A Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, um dos principais eventos do país voltados para a proteção dos direitos religiosos, é convocada anualmente por duas entidades: o Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP), que desde 1989 atua na promoção da cultura negra como forma de combate ao racismo e à intolerância religiosa, e pela Comissão de Combate à Intolerância Religiosa do Rio de Janeiro (CCIR), fundada em 2008, inicialmente por umbandistas e candomblecistas, mas que hoje agrega representantes das mais variadas crenças. A CCIR é única no mundo por reunir adeptos de diversas religiões em sua composição.
Esta edição contou com dois momentos. O primeiro foi um café da manhã para convidados em um hotel no mesmo bairro, com a presença de figuras de destaque, como a ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo, em sua primeira agenda pública. Também estiveram presentes Magda Chambriard, presidente da Petrobrás, Clarice Coppetti, diretora da Petrobrás, José Maria Rangel, gerente executivo de Responsabilidade Social da Petrobrás, Maíra Junqueira, da Fundação Ford, Kellen Julio, diretora de Inovação e Diversidade de Conteúdo dos Estúdios Globo.
Além de intelectuais negros como Renato Noguera e Helena Theodoro, Cristina Fernandes e Mariana Fidalgo Fernandes Warth - a Editora Pallas, acadêmicos, lideranças religiosas, movimentos sociais, defensores dos direitos humanos, membros do Ministério Público, a deputada federal Benedita da Silva (PT), o ator Antônio Pitanga, João Jorge, presidente da Fundação Palmares (mesmo em férias, fez questão de comparecer), e lideranças internacionais como Jokotoye Awolade Bankole, chefe da família real de Onpetu, em Ogbomosho (Nigéria), e o Babalawô Dayo Awe, entre outros.
"O grande desafio hoje, no nosso país, é a redução das desigualdades. Para mim, é muito importante estar presente nessa caminhada porque, além do direito à liberdade religiosa, todas essas pessoas também lutam por muitas outras causas: contra a fome, pelo trabalho decente e por uma política de cuidado, que talvez seja a principal pauta das nossas comunidades. Cuidar das crianças, que muitas vezes estão no trabalho infantil. Cuidar dos direitos da população idosa. Cuidar de quem cuida. E, na maioria das vezes, quem cuida são as mulheres", disse Macaé Evaristo. A ministra recebeu do Prof. Ivanir o Plano Nacional de Combate à Intolerância Religiosa.
Para o Babalawô Ivanir dos Santos, interlocutor da CCIR - "Somos responsáveis e embaixadores do diálogo, é preciso agir para construir uma sociedade mais justa e em defesa da liberdade religiosa e do Estado laico, provocando reflexões em prol do fortalecimento das bases democráticas". O sacerdote, reverenciado internacionalmente por sua atuação incansável há mais de 40 anos em causas de direitos humanos e na luta contra o racismo e a intolerância religiosa, é Babalawô, professor do Programa de Pós-graduação em História Comparada da UFRJ, interlocutor da CCIR e fundador do CEAP.
O segundo momento da caminhada começou com a concentração dos participantes às 10h, no Posto 5 de Copacabana. Por volta das 13h, teve início a caminhada pela orla. No início da tarde, a ministra Macaé Evaristo foi recebida com aplausos e reafirmou o compromisso do governo em combater a intolerância religiosa. - "É uma alegria estar aqui, nesta caminhada que tem um sentido muito bonito de pacificação e defesa do direito que todas as pessoas têm à sua fé e à sua relação com o sagrado. Que nesta caminhada tranquila possamos construir uma comunidade que lute pelo respeito e pela diversidade religiosa. Contem com o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania para assegurar que nosso Estado seja laico e respeite cada uma das religiões", afirmou a ministra.
A caminhada recebeu caravanas vindas de outros estados, além de representantes da OAB, ABI, entidades públicas e privadas, políticos, religiosos de diversas crenças, com grande presença de adeptos de religiões de matriz africana — que são os maiores alvos de intolerância religiosa —, evangélicos, católicos, budistas, muçulmanos, judeus, wiccanos, hare krishnas, ciganos, entre outros.
A concentração foi aberta com uma "ladainha", conduzida por dez grupos de Folia de Reis e Reisados, além de apresentações de grupos culturais como o Bloco Filhos de Gandhi, Grupo Cultural Afro Tafaraogi, Associação Cultural Bloco Carnavalesco Orunmilá, Grupo Afro Agbara Dudu, Jongo Filhos de Benedito, entre outros. Durante todo o trajeto, discursos de representantes religiosos.
Segundo Padre Gegê, pároco na Paróquia Santa Bernadete, psicólogo e mestre em teologia (PUC-RIO) e Doutor em Ciência da Religião (PUC-SP), a atividade é de grande importância. "A Caminhada foi para mim e para os membros de minha paróquia um momento singular de afirmação da diversidade. Reverberou (e reverbera) o protagonismo das Comunidades de Terreiros na construção de um mundo de justiça e paz. Como sacerdote católico leio na Caminhada o sonho bonito do Papa Francisco. Mesmo se não fosse religioso, se não acreditasse em Deus, ainda assim teria a Caminhada como extraordinária ferramenta para a construção de um Brasil democrático e plural".
No meio da tarde, o evento contou com show da cantora Rita Benneditto, do cantor evangélico Kleber Lucas e do músico Thiago Thomé, encerrado com a Bateria da Mangueira. A atividade teve apoio de três trios elétricos e diversas apresentações culturais, que trouxeram ainda mais energia ao evento, encerrando o dia com muita música, alegria e harmonia. Segundo a organização, as expectativas foram superadas, recebendo em torno de 80 mil pessoas.
Respeitar as crenças do outro é reconhecer a jornada espiritual individual e coletiva. Axé, Amém, Saravá, Shalom, Om Shanti, Aleluia, Namastê, Salaam Aleikum.
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