A direção geral do disco também foi marcada por essa mistura de gerações. O experiente arranjador, compositor e violonista Mauricio Carrilho e o letrista e poeta Roberto Didio trabalharam juntos. Mauricio foi responsável pela direção musical e arranjos, Didio assinou direção artística e produção musical. A música que abre o trabalho - “Se for, me chama” - trata-se inclusive de uma parceria dos dois artistas.
Gabriel esperou doze anos pra lançar seu segundo disco, período em que estudou o cancioneiro brasileiro e vivenciou os caminhos do samba nas rodas e nos palcos, conseguindo reunir neste trabalho diferentes estilos, temas, andamentos, formações, linguagens e estruturas melódicas. Essa imersão se une a potência de voz, a interpretação e a beleza singular de timbre do músico, resultando em uma entrega especial.
Na formação violão, baixo e bateria (dois sambas que flertam com o cancioneiro) ou nos sambas mais “enfezados” de percussão, inclusive no partido que encerra o álbum, Gabriel traz o raro domínio da combinação característica dos grandes cantores do gênero: corpo/emoção/técnica/divisão.
Os arranjos foram escritos ao melhor estilo de Mauricio Carrilho. Sopros predominando no álbum, mudando os agrupamentos nas faixas, abusando da sonoridade perfeita na formação de naipes, lugar que só os grandes arranjadores conseguem alcançar. Contando no disco com os irmãos Aquiles e Everson Moraes, Rui Alvim, Naomi Kumamoto, JJ Simões. Tudo isso sem abrir mão da batucada. E que batucada!: Marcus Thadeu, Magno Júlio, Bidu Campeche.
As levadas de violão e cavaquinho chamam bastante atenção, sintonia de quem toca junto desde muito cedo. Luciana Rabello e Ana Rabello assinam os cavaquinhos do disco - com exceção da faixa 10, a única do disco que tem dois cavacos ao mesmo tempo: Gabriel e Ana.
Vale destacar também a formação com Cristovão Bastos (piano), Jorge Helder (baixo) e Mauricio (violão) estruturando base em dois sambas. O bandolinista Marcílio Lopes (do conjunto Água de Moringa) foi solista na faixa 6. O pianista Fernando Leitzke tocou na faixa 8. O violonista (7 cordas) Julião Rabello tocou na faixa 10. Mauricio Carrilho tocou violão em todas as faixas.
Repertório do disco “Se for, me chama”, de Gabriel da Muda
SE FOR, ME CHAMA
(Mauricio Carrilho e Roberto Didio)
O disco abre os trabalhos como o próprio nome está sugerindo, um chamamento, convocação para enfrentar a insistência dos muitos representantes da mediocridade contemporânea em tentar sufocar as manifestações artísticas;
CAPAS E COPOS
(João Camarero e Roberto Didio)
Uma grande festa envolvendo os apreciadores e o universo dos discos de vinil. A letra cita mais de 20 intérpretes, mais de 15 LPs de carreira em citações diretas, indiretas e dois artistas plásticos que desenvolveram capas monumentais na música brasileira: Elifas Andreato e Mello Menezes. Celebração brindada com cachaça brasileira, absinto e mezcal (primo da tequila), simbolizando a pluralidade do acervo nacional e internacional que rolou na festa;
UM LUGAR
(Cristovão Bastos e Roberto Didio)
A leveza dos sonhos, o homem que não vive sem utopia, as revoluções no disfarce de canção de amor;
SAMBA QUE NADA TEM
(Miguel Rabello e Roberto Didio)
O que é moderno? As contradições, o samba em suas muitas dinâmicas da vida. Trecho que diz muito sobre a música: “meu samba não quer ser melhor nem mais bonito, não tem ambição de estar escrito na pedra do altar da tradição...”;
QUESTÃO DE TEMPO
(Paulo César Pinheiro)
O grande poeta aqui em letra e melodia, assinando este belíssimo tratado sobre despedidas, esperas, impressões do tempo;
LIÇÃO DE BRASIL
(Mauricio Carrilho e Paulo César Pinheiro)
Exaltação ao gênero fundamental do Brasil;
PEDAÇOS
(Francis Hime e Paulo César Pinheiro)
Composição ao estilo inconfundível de Francis Hime, tesouro composto na década de 70, que estava no baú do ineditismo;
EM CADA MÁGOA EXISTE UM SAMBA
(Luciana Rabello e Paulo César Pinheiro)
Este belíssimo samba foi gravado no disco de carreira da compositora Luciana Rabello, tendo agora sua primeira gravação registrada por outro intérprete. Gabriel sempre foi apaixonado por essa música;
FOGARÉU
(Paulo César Pinheiro e Paulo Frederico)
A letra aqui é assinada por Paulo Frederico e a melodia por Paulo César Pinheiro. Samba composto pra ter na roda o efeito do próprio nome. Gabriel já canta nos sambas e realmente pega fogo;
TEM CADA COISA
(Douglas Germano e Roberto Didio)
Partido-alto que traz no mote a separação entre banal e especial, repleto de sutilezas;
Sobre Gabriel da Muda
Com voz grave e potente, Gabriel da Muda faz parte de dois importantíssimos movimentos populares de samba na cidade do Rio de Janeiro: Moacyr Luz e Samba do Trabalhador, roda realizada às segundas-feiras, criada pelo compositor Moacyr Luz e que conta com a participação de Gabriel desde as primeiras horas, em maio de 2005, e o Samba da Ouvidor, roda quinzenal idealizada por Gabriel em 2007, que se tornou uma das maiores referências do samba na cidade.
Durante 7 anos, o músico foi intérprete do famoso bloco ‘Nem Muda, Nem Sai de Cima’ fundado pelo poeta e letrista Aldir Blanc e pelo Moacyr Luz na Tijuca, bairro onde nasceu e se criou. Atualmente ele é o intérprete oficial do Bloco Corre Atrás, que leva milhares de pessoas ao desfile no Leblon nas segundas de carnaval.
Em 2011, Gabriel lançou seu primeiro CD, o comentado e bem criticado “O Que Vai Ficar Pelo Salão”. Um trabalho de músicas inéditas dele próprio, Renato Martins e Moacyr Luz para letras de do poeta Roberto Didio.
Gabriel passou por Florianópolis, Maceió, São Paulo, Belo Horizonte, São Luís do Maranhão, Manaus, Natal, Fortaleza, Brasília, Belém, Rio Branco, Porto Alegre, entre outras, onde foi o convidado especial dos projetos de samba mais importantes das respectivas cidades.
Em 2013, acompanhado de Moacyr Luz, fez uma turnê pela França, passando por Lyon, Grenoble e Paris. Ainda em 2013, organizou uma homenagem a Paulo Cesar Pinheiro, um dos maiores compositores da história da Música Brasileira. O show contou com a participação do próprio homenageado.
Em 2015, foi arranjador e diretor musical do terceiro CD do Samba do Trabalhador, recém lançado. Por conta deste trabalho, o grupo ganhou, em 2016, o 27º Prêmio da Música Brasileira, como melhor grupo de samba. Também em 2016, foi arranjador e um dos diretores musicais do novo DVD e CD do Samba do Trabalhador com Moacyr Luz, lançado pela gravadora Universal Music. O CD e o DVD foram premiados na categoria Samba, no 29º Prêmio da Música Brasileira. Começou, em junho de 2016, um novo projeto chamado A Roda, onde, ao lado de Monarco, comandou uma grande roda de samba no Circo Voador acompanhado do Samba da Ouvidor.
Em 2017 e 2019 Gabriel foi convidado especial no Projeto Clube do Samba Uruguay, o principal movimento de samba do país. Em 2018 e 2019 foi convidado do Projeto Viva o Samba Lisboa, um dos principais movimentos de samba em Portugal. Em 2019, Gabriel faz três apresentações ao lado dos mais importantes movimentos de samba da Argentina, sendo duas em Buenos Aires e uma em La Plata, e foi o convidado especial de Paulo César Pinheiro nos shows de comemoração dos seus 70 anos, no Rio e em São Paulo. Neste mesmo ano entrou em estúdio para gravar o quinto CD do Samba do Trabalhador, que foi indicado ao Grammy Latino.
Em 2020 se apresentou pela primeira vez em Nova Iorque. Foram três shows. Em todos eles, Gabriel foi acompanhado pelo pianista Fernando Leitzke e pelo violonista João Camarero.
Em 2023 está lançando o seu segundo álbum solo, "Se for, me chama", com arranjos e produção musical de Maurício Carrilho e produção artística de Roberto Didio.
FICHA TÉCNICA DO DISCO
Título: SE FOR, ME CHAMA
Artista: GABRIEL DA MUDA
Tipo – INDEPENDENTE
direção musical e arranjos - MAURICIO CARRILHO
direção artística e produção musical - ROBERTO DIDIO
produção executiva - GABRIEL DA MUDA e JÚLIA MENNA BARRETO
distribuição - UNITED MASTERS
técnico de som e mixagem - WILLIAM LUNA
estúdio CIA. DOS TÉCNICOS
assistente de gravação - RAPHAEL CASTRO
masterização - ALEXANDRE HANG
Lançamento dia 21 de novembro de 2023
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