quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Ouça “A Distância entre as cidades", primeiro trabalho do Década Explosiva, projeto do artista alagoano Marcos Cajueiro.



Com mais de quinze anos de carreira na música independente, seja à frente do saudoso duo eletrônico My Midi Valentine, ou como guitarrista e vocalista da banda de indie rock, Capona, Marcos Cajueiro é um talento colossal do agreste do segundo menor estado do Brasil. Esta parte do agreste se chama Arapiraca, outrora tida como a capital do fumo e presente na canção de Luiz Gonzaga, “O Torrado da Lili”, que exalta a qualidade do tabaco da região.

Pela alcunha de Decada Explosiva, Marcos retorna ao universo musical com o EP “A Distância Entre as Cidades”, lançado agora em todos os streams. “Esse nome Década Explosiva é em referência a uma coletânea antiga que pegou diversos hits românticos dos anos 1970, que tocava na rádio com tradução das músicas. E eu cresci ouvindo esses sons nas casas de parentes, que sempre tiveram essa coletânea em casa”, comenta Marcos. Sobre o nome do disco, ele explica: “Na época que fiz essas canções eu estava num relacionamento a distância, então é uma coisa concreta. Mas também tem uma obra do artista cearense José Leonilson, um bordado que tem a seguinte frase: se você sonha com nuvens, a distância entre as cidades, que gosto bastante e junta o nome do álbum com o nome da terceira faixa”.

O primeiro lançamento de Década Explosiva é um disco fácil de escutar. “Easy listening”, como dizem os nativos de língua inglesa. Fácil de gostar talvez o defina melhor, pois o disco requer atenção para ser apreciado em suas nuances, camadas, arranjos. É melódico e romântico com responsabilidade, dentro da realidade. Difícil traduzir ou etiquetar a música feita por Década Explosiva. Com influências que vão de Tom Jobim a My Bloody Valentine, passando pela música brasileira setentista, aquela que flertava com o jazz e a psicodelia. Muito do pop rock também está presente na obra. Boa parte das melodias vêm do rock sessentista dos Beach Boys e dos Beatles e fazem naturalmente ponte direta com o Clube da Esquina.  

Seja na melancolia contida nos acordes da guitarra de “1 + 1= 1”, nas percussões do pernambucano Gilú Amaral e nas poucas palavras jogadas ao vento no final. Há espaço para alusões cinematográficas a Emir Kusturica, em “Arizona Sonho”, canção que mescla português com inglês, junto a versos cantados com sotaque alagoano. Na faixa “Se você sonha com nuvens”, a veia indie rock aparece com mais sem vergonhice. A guitarra outra vez é o grande condutor da música com belos arranjos e riffs que parecem mais preocupados em causar conforto do que soarem pungentes ou agressivos. Na penúltima canção, intitulada “Década Explosiva Romântica”, nós temos talvez a faixa mais oriunda da música popular brasileira. Vale ressaltar que o título indica o norte de todo o disco, que é o romantismo presente nas belas trilha de novelas, nas madrugadas da rádio. Tudo isso é também reverenciado com muito respeito no álbum. Fechando o disco, “Raisa”, uma “bossa gaze”, misturando as diversas fases do projeto e do artista com maestria.

Por fim, “A Distância Entre as Cidades”, de Década Explosiva, é um retrato maduro, adulto e ousado de mais de quinze anos de música independente nordestina. E mesmo assim soa leve e otimista. O álbum foi gravado em Maceió (Estúdio Montana), Olinda (Toca do Lobo) e Fortaleza. Mixado e masterizado no estúdio Toca do Lobo (Olinda - PE). Quem assina a arte da capa e demais ilustrações é a artista cearense Raisa Christina. 

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