“A letra de ‘Cavalo de Tróia’ é, de certa forma, um diálogo entre dois lados, duas versões de mim mesmo: uma que está mais presa a velhos hábitos e preconcepções sobre si própria, e uma que está disposta a crescer, evoluir e se abrir para o novo. Nesse diálogo, essa segunda versão está sempre tentando mostrar uma visão estóica da vida, mostrando que o sofrimento é algo absolutamente natural, mas que isso não deve ser um impeditivo na busca por felicidade genuína, amor, realizações, etc.”, descreveu Victor.
A metáfora “cavalo de troia” para Victor, no entanto, tem outro significado. Tradicionalmente visto como símbolo de traição (um presente com intenções malignas e ocultadas), nesta canção “cavalo de tróia” é relacionado ao poder das artes de atrair e envolver sem que sua mensagem lírica e musical seja percebida superficialmente, sendo apenas decifrada com o aprofundamento. A canção usa a metáfora também para expressar o momento de abertura a novas possibilidades que o artista enfrentava durante o período da composição.
A simbologia da letra de “Cavalo de Tróia” se estende para sua capa, desenvolvida pelo artista plástico Brasil Goulart. O resultado é fruto de uma troca de reflexões e referências entre os artistas. “Concordamos que ele teria que aparentar como algo rústico, para fugir das representações tradicionais do mito do Cavalo de Tróia como um objeto perfeitamente construído. Ao mesmo tempo, eu queria que o cavalo fosse um símbolo de vida, de florescimento de coisas novas. Foi aí que o Brasil teve a ideia de imaginar o cavalo não como algo construído por mãos humanas, mas sim como uma árvore, algo que naturalmente emergiu do solo naquele formato”, contou Victor.
Musicalmente, “Cavalo de Tróia” é plural e, com isso, evidencia a originalidade de Victor. A influência de Lenine é intensa (música pernambucana e rock). Também no arranjo há a interferência estrutural de Chico Science e Nação Zumbi, dos ritmos côco, baião, maracatu de baque virado. “Acredito que a ‘Cavalo de Tróia’ se torna original por combinar a força dessas percussões com um estilo de escrita melódica que é uma mescla de várias influências”, disse ele.
O single composto em 2012 vem de um período musicalmente e emocionalmente marcante na vida de Victor. À época, ele se desprendia, de certa forma, da adolescência dedicada ao rock e heavy metal e se abria à música brasileira como novo gosto musical, com Lenine e sua fusão de música pernambucana com influências internacionais. “Além disso, no momento em que compus a canção eu estava em um período de me abrir novamente para relacionamentos depois de ter passado por um namoro que havia sido traumático. De certa forma a letra reflete esse momento, de uma busca pessoal por reabertura”, disse.
“Cavalo de Tróia” é a faixa-título do primeiro EP de Victor Camilo, com previsão para ser lançado ainda neste 2024. Serão incluídas quatro canções, com temáticas e desenvolvimento musical convergentes entre si. “O EP está repleto de mesclas entre música brasileira e rock, e letras bastante reflexivas, com um pé no estoicismo.”, contou Victor.
Sobre Victor Camilo
“Se tivesse que escolher uma palavra para me definir musicalmente, seria hibridismo”, diz Victor Camilo, paulistano nascido em 1990 e desde 2021 residente em Glasgow (Escócia). Seu envolvimento musical começa aos 12 anos, sob influência da banda brasileira Angra. A partir de então, estudou diversos instrumentos e tentou formar bandas ao longo da adolescência.
Porém, em 2009 tornou-se vocalista da Keepsie, banda de heavy metal do ABC Paulista, com a qual se profissionalizou na música e gravou um EP. Neste período, teve seu primeiro emprego, como professor de canto, e entrou para faculdade de música (2011-2016). Em 2012, deixou a Keepsie, amadurecendo-se profissionalmente ao atuar em diversas funções, como compositor, produtor, guitarrista e organizador de eventos.
Victor se tornou guitarrista da banda de indie rock The Creamy Lips assim que se mudou para o Reino Unido. Como instrumentista do grupo, viveu diversas experiências, entre elas, a oportunidade de realizar em 2023 uma turnê pela Escócia. Após uma dissolução da formação da banda, deu início à sua carreira solo. Também iniciou outra banda de rock (Borderland Crow), com colegas também advindos da The Creamy Lips. Em paralelo, Victor passou a tocar na noite da Escócia.
O artista chegou ao Reino Unido para ser mestrando em Estudos da Música Popular. Concluída a etapa, conseguiu uma bolsa de pesquisa e realizou um projeto de pesquisa sobre shows musicais virtuais. Atualmente, aguarda o resultado de um processo seletivo para doutorado. Sua pretensão é unir carreira acadêmica e artística.
Ficha técnica
Victor Camilo: Composição, voz, violão, guitarra, baixo, bandolim, gravação, mixagem
Jordan Ferguson: Percussões
Kaneo Ramos: Masterização
Brasil Goulart: Arte de capa
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