Os Jogos Olímpicos, que ganham visibilidade no mundo inteiro, são uma grande oportunidade para reforçar essa igualdade de oportunidades entre homens e mulheres. Este ano, nos jogos de Paris, pela primeira vez na história das Olimpíadas, haverá igualdade total de gêneros nas cotas de vagas para Paris 2024.
Os movimentos feministas no mundo e no esporte têm ajudado a ampliar a presença das atletas nas competições. Nos Jogos de Los Angeles, em 1984, elas representavam 23%; passando para 44% em Londres 2012, e 48% em Tóquio 2020. Agora, as mulheres finalmente conquistaram uma proporção igualitária nas Olimpíadas de Paris, atingindo o equilíbrio de 50/50 neste ano de 2024.
Um dos exemplos das movimentações dos últimos anos é do time brasileiro, que irá representar o país nos Jogos Olímpicos de Paris e deverá ser composto por mais mulheres do que homens pela primeira vez na história da competição. Nunca o total de brasileiras foi maior que o de brasileiros entre os enviados a uma Olimpíada.
Essa representação é fundamental para inspirar as gerações futuras. Nomes como Rayssa Leal e Marta Vieira da Silva já são responsáveis por moverem uma legião de mulheres e meninas em direção a esportes como o skate e o futebol. Mundialmente, Serena Williams e Simone Billes também são outros exemplos de mulheres que brilham e inspiram gerações.
Outros nomes que também despontam em relação à representatividade feminina nos esportes, mais especificamente no surfe, são os de Tatiana Weston-Webb, Luana Silva, Tainá Henckel, que fazem parte da delegação brasileira de surfe nestes Jogos Olímpicos de Paris. Esta é a segunda vez que o surfe passa a integrar o quadro de práticas esportivas olímpicas, e a inclusão do esporte, bem como de integrantes femininas, têm gerado impacto positivo para as futuras gerações de atletas e esportistas.
A ex-surfista profissional Nuala Costa, desde 2016 fundou a ONG Todas Para o Mar, na praia de Maracaípe, litoral sul de Pernambuco. O projeto nasceu com o objetivo de auxiliar crianças e jovens através do surfe, conscientizando a população sobre o empoderamento feminino e também práticas antirracistas, e tem registrado uma presença massiva de meninas em busca das aulas de surfe. Atualmente, são atendidas cerca de 120 mulheres e 80 crianças e adolescentes na faixa entre 7 e 17 anos.
“Muitas meninas têm nos procurado para aprender a surfar e, consequentemente, tentar seguir a vida no esporte. É muito importante a ampla representação de atletas femininas, seja no surfe ou em qualquer outro esporte. As crianças e adolescentes se inspiram e se reconhecem nessas figuras femininas e se sentem livres e capazes também para poderem praticar o esporte que gostam”, conta Nuala.
Além do esporte, a ONG também aborda questões de empoderamento e de empreendedorismo para a comunidade local, fortalecendo as mulheres não só nos esportes, mas em todos os aspectos de suas vidas, num total de cerca de 250 famílias da localidade, com oferta de cursos profissionalizantes semanais como o Prospera Mulher (estética), de empreendedorismo através do artesanato e também de capacitação produtiva para pescadoras. A ONG também promove encontros como o Todas Podem Menstruar!, que aborda a saúde feminina e dignidade menstrual.
ESPORTE PARA A VIDA
Para além da conquista de campeonatos e medalhas, os esportes também ajudam as mulheres a levarem uma vida mais saudável e, consequentemente, com a autoestima mais elevada. Segundo um estudo publicado no Journal of the American College of Cardiology, ouvindo 400 mil pessoas adultas, as mulheres que praticavam exercícios físicos tinham 24% menos probabilidade de morte por qualquer causa em comparação com aquelas que eram sedentárias. Já os homens tinham 15% menos risco de morte por qualquer causa em comparação com os que não praticavam atividade física. O risco de câncer de mama, por exemplo, pode ser reduzido em 40% com atividades físicas regulares e práticas saudáveis, incluindo bons hábitos alimentares.
“A prática de exercícios físicos traz melhorias não somente na saúde, mas na qualidade de vida como um todo. E nós vivenciamos isso diariamente ao atender mulheres na ONG Todas Para o Mar. Muitas vezes encontramos mulheres adultas e até bem mais jovens sem direcionamento do que podem fazer na vida, dos seus potenciais e, no fim das contas, acabam se redescobrindo por meio de práticas esportivas como o surfe. É algo libertador para elas e para nós que podemos proporcionar essas mudanças”, descreve Nuala Costa.
No Brasil, ainda cerca de 65% da população brasileira com 18 anos de idade ou mais não pratica nenhum tipo de atividade física. No recorte por gênero, escolaridade, renda, classe social e deficiência os dados ainda chegam a ser piores, com as mulheres sendo 40% inferiores em relação aos homens.
“É isso que pretendemos mudar, e já começamos a transformar a realidade local em Maracaípe. Mulheres que cuidam de suas casas, da rotina de seus filhos e convivem com condições socioeconômicas dificultosas estão tendo uma nova chance na vida com a Todas Para o Mar e um ‘oceano’ de oportunidades”, reforça Nuala.
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