sexta-feira, 25 de junho de 2021

NATURA MUSICAL APRESENTA “SANKOFA”, TERCEIRO ÁLBUM DE AMARO FREITAS

“Jamais esquecerei quando encontrei Amaro Freitas pela primeira vez. Eu trabalhava como diretor da Montreux Jazz Academy, que reunia alguns dos melhores músicos de todo o mundo. Amaro foi o último a se juntar a nós. Quando  sentou ao piano, o tempo parou. Ele tocou e tocou, e cada nota crescia e gerava novas possibilidades, histórias dentro de histórias. A amplitude de execução e o dinamismo emotivo me preencheram de luz. O que eu ouvia ali era Sankofa encarnado, uma expressão de importância do resgate, no presente, de conhecimentos adquiridos no passado. Suas mãos carregavam histórias e verdades em cada frase. ‘Sankofa’ seria sua última oferenda na jornada em direção à grandeza. Um rei.”, comenta o trompetista Christian Scott Atunde Adjuah 

De uma periferia do Recife à promessa de ícone internacional do jazz, o pianista Amaro Freitas é um desses singulares casos de aclamação da crítica desde seu álbum de estreia, feito de quem tem a revolução na ponta dos dedos. Em seu caso, fazendo o jazz dançar com frevo, baião e outras riquezas dos ritmos nordestinos sem pisar-lhes os pés. O posto de revelação do jazz internacional por "uma abordagem do teclado tão única que é surpreendente" (Downbeat) com o primeiros álbuns “Sangue Negro” (2016) e “Rasif” (2018), inaugurou a parceria com a gravadora inglesa FarOut. Nos últimos anos, Amaro circulou por turnês no Brasil  e exterior, em festivais como a edição nacional do Montreux Jazz Festival,  e parcerias com Lenine (no projeto “Em Trânsito”) e Milton Nascimento e Criolo (é de Amaro o piano em duas faixas do EP “Existe Amor”: “Cais” e “Não Existe Amor em SP”).  

Pois seu novo álbum, “Sankofa”, que tem patrocínio da Natura Musical e realização da 78 Rotações Produções, é uma busca espiritual por histórias esquecidas, filosofias antigas e figuras inspiradoras do Brasil Negro.  Para Amaro trabalhar não é apenas tocar piano, sua arte vai muito mais fundo do que a teoria e a prática da música. Explicando o ímpeto por trás de “Sankofa”, ele elucida: “Trabalhei para tentar entender meus ancestrais, meu lugar, minha história como homem negro. A história dos povos originários, das diversas etnias que ocuparam este território, de como somos plurais. O Brasil não nos disse a verdade sobre o Brasil. A história dos negros antes da escravidão é rica em filosofias antigas. Ao compreender a história e a força de nosso povo, pode-se começar a entender de onde vêm nossos desejos, sonhos e vontades.”

Sankofa é um símbolo Adinkra -  conjunto de símbolos ideográficos dos povos acã, da África Ocidental -, que representa um pássaro com a cabeça voltada para trás. Quando se deparou com ele em uma bata à venda em uma feira africana no Harlem, Nova York -  bairro que historicamente foi palco de grandes pianistas do jazz como Thelonius Monk e Art Tatum -, compreendeu a importância do seu significado e fez dele o conceito fundamental para o seu novo álbum.

“O símbolo do pássaro místico, que voa de cabeça para trás, nos ensina a possibilidade de voltar às raízes para realizar nosso potencial de avançar. Com este álbum quero trazer a memória de quem somos e homenagear bairros, nomes, personagens, lugares, palavras e símbolos que vêm de nossos antepassados. Eu quero comemorar de onde viemos”, diz Amaro.  Com a colaboração de Jean Elton (baixo) e Hugo Medeiros (bateria), que formam o Amaro Freitas Trio desde seu início, ele emprega intrincados padrões rítmicos e variações de compasso como se resignificasse os signos antigos de seus ancestrais. Cada faixa é imbuída de uma mensagem ou uma história que o pianista é compelido a contar.

“Baquaqua” destaca a história raramente contada do africano Mahommah Gardo Baquaqua, que foi trazido para o Brasil como escravo, mas fugiu para Nova York em 1847, onde aprendeu a ler e escrever. Sua autobiografia foi publicada pelo abolicionista americano Samuel Moore e hoje é o único documento conhecido sobre o comércio de escravos escrito por um ex-escravo brasileiro. Ja a delicada “Vila Bela” leva o nome de uma área próxima à fronteira com a Bolívia, na região de Mato Grosso, onde  Tereza de Benguela, rainha quilombola do século 18, liderou a comunidade negra e indígena na resistência à escravidão por duas décadas. “Nascimento” é uma homenagem calorosa a Milton, que Amaro vê como um talismã da cultura negra brasileira contemporânea. E lembra de seu encontro com ele e Criolo: “Foi uma experiência inesquecível. Milton é amor, leveza, arte e memória. “Ayeye”, o momento mais alegre de “Sankofa”, significa celebração em iorubá e apresenta um piano lindo e vibrante e uma batida de baixo repleta de groove, por vezes soando tanto como um hit de D'Angelo ou Alicia Keys quanto Bill Evans ou Thelonious Monk.Batizado em homenagem ao boi mítico da região tropical do Maranhão, “Cazumbá” expressa a conexão norte / nordeste de um Brasil negro, indígena e caboclo, que através da manifestação cultural popular dialoga com a vida da floresta amazônica, citada no trecho incidental do tema, mas também nos leva a refletir sobre o quão urbanas são as suas cidades, partindo para um groove jazz rock. “Cazumbá” é o nosso anseio de pensar na sustentabilidade do Brasil e do mundo.  

Essas pessoas, lugares e histórias são o ponto de partida de Amaro. “Eu começo com teorias e ideias, mas então a emoção se derrama nas notas e se transforma em música.” Entre suas influências estão a sua origem nos cantos líricos da igreja evangélica, o jazz e os ritmos da tradição nordestina, como baião, ciranda, maracatu, coco e frevo.  Mas, como o pássaro Sankofa, olhando para trás, a música de Amaro é fundamentalmente contemporânea. “É uma continuação, se conecta com as pessoas hoje e representa o que está acontecendo em 2021.”

Como todos os álbuns de Amaro, “Sankofa” levou cerca de três anos para ser feito, com o trio passando oito horas por dia, quatro dias por semana no estúdio. “Valorizamos o processo criativo. Sabemos que leva tempo para chegar a um lugar diferente, para entendê-lo e traduzi-lo. É dedicação, disciplina e sabedoria. Meses se passam e as ideias começam a se encaixar. O tempo é o mais importante. Não podemos chegar onde queremos sem ele. Tenho o desejo de dizer às gerações futuras: vamos desacelerar, vamos nos dar mais tempo, vamos fazer coisas mais profundas. Vamos parar de nadar na superfície, vamos mergulhar.”

“O futuro que queremos construir é coletivo.Com a música, somos capazes de chegar a um lugar comum, respeitando a diversidade. Os artistas, bandas e projetos de fomento à cena selecionados por Natura Musical trazem a mensagem de que o futuro pode ser mais bonito com a música e com envolvimento de cada um de nós”,  completa Fernanda Paiva, gerente de Marketing Institucional da Natura. 

Sobre Natura Musical

Natura Musical é a principal plataforma de patrocínio da marca Natura. Desde seu lançamento, em 2005, o programa investiu cerca de R$ 143 milhões no patrocínio de 460 projetos - entre CDs, DVDs, shows, livros, acervos digitais, documentários e projetos de fomento à cena. Os trabalhos artísticos renovam o repertório musical do País e são reconhecidos em listas e premiações nacionais e internacionais. Em 2019, o edital do programa selecionou 41 projetos em todo o Brasil. A plataforma digital do programa leva conteúdo inédito sobre música e comportamento para mais de meio milhão de seguidores nas redes sociais. Em São Paulo, a Casa Natura Musical se tornou uma vitrine permanente da música brasileira, com cerca 120 shows ao longo de 2019.



Créditos


Amaro Freitas - Piano


Hugo Medeiros - Bateria e Percussão


Jean Elton - Contrabaixo



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