Em um momento de isolamento social vivido no mundo inteiro, o Baile do Menino Deus convida os brasileiros para “abrirem suas portas” para a chegada do “Menino Divino”. O espetáculo natalino que reúne milhares de turistas e conterrâneos no Marco Zero do Recife, se prepara para contar a história mais famosa do mundo, de uma forma desafiadora. Este ano, o Baile que faz uma leitura irreverente do nascimento de Jesus Cristo chegará nas casas dos brasileiros entre os dias 23, 24 e 25 de dezembro, através de um telefilme.
O longa inédito da grande ópera popular nordestina, que se
orienta nas tradições de festas e representações teatrais do ciclo natalino,
incorporadas às mais diversas culturas do Brasil, começa a ser gravado a partir
desta quinta-feira (12) e conta com direção geral de Tuca Siqueira (Amores de
Chumbo e Fashion Girl) e direção de fotografia de Pedro Sotero (premiado em
Cannes com o filme Bacurau).
Produtora, roteirista e diretora de cinema, a pernambucana
Tuca Siqueira iniciou sua carreira em 2003. Sua trajetória conta com diversas
séries, filmes e documentários premiados. Entre eles, “Amores de Chumbo”, seu
primeiro longa de ficção, considerado uma verdadeira pérola cinematográfica,
pela crítica.
“Eu tive a sorte de ter pais que sempre me levaram ao teatro
e minha relação com a consciência do coletivo sempre foi muito forte por causa
do meu envolvimento com a dança e o teatro, desde pequena. Acho que isso foi o
que me levou para o audiovisual que é uma arte tão coletiva. Assisti o Baile
pela primeira vez no ano passado. Me emocionou muito pela ousadia e coragem
política de se apresentar uma Maria negra e um José rastafari. Tudo isso me dá
muito mais orgulho de ter recebido o convite para dirigir o espetáculo. Foi um
presente pra mim e será uma grande surpresa para o público.
Diretor de fotografia desde 2006 no Recife, lugar onde
desenvolveu uma consistente filmografia de curtas e longas-metragens, Pedro
Sotero fotografou filmes que incluem três seleções oficiais no festival Cannes,
à exemplo de “Aquarius”, “Bacurau” e “O
Som ao Redor”. Em 2018 ganhou o prêmio de melhor fotografia no SSIFF, com longa
argentino “Rojo” e em 2019, trabalhou na
pesquisa, roteiro e fotografia do filme instalação SWINGUERRA, obra selecionada
pra representar o Brasil na Bienal de Veneza e finalista do prêmio ABC 2020.
A diretora de produção Carla Valença e Ronaldo Correia de
Brito, criador e roteirista do Baile, oficializaram a ideia de transformar o
espetáculo em filme, no mês de agosto. “Estremecemos só em pensar, mas partimos
para o desafio de realizar três produções, dentro de uma mesma e gigante
produção, que é a do Baile”, para não deixar o público sem o espetáculo”,
comenta Ronaldo.
A proposta do telefilme é encenar a apresentação da mesma
forma que ela é todos os anos no Marco Zero, usando a linguagem do cinema mas
sem perder nenhuma característica própria da montagem.
Preocupados com a segurança dos artistas e de todos os
profissionais envolvidos na produção, as gravações do Baile contam com todos os
critérios de segurança, exigidos em tempos de pandemia e uma equipe médica
formada por cinco profissionais e dois consultores foi contratada para criar um
protocolo de segurança e prevenção à Covid19.
“Quebramos a cabeça, pensamos muito com toda a nossa equipe,
para que a consagração de um trabalho que começou há 37 anos não fosse
interrompida e que fosse realizada de forma segura para os mais de 300 artistas
e profissionais envolvidos em sua realização” reforça Ronaldo.
Em sua edição de 2019, o Baile do Menino Deus quebrou
mais um recorde de público levando mais
de 70 mil pessoas, de todos os lugares do país, para a Praça do Marco Zero do
Recife.
“Era um desejo mais antigo de fazer o espetáculo num formato
de filme, estamos felizes e ansiosos pois a oportunidade de realização chegou.
Quando se deu a pandemia, eu e Ronaldo nos reunimos com muitas pessoas com o
objetivo de vislumbrar caminhos e agregar profissionais com a expertise do
teatro e do audiovisual, já prevíamos a possibilidade de não poder acontecer
presencialmente”, revela a produtora Carla Valença.
Parte da Trilogia das Festas Brasileiras, que retratam
manifestações populares nordestinas como, a Bandeira de São João e Arlequim de
Carnaval, no Baile do Menino Deus, a dupla de “Mateus” (personagens principais)
é interpretada pelos atores Sóstenes Vidal e Arilson Lopes, que se revezam com
Paulo de Pontes e Daniel Barros. Juntos, eles buscam uma forma de abrir a porta
da casa onde estão José, Maria e o recém-nascido Jesus, para celebrar a vida em
clima de festa.
Uma saga que recorre a sortilégios, brincadeiras e invocação
de criaturas fantásticas – como a Burrinha Zabilin, o Jaraguá e o Boi. Tudo com
muita música e dança.
O que faz o Baile do Menino Deus ser único na cena natalina
brasileira é o seu projeto de resgatar várias formas de celebração do Natal,
que sobreviveram e se guardaram apenas no Nordeste do Brasil. Reisado, lapinha,
pastoril, cavalo marinho, guerreiro, chegança, boi de reis e outras
manifestações.
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