Durante vários séculos a Igreja
Católica dedicou todo o mês de maio para honrar a Virgem Maria, Mãe
de Deus filho. A ideia de um mês dedicado especificamente a Maria
remonta ao tempo barroco – século XVII. Apesar de nem sempre ter
sido celebrado em maio, o mês de Maria incluía trinta exercícios
espirituais diários em homenagem à Santíssima Imaculada.
Foi nesta época que o mês de maio e
de Maria combinaram, fazendo com que esta celebração conte com
devoções especiais organizadas cada dia durante todo o mês. Este
costume durou, sobretudo, durante o século XIX e é praticado até
hoje.
E, essa vivência é praticada com
Maria de todo o coração na Matriz de Nossa Senhora da Conceição,
no município de Orobó, agreste setentrional de Pernambuco, propõe
para todos os fiéis da cidade, e também da zona rural através das
capelas centenárias os “31 dias com Maria”.
Na paróquia costuma-se rezar no mês
de maio uma oração diária do Terço e muitas preparam um altar
especial com um quadro ou uma imagem de Maria. E nas capelas e casa
das famílias na zona rural, as imagens de Maria e dos Santos, são
colocadas em Oratório (espécie de capela). Além disso, trata-se
de uma grande tradição a coroação de Nossa Senhora, no último
dia do mês, um costume conhecido como Coroação de Maio.
Normalmente, a coroa é feita de lindas
flores ou a própria coroa da imagem que representam a beleza e a
virtude de Maria e também lembra que os fiéis devem se esforçar
para imitar suas virtudes. Em algumas capelas das comunidades de
Orobó esta coroação acontece em uma grande celebração e, em
geral, fora da Missa. Mas, neste município essa festividade
ultrapassa o mês de maio.
Nas comunidades de Figueiras, e Feira
Nova, ambas, na zona rural, há um exemplo muito importante sobre
esta vivência católica em relação ao mês de maio. O agricultor
José Francisco mais conhecido por Sr. Inácio relembra esta tradição
há mais de cem anos. O livro que o mesmo reza o Exercício na capela
de Nossa Senhora das Dores, já tem mais de dois séculos. A
jaculatória é recitada em Latim. O senhor João Gomes, que é
conhecido por Dão, relata que a tradição de celebrar o mês
Mariano em casa com as famílias, é uma tradição dos seus avós.
O município de Orobó predomina o
espírito da religiosidade, e tem um diferencial na parte cultural na
tradição religiosa, sendo o mês Mariano vivenciado até o início
de junho em algumas capelas da zona rural, a exemplo Figueiras, com a
conclusão no dia 02 de junho e Feira Nova, no dia 08. Todos os
sábados e nos dias 10 e 20 é recitado o ofício da Virgem Maria e
no dia do encerramento é feito a consagração com a programação
extensiva. Em Feira é realizada uma procissão com a imagem da santa
saindo da casa de uma família da comunidade percorrendo pela Vila, e
encerrando na casa da família que iniciou a programação.
Vale ressaltar que, em meio à prática
puramente religiosa, há, sobretudo em pequenas capelas nas
comunidades rurais tendo alguma delas mais de 300 anos, um movimento
diferente que marca as comemorações do final do mês mariano. Ele
se desenvolve do seguinte modo: os fiéis, postados em torno da
bandeira hastada no terreiro da capela, assistem à queima das flores
utilizadas naquela noite, louvam e cantam acompanhados por um
conjunto de pífanos, durante horas, durante horas. No final,
acontece uma ceia com comidas típicas e regional que será servida a
toda comunidade. É um costume que está se consolidando no tempo,
tornando-se elemento folclórico de certas partes da zona rural do
município.
Um grande diferencial da religiosidade
de Orobó é a grande quantidade de padres nascidos no município.
Ter um padre na família era o desejo de muitas famílias oroboenses,
sobretudo, antigamente. Ir para o Seminário, representava, por
circunstâncias locais, a oportunidade ideal para os pais verem seus
filhos estudando, com perspectivas de um futuro diferenciado, voltado
para Deus. Assim, a messe prenunciava-se rica nesse particular, e com
esse pensamento divino, o município de Orobó ganha 15 padres,
filhos da terra, para orgulho dos conterrâneos. Nos próximos dias,
um deles, padre Antônio Lucena, estará como vigário paroquial na
igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição.
Porém, o número de padres nascidos em
Orobó que foram elevados ao episcopado impressiona. Nasceram, Dom
José Vicente Távora – Arcebispo Metropolitano de Aracajú,
falecido em 3 de abril de 1979; Dom Severino Mariano de Aguiar –
Bispo da Diocese de Pesqueira, faleceu aos 92 anos; Dom Otávio
Barbosa de Aguiar, atuou na Arquidiocese de Maceió; Dom João da
Mata Amaral – Bispo da Diocese de Cajazeiras-PB, Bispo da Diocese
de Manaus-AM, e faleceu como Bispo da Diocese de Niterói-RJ; Dom
Gentil Diniz de Barreto – Bispo da Diocese de Mossoró-RN; e Dom
Manuel dos Reis – atualmente Bispo Emérito de Petrolina-PE.
O que se observa, ao menos por
enquanto, não há qualquer indício de que a religião católica
esteja perdendo força no município. A religiosidade e a devoção a
Nossa Senhora da Conceição são muito fortes, e uma explicação
para tantos padres e bispos naturais de Orobó é a fé. A crença em
Deus, no entanto, tem fortes aliados terrenos. Há ainda outro fator
a que pode ser atribuída à formação de tantos padres, o incentivo
das famílias com inabalável tradição religiosa que gostariam de
ver um de seus integrantes como representante da Igreja Católica.
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