sexta-feira, 14 de março de 2025

Argentina-Brasil: Kim Nahuel promove encontro das duas nações latinas no álbum "Decantado"

  


Cantor, compositor e multi-instrumentista argentino, Kim Nahuel declara respeito e amor, sobretudo, pelas canções tradicionais de cada país. Mas em seu primeiro álbum solo ele une especialmente duas culturas, ambas latino-americanas, a da Argentina e, vejam só, a brasileira.
“Decantado” é o nome do álbum, que o artista lança de Livorno, na Itália, onde mora e toca há anos com dois grupos, "Sinedades" e "SuRealistas", este com o qual gravou quatro álbuns, incluindo suas composições.


Escute o álbum "Decantado" no Spotify Aqui


Mas em “Decantado” ele rompeu esse padrão coletivo por completo. “Solo em todos os sentidos, porque o álbum foi gravado inteiramente por mim no meu estúdio caseiro. Toquei todos os instrumentos, fiz a mixagem e o masterização. Foi um processo longo que exigiu muita paciência. Gosto de pensar que trabalhei com a paciência de um pintor, que presta atenção a cada mínimo detalhe. Tocar muitos instrumentos de madeira, como a guitarra clássica ou o clarinete, foi uma experiência marcante. O som geral é muito fresco, quente, limpo e natural, características que o opõe ao sintético das produções modernas.”


Musicalmente, as doze faixas de “Decantado” têm como fortaleza e base a música brasileira. A bossa nova e o samba reinam na maior parte das canções. Aliás, o público, logo de cara, encontra “Ébano en un jardín”, um samba lançado um mês antes como single. Contudo, o álbum é mais amplo. É o exemplo de faixas como "Camino Ligero" e "Toque de queda", que trazem ritmos do caribe e da própria argentina, e de “Presente”, sob influência do rock inglês dos anos 1970. Mas, acima de qualquer definição específica, não há como negar a visceral essência latino-americana de Kim Nahuel em “Decantado”.


Assim como a sonoridade, as letras e mensagens de “Decantado” são variadas, mas Kim Nahuel tenta defini-las: “Os autores que mais me representam são Chico Buarque, Jorge Drexler e Vinicius de Moraes. Misturando esses estilos de escrita, tento falar sobre os aspectos profundos da nossa humanidade. Gosto de letras que convidam a refletir sobre as condições da nossa espécie, é absurdo que ainda existam categorias de pessoas privilegiadas. Também gosto de falar sobre aspectos menos duros, como o de um amor profundo ou a força da natureza.”


“Às vezes, penso que as mensagens explícitas são aquelas que chegam através das letras, enquanto as mensagens implícitas são aquelas que chegam através dos acordes, das escolhas, dos sons. Gosto de pensar que este álbum traz uma mensagem que ensina a não ter medo de escolher o que nos comove.”, refletiu Kim.


“Decantado” tem na arte de capa a imagem de Kim Nahuel com seu bombo legüero, um instrumento de percussão tradicional da Argentina. “Ele representa o som da terra, o som do coração batendo incessantemente”, definiu ele, em mais uma demonstração do conceito artístico do álbum, que está disponível em todos os aplicativos de streaming a partir desse 14 de março.


“Este álbum nasceu da necessidade de dar luz à minha visão estética. Ouvi muita música na minha vida e, neste trabalho, quis evocar tudo o que me emociona. As letras críticas e metafóricas de Chico Buarque, a descontração de João Gilberto, a improvisação de Paul Desmond, etc. Queria lançar este álbum alguns anos atrás, mas a Covid mudou minhas prioridades e eu tive que pensar em outra coisa. Depois, as faixas ficaram guardadas em um Drive até que minha companheira me incentivou a lançá-las. Agradeço muito à Maria por isso.”


 


Faixa a faixa (nas palavras de Kim Nahuel)


1º "Ébano en un jardín" foi lançada como single no dia 14 de fevereiro. Escrevi a faixa depois de uma conversa com um amigo, onde ele disse que o contrário da vida não é a morte, mas sim o medo. A canção fala da vida como uma série de eventos circulares, onde tudo continua a viver em outras formas. A música tem o ritmo de um samba leve que caracteriza muitas músicas do álbum.


2º "Aire" surgiu depois de ouvir "Caminhos cruzados" de Tom Jobim, peguei os primeiros acordes emprestados e, no ritmo da bossa nova, escrevi essa faixa que se dirige ao ar e aos seus poderes.


3º "Camino Ligero" evoca os ritmos da zamba argentina e da chacareira [gênero musical e dança popular da Argentina]. Junto comigo cantam meus dois irmãos, também músicos e compositores. A faixa convida a abandonar nossos comportamentos nocivos e nos chama a celebrar nossa humanidade ao ritmo do bombo legüero, instrumento típico do folclore argentino.


4º "Canção primeira" foi escrita em colaboração com a cantora sarda Margherita Lavosi, com quem compartilho a paixão pela música brasileira. Estávamos em uma praia na Sardenha quando uma linda melodia entrou na minha cabeça. Margherita cuidou da letra e saiu uma música que adoro. É uma ode à música e sua magia. É a única faixa com letra em português.


5º "Viaje de ida" foi escrita depois que uma amiga brasileira foi vítima de feminicídio. Quis dedicar essa faixa a ela e a todas as mulheres que sofrem com as injustiças de gênero. O tempo musical mistura elementos do pop com sons brasileiros, como o cavaquinho.


6º "Inhalá" tem um tempo e uma letra melancólica e reflexiva na qual falo sobre abandono e mudança. A inspiração, desta vez, veio de "Milonga de Ojos Dorados" na versão de Jorge Drexler.


7º "Toque de queda" é a faixa mais rítmica de todas. O estilo remete ao merengue centro-americano ou ao cuarteto, gênero nascido em Córdoba, cidade argentina. A letra lembra que dividimos os estrangeiros em "clandestinos" ou "turistas", dependendo de sua origem e classe social. O título faz referência ao toque de recolher que marcou as ditaduras militares sul-americanas e que vimos nos manifestar durante o período da Covid.


8º "Our letters" é a única faixa que canto em inglês. A voz é acompanhada apenas por um violão e um clarinete, e o ritmo remete à bossa nova de antigamente. Queria escrever uma música que soasse um pouco como o período anglo-saxão de Caetano Veloso, quando ele foi forçado a deixar o Brasil devido à ditadura militar. A letra é simples e romântica, lembrando aquele momento inicial de um apaixonamento, quando a inspiração poética está no seu auge.


9º "El monstruo" é uma das primeiras faixas que escrevi, há cerca de 10 anos. O tempo é de valsa e a harmonia menor a torna sombria e misteriosa. Todos temos características que delimitam nosso comportamento, e às vezes podemos nos atormentar com nossas faltas. "O monstro" é justamente esse nosso lado sombrio, que podemos aceitar em vez de esconder.


10º "Maria ti amerei oramai" é uma dedicação pessoal de amor. Esse nome é muito presente no repertório sul-americano, tanto em Chico Buarque (“João e Maria”, “Olha Maria”) quanto nos clássicos hispânicos (“Maria Bonita”, “Jacarandosa”). Escrevi essa música depois de ser consumido por uma paixão profunda e pura. É a única faixa cantada em italiano, e o ritmo de samba canção a remete ao repertório de Chico Buarque, que criou na Itália após o exílio durante a ditadura militar.


11º "Corazón que me haces daño". Um dia tive um sonho muito peculiar. Sonhei que meu pai me cantava uma canção acompanhado de violão. Acordei desse sonho e imediatamente escrevi uma letra sobre um homem pobre que acaba na prisão por ter roubado um pano para se proteger do frio. Anos depois, toquei minha música para meu pai e ele me disse que viveu essa experiência na minha idade, quando ajudou um homem a sair da prisão pelos mesmos motivos. Meu pai, então, me ensinou a melodia em um sonho e me transmitiu a letra de uma experiência sua da qual eu não tinha conhecimento.


12º "Presente" tem um ritmo e estilo diferente das outras. Pode-se dizer que tem influências do rock inglês dos anos 70. A música fala sobre as dificuldades que as pessoas enfrentam ao longo de suas vidas, onde precisam lutar contra as contradições de um mundo que empurra para a repressão dos instintos e, ao mesmo tempo, para a alteração da própria tranquilidade.


 


Ficha técnica


Kim Nahuel é o vocalista, compositor, produtor, responsável pela mixagem, masterização e gravação, além de tocar todos os instrumentos: guitarra clássica, o clarinete, o piano, a bateria, percussões, baixo, melódica, saxofone (alto, tenor e soprano), cavaquinho e flauta transversal.


 


Sobre Kim Nahuel


Nasceu em Buenos Aires, Argentina, e vive há anos em Livorno, Itália. Ele e seus dois irmãos são instrumentistas, cantores e compositores. Começaram a tocar juntos aos 15 anos influenciados pela família de músicos. Atualmente, Kim Nahuel integra dois grupos musicais italianos, SuRealistas e Sinedades. Com eles, percorre a Europa em turnês todos os anos. Em especial com os SuRealistas lançou quatro álbuns nos últimos dez anos, incluindo composições suas, e participou de festivais como "Colors of Ostrava" e "Trefpunt Festival". A carreira solo se iniciou em 14 de março de 2025 com o lançamento do álbum de música latina “Decantado”.


 


“Tudo é inspiração musical. Qualquer som que venha da rua, qualquer padrão rítmico de uma máquina, ou o canto de um animal. Mas a inspiração mais profunda é aquela que vem do nada, ou do inconsciente. Eu gosto de pensar que existe outro planeta habitado por melodias. Em certo momento, em qualquer parte do dia, pode surgir um canto que captura minha atenção. Às vezes, ele se desfaz no nada, às vezes, termina em um álbum. Gosto de Debussy, Gosto de Duke Ellington, Miles Davis, Paul Desmond. Gosto de rock inglês, os Beatles, os Pink Floyd. Gosto de MPB e samba brasileiro, da bossa nova de João, do choro e do forró. Gosto da "canción sudamericana" de Violeta Parra, dos cantores e compositores que marcaram a história da América do Sul. Gosto da música centro-americana, do som cubano, dos boleros, da cumbia. Mas, acima de tudo, gosto da música tradicional de cada povo.”, Kim Nahuel

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