempre ir do cinema para o bar. Com o tempo, fomos diminuindo a ida para o cinema e passamos a ir só para o bar. Em 1997, tivemos a ideia de fazer um bloco de carnaval”, lembra Paulo Aguiar, um dos fundadores e, como ele mesmo se autoproclama, rei da agremiação, “eleito democraticamente”. 

A resenha é a seguinte: segundo seus integrantes, o modelo de gestão do bloco é de monarquia anárquica democrática. Paulo Aguiar e Marinita Neves, fundadores e grandes amigos, são rei e rainha eleitos e jamais destronados, em uma sociedade utópica carnavalesca onde regras são proibidas e todas as decisões são tomadas de forma coletiva. Deu para entender? Nem precisa, é pura brincadeira! 

As versões sobre a origem do nome Amantes de Glória são muitas e, para o bem do mistério dessa ‘musa’, é melhor não tentar diferenciar fatos de lendas. “É a rainha do reino da Gamela que vem na época de Momo e flecha as pessoas que se tornam suas súditas. E os nossos percursos ela vai traçando à medida que a gente vai andando. E uma das características da gente é não saber exatamente por onde [o bloco] vai passar. E isso não é piadinha não, é real e oficial”, garante o jornalista e vereador Ivan Moraes, um dos mais antigos amantes da musa.

Já o rei Paulinho tem uma versão diferente. “Amantes de Glória vem por conta do cinema. Tem um filme (espanhol) que a gente assistiu chamado ‘Ninguém falará de nós quando estivermos mortos’ e tem uma personagem chamada Glória, interpretada por Victória Abril, uma mulher extraordinária. A gente ficou muito feliz com a interpretação dela e meio que apaixonados por ela, todos e todas. E aí colocamos esse nome”, garante. 

“Porém, existem várias versões. A gente já ouviu muita história engraçada sobre o nome. E aí a gente deixou de se preocupar tanto e começou a dizer que Glória é quem você quiser, cada um que vai para o Bloco encontra sua explicação para o que ou quem é Glória”, brinca.

Amantes de Glória e a cidade

A relação do bloco com o centro do Recife se tornou umbilical. Ao mesmo tempo que o Amantes de Glória descobre a Cidade, a Cidade se apropria de seu carnaval. Originalmente, o bloco se concentrava na rua do Colégio Salesiano, mas como cresceu muito, passou a se concentrar na Praça Maciel Pinheiro, na prévia, e na Rua da Guia, na segunda-feira momesca. 

“A gente foi firmando e começou a ter uma participação mais efetiva nas prévias. E foi uma coisa muito bonita porque foi um resgate do carnaval da Boa Vista, foi algo muito legal ouvir isso até da própria população, sobre a importância do Amantes pra a movimentação do bairro e, a partir disso, surgem outras agremiações”, explica Paulo.

“É um espaço de alegria plena. Foi o primeiro bloco de frevo de rua a sair no Recife Antigo, que era marcado mais pelos blocos líricos. E uma oportunidade muito massa da gente poder ver o Recife de outros lugares, de outros ângulos. O bloco faz a prévia na Boa Vista, naquele centro comercial e há muito tempo ele sai do Recife Antigo e vai logo para o bairro de São José e é uma coisa desbravadora”, conta Ivan.

Campanha

Apesar de ter tomado grandes proporções de público, o Amantes de Glória pretende manter a ideia de não ser um bloco com objetivo comercial. “A gente tem muito orgulho disso, de fazer parte do carnaval, construir e botar um bloco na rua com a nossa filosofia, que é muito simples mas a gente não abre mão. Nós somos uma troça de carnaval, tocamos frevo na rua e sem dinheiro. A gente não quer nem dinheiro público nem privado. Então, tudo que a gente faz é vender as nossas camisas ou fazer algum bingo, contribuição dos próprios integrantes e das pessoas que querem ajudar o carnaval”, reforça Paulo, que lembra que todo o dinheiro arrecadado é destinado à orquestra do maestro Lessa, que faz a festa acontecer.

Neste ano, por não haver desfile em razão da pandemia, o bloco está mobilizado na vendas de camisas, que custam R$50 e podem ser adquiridas no restaurante Ôro e na Casa Balaio, com renda revertida para o maestro Lessa e sua orquestra, que acompanham o bloco – garantindo que o músico posa receber o valor combinado para as apresentações que faria no Carnaval. ”Lessa é uma grande figura e tem um carinho e respeito e entende a nossa filosofia que é essa: carnaval na rua, de graça, tocando frevo bem interpretado e da melhor qualidade”, define Paulo.

Fonte: Folha de PE

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