Quem faz o alerta é Marco Brotto, conhecido como O Caçador da Aurora Boreal, que já liderou 180 expedições bem-sucedidas pelo Ártico e se dedica há mais de uma década a educar sobre o fenômeno. Para ele, imagens artificiais criam expectativas incompatíveis com a realidade e podem gerar frustração nos viajantes, além de prejudicar o turismo responsável.
“Quando uma produção usa aurora artificial, ela altera o imaginário do público. A pessoa viaja esperando algo que não existe. A verdadeira aurora boreal é extremamente poderosa justamente porque é imprevisível e natural e essa verdade não pode ser substituída por efeitos gerados por IA”, afirma Brotto.
Nos últimos anos, o turismo de observação da aurora boreal cresceu mundialmente, impulsionado por filmes, séries e redes sociais. Mas, segundo Brotto, a popularização de imagens não reais traz dois desafios importantes:
1. Frustração e impacto na experiência do viajante
Auroras criadas por IA costumam parecer mais saturadas, simétricas e constantes do que o fenômeno real. Para quem chega ao ártico com a expectativa errada, a experiência pode ser comprometida.
“A Aurora Boreal muda o tempo todo. Ela pode ser suave, intensa, dançante ou quase imperceptível. Parte da beleza está exatamente nisso. Quando uma obra apresenta algo ‘perfeito demais’, ela entrega uma fantasia, não ciência”.
2. Riscos ao turismo sustentável e à cadeia que vive do fenômeno
Quando o público perde referência da realidade, há impactos diretos na credibilidade do turismo e nos milhares de profissionais que dependem dele, de guias a hotéis, pesquisadores e toda a cadeia local.
“Trabalhamos com um fenômeno natural. Nosso compromisso é com a verdade e com a segurança. Produções que usam auroras falsas acabam interferindo na forma como o mundo entende o ártico e suas fragilidades.”
Brotto reforça que não é contra o uso de tecnologia no audiovisual. Ele reconhece o valor artístico, mas defende que o público seja informado quando a obra utiliza fenômenos artificiais. “A arte pode e deve criar. Mas o turismo vive da confiança. E a confiança nasce da transparência”.

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