Fotos que se transformam em desenhos. Essas Ilustrações revigoram a narrativa captada há tempos. A lição dessa transposição se dá pelo cuidado, afetividade e apego à história alheia. Este é um dos motes do último episódio da série “Nosso Ofício”, que o Canal Futura exibirá nesta segunda-feira (16/9), às 23h. Realizada em parceria pela Rima Cultural e Ateliê Produções, a série conta com 13 episódios, que são exibidos semanalmente, sobre profissões cada vez mais raras na rotina atual das cidades brasileiras.
Na era automação, da internet das coisas e da inteligência cada vez mais artificial, um estudo deste ano da Universidade de Brasília revela que mais da metade dos empregos formais do Brasil (54%) devem ser substituídos por máquinas. Até em mercados como o norte-americano, a previsão é de que 40% das ocupações atuais devem encolher até 2030, como aponta recente relatório da McKinsey & Company. A guinada digital, encarada como irreversível, promete deixar marcas. E saudades.
Em “Nosso Ofício”, optou-se por fugir do big data e do universo dos robôs para mergulhar no cotidiano de profissões raras ou antigas que ainda surgem como espaço de memória e de permanência. Todos os personagens têm palcos comuns, cidades brasileiras que registraram, nas últimas décadas, transformações socioeconômicas significativas, em parte fruto da ambivalência entre o digital e o manual.
A existência, quase resistência, sustenta-se na história construída, mas também no papel que cada mestre ainda ocupa na vida de dezenas de famílias. Uma relação viva entre pessoas, serviços, produtos. É o caso do abridor de letras de embarcações, do amolador de facas, da erveira, do tipógrafo, do afinador de pianos e do protagonista do 13º capítulo do programa, Mestre Júlio, responsável por pintar retratos e paredes dos lugares que já passou. Todas essas pessoas são as estrelas retratadas ao longo dos 13 episódios.
“Temos diversidade de sotaque e de cenário, o que influencia no visual e no conteúdo da produção. Enquanto diretora, foi uma experiência muito intensa e marcante; uma das mais marcantes, em 15 anos de carreira, por essa quantidade, intensidade e tempo de filmagem envolvido. São 13 personagens, três dias com cada um deles, o que faz com que a gente se aproxime muito rapidamente deles, vive intensamente esses três dias em todos os sentidos. Não há como não estabelecer afeto com essas pessoas, porque tratamos de ofícios que estão se tornando muito raros”, salienta Tuca Siqueira.
Na produção, rodada em sete estados brasileiros (Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Pará, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Ceará), testemunhos ilustram particularidades e, sobretudo, semelhanças entre protagonistas de um mundo “questionado” pelo ritmo intenso, pelo vínculo efêmero, pela praticidade insistente de um tempo feito em série, marcado muito mais por cópias do que originais.
Ao longo dos 13 episódios, o espectador levava consigo a reflexão sobre cada “fazer”, acompanhada pelo “sentir”, expressando outras visões de mundo sobre os ofícios. Muitos personagens alcançaram o público: O Dr. Brinquedo, por exemplo, aborda a lembrança, o Lambe-Lambe, a atenção, o Fotopintor, a dedicação e o Luthier de Acordeom a relação com a paciência. Esses sentimentos são retratados a partir da visão de artistas, filósofos, sociólogos, psicanalistas e escritores. Longe dos relatórios futuristas para saber “onde vamos”, refletem sobre o “onde estamos”.
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