Em sua live de estreia, Zeca Pagodinho se deu muito bem. Foi
uma das melhores feitas por grandes artistas nos últimos 50 dias, quando o novo
coronavírus atingiu de cheio o país e passou a manter os brasileiros dentro de
casa.
Mesmo quem não é do samba ou do pagode teve motivos para
curtir a live em homenagem ao Dia das Mães, às 13h deste domingo, em seu canal
do YouTube. Programada para ter uma hora e 15 minutos, o artista se estendeu e
cantou até as 14h30, chegando a cerca de 20 músicas.
"Ofereço esta live a todos as mães do Brasil,
especialmente à minha", disse o cantor, de camisão vermelho com bolas e
listras brancas. O maior trunfo da apresentação, no entanto, independeu de
Pagodinho. É que a Brahma montou uma boa estrutura ao ar livre, em um espaço
não identificado, talvez o jardim do condomínio do apartamento de Zeca na Barra
da Tijuca.
As lives da empresa seguiriam durante a tarde e a noite do
domingo, com Edson & Hudson, Daniel e Zezé di Camargo & Luciano, mas
não seriam gravadas no mesmo local.
Ver o sol batendo em uma dúzia de palmeiras atrás da banda
de cinco músicos, bem afastados entre si, foi um respiro inesperado e bem-vindo
nas lives que até então aconteciam enfurnadas em ambientes fechados, em
estúdios ou casas dos artistas.
Uma das primeiras canções foi "Não Sou Mais
Disso", com sua letra esperta: "Eu deixei de ser pé-de-cana/ Eu
deixei de ser vagabundo/ Aumentei minha fé em Cristo/ Sou bem-quisto por todo
mundo". Jorge Aragão pediu "Mutirão de Amor" e Maria Rita,
"Coração em Desalinho".
Não faltou, é claro, "Patota de Cosme" e
"Deixa a Vida Me Levar", essa tocada antes do medley final. E cantou
também a bela "O Sol Nascerá", que começa com frase em ordem
invertida, no melhor estilo melancólico do mestre Cartola: "A sorrir/ Eu
pretendo levar a vida/ Pois chorando/ Eu vi a mocidade perdida".
Zeca não apresentou a banda, mas deverá ter outra
oportunidade para isso, já que aprovou o formato. "Foi bem legal, acho que
vou topar fazer outro", disse ao se despedir.
Assim, como a estrutura geral foi boa, o ponto fraco do show
também foi culpa da cervejaria. Não satisfeita em colocar um logotipo enorme no
chão e espalhar geladeiras e barris com o nome de seus produtos, Zeca e o
apresentador Thiago Martins, além de alguns convidados que apareciam no telão,
não se cansavam de repetir agradecimentos ao "pessoal da Brahma".
Teve explicações sobre uma nova cerveja da marca, promoção
para dar uma geladeira cheia a quem postasse mais nas redes sociais, brindes e
frases quase idênticas repetidas pelos dois, como "Brahma Duplo Malte,
essa cerveja ficou incrível. Tudo que a Brahma faz tem qualidade, isso eu
garanto".
Tudo isso apesar de Zeca, curiosamente, não ter bebido uma
gota. Ou melhor, bebeu e disse que estava bebendo água. Até reclamou, brincando
que o povo nos prédios ao redor estava enchendo a lata, "e eu aqui de bico
seco".
Ao cantar "Maneiras", a pedido de Marcelo D2 no
telão, até trocou a letra. "Se eu quiser fumar, eu fumo/ Se eu quiser
beber, eu bebo" virou "não fumo" e "não bebo".
De positivo, louve-se a iniciativa de a empresa criar uma
linha de doações ao projeto Mães da Favela, feita a partir de QR Code que
esteve na tela o tempo todo. Para acessibilidade aos deficientes auditivos, a
apresentação teve tradutores de libras, que repetiam as letras de Zeca enquanto
ele cantava.
ESPECIAL DIA DAS MÃES - Zeca Pagodinho
Onde: Em seu canal no Youtube
Avaliação: Muito Bom
Fonte: Folha Press
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