No encontro anual em que concedeu a benção de Natal para a cúpula da igreja, no Vaticano, o papa Francisco recorreu às palavras de dom Hélder Pessoa Câmara para pedir "uma colaboração generosa e apaixonada no anúncio da boa-nova sobretudo para os pobres".
Em uma de suas frases famosas, dom Hélder disse:
"Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo; quando pergunto por que
eles são pobres, chamam-me de comunista".
"Me vem à mente o que dizia aquele santo bispo
brasileiro", falou Francisco na segunda-feira (21), antes de citar o
trecho do religioso cearense, morto em 1999, e cujo nome está em processo de
canonização desde fevereiro de 2015.
Tornado arcebispo de Olinda e Recife em 1964, dom Hélder era
fortemente envolvido com causas sociais e foi um contraponto à ditadura
militar.
Incentivou e fortaleceu as comunidades eclesiais de base e
foi alçado ao posto de resistência ao regime. Passou a ser visto como líder na
defesa dos direitos humanos.
Foi acusado de comunista, chamado de "arcebispo
vermelho" e perseguido pelos militares, sobretudo depois do Ato
Institucional nº 5, que inaugurou o período de maior repressão da ditadura
militar.
Décimo-primeiro filho de um jornalista e de uma professora
primária, dom Hélder foi ordenado padre aos 22 anos e ainda jovem se envolveu
com causas sociais.
Coordenou os círculos operários cristãos e liderou a
Juventude Operária Católica. Fundou, em 1933, a Sindicalização Operária
Feminina, que lutava por direitos de empregadas domésticas e lavadeiras.
Durante a Segunda Guerra Mundial, fundou a Comissão Católica
Nacional de Imigração e trabalhou para acolher refugiados que chegavam ao país.
Tornou-se bispo aos 43 anos, em 1952. No mesmo ano,
conseguiu a aprovação do Vaticano para criar a Conferência Nacional do Bispos do
Brasil, a CNBB.
A partir de então passou a se dedicar a causas como a
Cruzada São Sebastião, que resultou em conjuntos habitacionais para moradores
de favelas, e o Banco da Providência, para atender aos sem renda.
Foi um dos proponentes do Pacto das Catacumbas, em que 42
sacerdotes se comprometeram a assumir atitudes com o objetivo de reduzir a
pobreza global.
O documento é considerado o embrião da Teologia da
Libertação, corrente cristã que determina assumir "a opção preferencial
pelos pobres".
Na mensagem de Natal de 2020, o papa Francisco disse ainda
que a "pandemia é uma ocasião propícia para uma breve reflexão sobre o
significado da crise em si mesma".
"A crise é um fenômeno que afeta a tudo e a todos.
Presente por todo lado em cada período da história, envolve as ideologias, a
política, a economia, a técnica, a ecologia, a religião. Trata-se de uma etapa
obrigatória da história pessoal e social."
Segundo ele, pode ser também um momento de transformação. "A crise é aquele crivo que limpa o grão de trigo depois da ceifa", disse Francisco.
Folhapress
Nenhum comentário:
Postar um comentário