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Vazamentos se tornaram recorrentes na indústria fonográfica.
É cada vez mais comum ver, dias antes de lançamentos de álbuns, conteúdos
ilegais povoando a internet e pondo um fim à espera dos fãs de grandes
artistas.
Foi assim com Lady Gaga, que fingiu que nada havia
acontecido quando o primeiro single de seu novo CD, "Chromatica",
surgiu na internet antes mesmo de ser anunciado, no começo do ano. E
recentemente com Dua Lipa, que antecipou a estreia do disco "Future Nostalgia",
vazado na íntegra, também na esperança de espalhar alegria em meio à trágica
pandemia de coronavírus.
Outra diva pop, essa brasileiríssima, passou por situação
semelhante. Pabllo Vittar viu a segunda parte de "111" chegar à
internet antes de seu lançamento oficial, e o antecipou para a noite desta
terça-feira (24).
As primeiras quatro faixas de "111" já haviam sido
divulgadas no longínquo mês de outubro. "Flash Pose",
"Parabéns", "Amor de Que" e "Ponte Perra" foram
as escolhidas para dar o primeiro gostinho de um álbum que agora está
finalmente completo, com nove canções.
Brasileiríssima, aliás, parece ser um adjetivo que se
encaixa bem à carreira de Pabllo Vittar. Sem abrir mão das batidas baladeiras e
da influência trazida do pop internacional, a drag queen mais uma vez injeta
ritmos bem nacionais ao seu repertório, embora com menos força e qualidade do
que no antecessor "Não Para Não".
Mas nem por isso Pabllo Vittar deixa de acenar para o
mercado internacional –que tem acenado de volta para a artista brasileira,
prevista para integrar o line-up do festival californiano Coachella, adiado por
causa da Covid-19.
Ela canta em espanhol ao lado de Thalía, na dançante
"Tímida", e sozinha, na gostosa "Salvaje". Na primeira
parte de "111", também adotou o idioma para a pouco empolgante
"Ponte Perra".
O inglês ficou com "Flash Pose", uma faixa
dançante gravada ao lado de Charli XCX, que escancarou as portas do mercado
anglófono com glamour e mostrando a ambiciosa e legítima vontade de Pabllo
Vittar de tomar o mundo.
Quem abre "111", no entanto, é
"Parabéns", que já trilhou carreira de sucesso no Brasil, graças à
letra brincalhona e chiclete, que custa para sair da cabeça.
A divertida "Lovezinho" coloca Ivete Sangalo
fazendo graça com as letras sempre sensuais e com certa carga de deboche de
Pabllo Vittar. "Vem fazer um lovezinho com a mamãe, vem", canta a
estrela do axé.
Letras como essa se somam ao "amor de quenga" que
Pabllo Vittar tanto repete em "Amor de Que" e mostram que o aspecto
brega se tornou inerente ao trabalho da drag queen. Mas não de um jeito
negativo: a diva pop tomou para si o termo e o modernizou.
O maior exemplo disso é justamente "Amor de Que",
que pode ser facilmente apontada como a melhor gravação da carreira ainda
curta, mas já brilhante da cantora. A faixa transpira sensualidade, com sua
letra sacana e engraçadinha, incapaz de deixar os ouvintes parados.
Com Jerry Smith, sensação do funk, Pabllo entoa "Clima
Quente", certamente destinada a ser tocada à exaustão em festinhas Brasil
afora –desde já, não fosse pelo isolamento provocado pela Covid-19.
"Rajadão" conversa com a militância LGBT da
cantora de forma discreta e cifrada, com muitas batidas eletrônicas costurando
a voz marcante de Pabllo Vittar. Mas a pegada "fritação" não deve
fazer muita gente sair do chão.
O melhor de "111" estava aí faz tempo: os singles
"Flash Pose", "Parabéns" e "Amor de Que" já
mostraram, cada um à sua maneira, as diferentes faces de Pabllo Vittar. Agora,
essas e as outras seis faixas do disco se amarram e dão à luz uma coletânea
original, que só vai ficar restrita ao público LGBT se o mercado mainstream
tiver cabeça fechada.
111
Onde: disponível nas plataformas digitais
Autor: Pabllo Vittar
Gravadora: Sony
Crítica: muito bom
Fonte: LEONARDO SANCHEZ
Folha Press
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