Tem algo de encantador nas apresentações e nos sons
produzidos pelos Embatucadores. Parece soar familiar, ao mesmo tempo que algo
soa diferente em cada canto das músicas. Pode parecer uma bateria ou
sintetizador, mas quase todos os instrumentos tocados pelos cinco integrantes
são criados por eles mesmos a partir de sucata, lixo e do que vier pela frente.
Opção artística? Não exatamente, criatividade e talento atiçados pela realidade
social.
O projeto Terra Brasilis mostrará pouco a pouco a variedade
sonora do grupo, melódica e bastante percussiva, que vai da música eletrônica
(só que orgânica) ao xote, passando por samba, rock, punk, coco, ambiente e
indígena, tudo dentro de um contexto contemporâneo. Entre canos de PVC, baldes,
garrafas, panelas, cabos de vassoura e latas: tudo é som, tudo faz música, e o
quinteto segue este caminho inventivo, cheios de energia, humor e precisão.
Aliás, as músicas que melhor os definem são aquelas que o
grupo performa enquanto toca. Os Embatucadores são performáticos e surpreendem
também pela expressão corporal, com movimentos sincronizados e coreografados,
que incluem o sapateado.
O grupo foi formado em 2013 pelo músico e professor Rafael
Rip, a partir de um projeto educacional que existe desde 2003 em uma escola
pública na periferia da Zona Norte de São Paulo. Kaique Silva, Danilo Dantas,
Edivaldo Guedes e Matheus Souza completam o quinteto que lança seus primeiros
registros fonográficos após muitos anos de apresentações nos mais variados
espaços, principalmente a rua.
“A ideia principal é que os alunos-músicos descobrissem que
música pode ser feita com qualquer coisa. Eu tenho esses canos, vou fazer
música com eles. Só tenho latinhas ou colheres, então vou fazer música com
isso. Eu tenho duas cordas de piano, então vamos amarrar aqui para criar um
berimbau de duas tonalidades. A ideia fundamental do grupo é a de resolver
problemas. E isso é algo que ajuda e muda muito a cabeça das crianças”, explica
Rafael.
Todos sabem tocar todos os instrumentos e todos ajudam na
montagem do espetáculo, na manutenção dos instrumentos, na proposição de ideias
de músicas. Todos são protagonistas e autores do show, um processo constante de
ensino-aprendizagem.
As referências do grupo são muitas, desde o americano Stomp
(a performance teatral, o uso de instrumentos musicais retirados do lixo) até o
paulistano Barbatuques (na percussão corporal), passando pelos mineiros do
Uakti, o congolês Kokoko! e o mago da invenção sonora, Hermeto Pascoal.
Os Embatucadores buscam seguir o que seu nome sugere: deixar
seus ouvintes e espectadores sem ação diante de tantos sons criados com
instrumentos tão inusitados, como uma máquina de criar sons.
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