Falta Pele abre o álbum Pele/Osso (Tronco 2019), e, hoje (28), ganha um videoclipe cheio de provocações e processos pessoais que fizeram parte da trajetória da artista gaúcha Isabel Nogueira, que está a frente do projeto Bel_Medula. Diante da câmera, Bel e Luciano Zanatta, com quem ela divide a composição da faixa, brincam em um processo que busca alargar as percepções diante do vídeo e do som sob direção de Ricardo De Carli.
Bel conta que no ínicio a canção surgiu associada à sua vontade incessante de fazer tatuagens e que as considera marcas que escolheu ter, por representarem uma época, uma fase e uma mudança de vida. Mas, ao longo do tempo, ela notou a falta de pele para todas as tatuagens que seriam possíveis fazer. Durante o caminho, a música se transformou em uma canção de amor. “Ao mesmo tempo em que comecei a canção, que eu pensava que seria sobre as tatuagens, veio uma letra inteira, com melodia e tudo, sobre encontros amorosos e a surpresa que trazem consigo, me trazendo a sensação de perder o chão”, comenta.
A artista também chama atenção para um ponto mais delicado. Durante o processo, ela entrou em contato com ausências, silenciamentos, normativas e limitadores sobre a atuação das mulheres na música e, a partir, disso, passou a perceber que seu próprio processo também era um refreamento e que sua composição não era por acaso. Foi pensando sobre isso, que focou no uso da tecnologia, já que também era uma possibilidade. “Meu interesse se voltou mais diretamente para a música experimental, onde me parecia um terreno interessante para propôr as quebras de normatividades de expressão e de gênero que são o que mais me interessa”.
A direção do vídeo é assinada por Ricardo De Carli e sua produção, do clipe e da vida, é relacionada à experimentações com ferramentas de alta e baixa tecnologia, utilizando da produção de imagens e música ao vivo para compor seus vídeos. Ele comenta que o interesse surgiu com uma redescoberta do retroprojetor. “Ao experimentar com ele, encontrei um fazer muito prazeroso: recortes, celofane, brincadeira, texturas nostálgicas e cores quentes. Notei que a criação destas imagens compartilhava alguma natureza do repertório em que eu vinha acompanhando. Ambos eram improvisados, espontâneos, de processos simples e auto-evidentes com resultados ricos, intensos”. Ainda no desejo de aprofundar os estudos em, luz, cor e forma, Falta Pele buscou evocar imagens a partir de recorte de formas que remetem a elementos presentes na letra e e no som. Além disso, a associação com objetos reais e a filmagem de takes em diferentes paisagens, também permitiu criar um interessante resultado.
Sobre Pele/Osso
Lançado pelo selo Tronco em novembro de 2019, o álbum duplo Pele/Osso engloba dois trabalhos com diferentes dimensões. Pele traz as canções de Isabel Nogueira e Luciano Zanatta e possui arranjos construídos e interpretados pela banda, da qual fazem parte também Bruno Vargas (baixo) e João Pedro Ce (guitarra). Já o disco Osso traz uma combinação de beats, sintetizadores e spoken words, compostos e interpretados por Isabel Nogueira, trazendo poesias de Daniela Delias e Hilda Hilst. Entre as referências, vocais e criativas, estão Laurie Anderson, AGF Poem Producer, Erykha Badu, Juçara Marçal, Maria Beraldo e Anelis Assunção.
Acompanham o trabalho uma série de videoclipes especialmente encomendados e produzidos por artistas visuais com diferentes trajetórias e conceitos que dão diferentes leituras para as canções, inclusive, o primeiro a ser lançado foi o da música Pança Cheia, dirigido por Diego Medina. Além disso, um livro com textos sobre o álbum.
FICHA TÉCNICA | FALTA PELE
Voz, programações e synth bass: Isabel Nogueira
Programações e Sax: Luciano Zanatta
Baixo: Bruno Vargas
Guitarra: João Pedro Cé
Efeitos: André Brasil
Captação, Edição e Direção: Ricardo de Carli (Frisbe Filmes)
Gravado em setembro de 2019 no Estúdio Sangha, Porto Alegre.
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