Em uma temporada em que a pandemia do novo coronavírus afetou as finanças de todos os clubes brasileiros e as principais equipes do País, que ganharam menos pelos contratos de televisão e ficaram sem bilheteria com a falta de público nos estádios, registraram receitas até 46% menores em relação a 2019, a premiação da Copa do Brasil vai ajudar, e muito, os quatro semifinalistas, especialmente o campeão.
Com orçamentos e planos diferentes, América-MG, Palmeiras,
Grêmio e São Paulo certamente vão festejar o dinheiro proveniente da
competição.
Com equipes enfrentando grave crise financeira agravada pela
fuga de patrocinadores, ausência de público nos estádios e perda de
sócios-torcedores, a premiação da Copa do Brasil passou a ser ainda mais
valorizada e virou sinônimo de alívio imediato às contas dos clubes.
O torneio é o que mais distribui dinheiro aos clubes no
País. Ao campeão, por exemplo, a CBF pagará R$ 54 milhões, R$ 2 milhões a mais
do que o Athletico-PR recebeu no ano passado.
A CBF vem valorizando a Copa do Brasil a cada ano. Para se
ter uma ideia, em 2016 uma vaga nas oitavas de final rendia R$ 840 mil aos
clubes. Hoje, estes valores mais do que triplicaram.
Com isso, os times passaram a dar ainda mais importância
para a competição. Os jogos de ida das semifinais acontecem nesta quarta-feira,
às 21h30. O Grêmio recebe o São Paulo em Porto Alegre e o Palmeiras encara o
América-MG no Allianz Parque. A volta será no dia 30, com a inversão dos
mandos. Não há gol marcado fora de casa como critério de desempate.
Parte do dinheiro da premiação é usado como bônus aos
atletas e outra parte serve para pagar despesas de manutenção, logística,
fornecedores, impostos e folha salarial e também pode ser utilizado em
contratações para a próxima temporada.
O AZARÃO - O América-MG destoa dos outros três
semifinalistas por mais de um motivo. É o que tem o menor orçamento atualmente,
de cerca de R$ 40 milhões, segundo o superintendente geral do clube, Dower
Araújo, o único que está na Série B do Campeonato Brasileiro e também o único
que disputa competição desde o seu início, já que os outros três entraram
direto nas oitavas de final por terem vaga na Libertadores.
Com isso, o time mineiro já tem assegurado 17,6 milhões em
premiação, considerando os pagamentos recebidos pela CBF por cada fase
superada, enquanto que Palmeiras, Grêmio e São Paulo garantiram R$ 12,9 milhões
por enquanto.
O valor que o América ganhou representa mais de três vezes a
quantia prevista de receita, no orçamento de 2020, para "competições e
jogos": R$ 5.755.449. O clube, naturalmente, comemora os cofres mais
cheios, mas não está satisfeito. A equipe treinada por Lisca quer surpreender e
chegar à final pela primeira vez.
O fato de ter alcançado a semifinal da Copa do Brasil pela
primeira vez na história ajuda o América-MG a se manter financeiramente
organizado. A equipe tem mantido os salários em dia neste ano e pode virar
clube-empresa em breve. A consultoria Ernest & Young (EY) está na fase
final do projeto que mudará completamente a forma como a agremiação é
administrada.
O trabalho começou com o ajuste da governança corporativa da
entidade mineira em algo semelhante à de uma companhia de capital aberto. O
organograma passou a ter um CEO, um diretor financeiro e demais posições
executivas.
Para atrair investidores, é preciso que a engrenagem de
gestão funcione e as decisões não dependam apenas da paixão pelos resultados
esportivos. E o resultado desse processo será uma NewCo, ou seja, uma nova
empresa que vai explorar apenas o futebol.
A busca do time mineiro é por um investidor estrangeiro. A
desvalorização do real frente ao dólar e ao euro é vista como um facilitador
para atrair um parceiro. Afinal, com cerca de 10 milhões de euros, o orçamento
da Série A passa a ser coberto. A equipe é uma das principais candidatas a
voltar à elite do futebol brasileiro e hoje ocupa a vice-liderança da segunda
divisão, atrás apenas da Chapecoense.
Segundo a EY, o endividamento líquido do América-MG é de R$
82 milhões, ocupando a 15a. posição entre os 20 principais clubes do País.
Desse montante, R$ 50 milhões enquadram-se como dívida tributária. A relação
entre endividamento líquido e receita recorrente do clube é de 2,96 vezes.
As receitas não são tão expressivas se comparadas às dos
rivais da Série A, mas o América é organizado, possui CT, um estádio, uma
propriedade comercial e é conhecido por ser formador de atletas.
E a próxima temporada pode ser melhor financeiramente Se
vencer a Copa do Brasil, o "Coelho" vai embolsar R$ 72, 8 milhões, a
premiação máxima, já que disputa o campeonato desde a fase inicial.
O MAIS ORGANIZADO - O Grêmio é um dos clubes mais saudáveis
financeiramente do País. Mesmo na pandemia, o time gaúcho não teve grandes
perdas e se manteve estruturado.
O último balanço financeiro aponta superávit - diferença
entre receitas e despesas - de R$ 25,6 milhões no terceiro trimestre da
temporada O resultado do período proporcionou as contratações de Diego Churín e
César Pinares, reforços buscados no futebol sul-americano, e reforçam que a
equipe vai sair forte da crise gerada provocada pela pandemia.
"O Grêmio está numa posição de equilíbrio, inclusive em
relação às contas de 2021 e 2022, antecipando pagamentos", diz ao Estadão
o presidente Romildo Bolzan.
O dirigente prevê que os clubes que ajustarem suas contas
serão aqueles que poderão brigar por títulos na próxima temporada. "O
dinheiro da Copa do Brasil atenderia nossas necessidades para reforçar o caixa
do próximo ano e seu fluxo", resume o mandatário.
MUDANÇA DE ESTRATÉGIA - O Palmeiras mudou radicalmente sua
postura de clube comprador, que investe pesado no mercado, e, para equilibrar
as finanças, negociou vários jogadores no decorrer do ano e apostou na
talentosa base.
Em campo, os resultados têm vindo. Fora dele, o clube
alviverde já conseguiu ser mais equilibrado em relação às suas contas, visto
que registrou um prejuízo de R$ 136,6 milhões em 2020, em balanço feito até o
mês de agosto.
Em agosto, o Palmeiras registrou um déficit de R$ 16,6
milhões. Considerando apenas o departamento de futebol, por exemplo, o prejuízo
foi de R$ 11,6 milhões no período, cerca de R$ 7 milhões a mais do que o mês
anterior. Os dirigentes palmeirenses preveem que aproximadamente R$ 200 milhões
não serão mais arrecadados em 2020 por causa da crise provocada pela covid-19.
O clube deixou de receber com bilheteria desde março, assim
como todos os outros, e sofre desde então com uma queda de receitas do programa
de sócio-torcedor, entre outros problemas nas finanças.
Em 2021, é muito provável que a diretoria tenha de vender
algumas de suas principais joias oriundas das categorias de base para aumentar
a arrecadação.
Gabriel Veron, Patrick de Paula, Gabriel Menino e Wesley já
receberam sondagens. No entanto, o título da Copa do Brasil - o time já
levantou a taça do Paulistão neste ano - pode melhorar a saúde financeira e
evitar negociações precoces.
MODERNIAÇÃO DO MORUMBI - O São Paulo chegou a ser um dos
exemplos de gestão no futebol brasileiro. Mas de alguns anos para cá, se atolou
em dívidas e tem de vender frequentemente jogadores revelados em Cotia para
aliviar a crise financeira, que só vem piorando nos últimos anos com a escassez
de títulos.
A última taça foi levantada em 2012, a da Copa
Sul-Americana. Com isso, vencer a Copa do Brasil teria importância em dobro,
esportivamente e também nas finanças.
O clube tricolor tem uma dívida de quase R$ 600 milhões e
hoje, não pode, por exemplo, realizar uma grande obra no Morumbi, que perdeu o
posto de principal palco de grandes shows em São Paulo para o Allianz Parque, a
casa do Palmeiras.
O presidente eleito Julio Casares disse que só vai realizar
grande obra no Morumbi com investimento do setor privado, mas a verba da Copa
do Brasil pode ajudar. Ele apontou as mudanças que vai implantar no estádio
caso seja eleito.
"Vamos melhorar a precificação do aluguel para shows
para competir em igualdade de condições com as arenas. O estádio é nosso, está
pago, então podemos cobrar menos e trazer um volume maior de shows".
O dinheiro da competição também pode ser útil como
investimento no programa de sócio-torcedor do São Paulo, que carece de uma
reformulação. "Uma das missões do departamento será refundar o programa de
sócio-torcedor, que terá 100% da sua receita líquida usada no futebol.
Vamos entender que o sócio-torcedor do São Paulo não tem um
perfil único, mas vários, e desenvolver planos que façam sentido para cada um
deles", explicou Casares.
Fonte: Estadão Conteúdo
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