A queda das vendas no comércio em decorrência da crise do
coronavírus preocupa boa parte dos micro e pequenos empresários, mas também
favorece outros.
Entre os beneficiados pelo isolamento social, segundo
Juliana Berbert, consultora de negócios do Sebrae-SP, estão aqueles que já
tinham atuação no universo online e, por isso, dispunham de infraestrutura bem
montada para fazer entregas em domicílio.
"Implantar um setor de delivery é algo complexo e quem
foi obrigado a criar o serviço de última hora certamente encontrou
dificuldades", diz.
Uma das empresas que têm se saído bem é a startup Bebida na
Porta, criada em 2019, que atua em alguns bairros de São Paulo, além de
Alphaville e Tamboré (Grande São Paulo).
Segundo a fundadora Jessica Gordon, 36, a empresa viu o
número de pedidos aumentar 65% em março, em relação ao mês anterior. O número
de novos clientes subiu 40%. "No dia 20 de março, tivemos que reforçar o
estoque", diz.
Bebidas alcoólicas, sucos, água e energéticos compõem o
cardápio da empresa, além de cigarros e salgadinhos. O ticket médio continua o
mesmo, em torno dos R$ 70. O que mudou, diz Jessica, foi o comportamento da
clientela.
"Antes, as pessoas começavam a pensar em bebidas no fim
da tarde. Agora, os pedidos começam a chegar às 14", afirma ela.
Cerca de 80% dos pedidos são feitos pelo aplicativo iFood,
que se encarrega das entregas. O restante, que chega à Bebida na Porta por meio
do WhatsApp e de marketplaces, é despachado por motoboys que Jessica contrata.
Seja qual for o método, a startup promete entregas entre 15 e 25 minutos depois
do pedido.
De acordo com Juliana Berbert, a explosão na demanda
experimentada pelos supermercados online, que estão levando dias ou semanas
para entregar os pedidos, tem ajudado comerciantes locais e pequenos
empreendedores.
Outro setor que vem experimentando bons resultados durante a
pandemia é o de educação a distância.
Fundada em 2017, a plataforma Curseria tem 12 cursos online
no portfólio, sobre os mais variados assuntos, de gastronomia a finanças.
Assim que o número de alunos começou a subir, os sócios
Danilo Ricchetti Basso, 36, Celso Ribeiro, 34, e Cassiano Barletta, 39,
reduziram o valor dos cursos em 40%. O ticket médio, que era de R$ 400, caiu
para R$ 240.
O resultado, conta Danilo, foi muito além do esperado: as
vendas aumentaram 300%.
Em segmentos específicos, como o de fitness, o crescimento
chegou a 500% –um dos mais procurados é o curso do professor de educação física
Chico Salgado, que ensina treinos de celebridades.
Em breve, outros 12 cursos serão lançados. Em um deles, a
lutadora Kyra Gracie vai ensinar técnicas de defesa pessoal para mulheres.
O trio de sócios não poderia estar mais animado.
"Faturamos R$ 8 milhões em 2019 e já estamos refazendo as contas para
2020. Podemos crescer mais de 100%", diz Danilo.
Jessica Gordon, da Bebida na Porta, também está recalculando
a projeção de crescimento para o ano. A empresária aposta que os novos clientes
vão incorporar o hábito de comprar online em caráter definitivo.
Na opinião da consultora do Sebrae-SP, o otimismo se
justifica. Segundo a especialista, parte da transformação nos padrões de
consumo permanecerá após o fim da quarentena. "Trata-se de uma nova
tendência, não de modismo", afirma.
Fonte: Folhapress
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