terça-feira, 9 de abril de 2024

Espetáculo “DOA, VOA!” estreia com apresentações gratuitas no Recife

 


A artista da dança e bioarquiteta Duda Freyre escolheu a comunidade de Apipucos, na zona norte do Recife, onde vem construindo uma relação de afeto, trabalho social e fortalecimento da periferia, para ser o primeiro território da capital pernambucana a receber o espetáculo de dança contemporânea “DOA, VOA!”.
A estreia da temporada está marcada para o próximo dia 18 de abril (quinta-feira), com apresentações extras nos dias 20 e 21 (sábado e domingo), sempre às 19h30, na sede do Grupo de Idosos Eternos Aprendizes. O acesso é gratuito e aberto ao público de todos os gêneros e idades. A realização deste solo conta com recurso da Lei Paulo Gustavo - Recife.


DOA, VOA! traz a figura de uma “mulher guerreira” que carrega facetas ancestrais e contemporâneas, partindo de um imaginário coletivo palpável, reconhecível, concreto e visível aos olhos. A narrativa transporta quem assiste a um universo ainda mais particular, convidando a adentrar em lugares mais profundos do “sentir” dessa mulher. Despida de um passaporte social usual para mulheres agricultoras, a mulher guerreira pulsa e transborda com ajuda do figurino que expõe suas estruturas corporais com respirações e tensionamentos. A artista dialoga com um diafragma com cerca de três metros de palha e com um “zome” com ripas de bambu amarradas em espiral. É como se o “zome” fosse um corpo-casa, uma estrutura que acolhe as entranhas invisíveis e subjetivas. Nas últimas cenas, a mulher, livre e brincante com uma enxada na mão, dança a própria vida.  


A circulação do espetáculo de dança contemporânea “DOA, VOA!”, que já esteve no litoral de Serra Grande, no estado da Bahia, é também um processo de troca de saberes com mulheres sobre arquitetura com bambu e palha. Diante de um déficit habitacional de 5,876 milhões de moradias em 2019, o espetáculo vem difundindo conhecimentos básicos em bambu e palha por onde passa, oferecendo um pontapé inicial para pessoas interessadas em bioarquitetura a ter mais autonomia na construção de espaços saudáveis. O trabalho mescla conhecimentos da dança e da construção sustentável, propondo reflexões acerca de estruturas têxteis, fazendo também uma relação entre tecidos musculares do corpo humano e tecidos de estruturas arquitetônicas.


A investigação da criação perpassa pela ideia de “corpo-casa”, entendendo os corpos edificados (casas) como possíveis extensões dos corpos humanos. Neste trabalho, Duda Freyre relaciona os ossos com estruturas de uma casa com “peles e fáscias”, com tecidos de diferentes densidades e flexibilidades.


O nome do espetáculo ‘DOA, VOA!’ (Dança Obra Arte, Vida Obra Arte!) remete ao voo, no sentido de construção daquilo que acredita e através desse fazer, desse tecer, libertar a própria existência na espiral da vida, sabendo que toda construção perpassa também por reconstruções. Se considerarmos a casa uma extensão do corpo humano e um corpo vivo, podemos construir paredes que respiram, observar que o teto liga esse corpo ao céu e o chão o conecta com a terra. “As construções de corpo e casa afetam as pessoas, a sociedade e impactam o ambiente. A construção desse corpo-casa pode ser saudável, seja para quem habita esse corpo, seja no que ele reverbera no planeta. Provocamos reflexões sobre a relação das pessoas e a construção de suas casas em seus territórios, numa perspectiva ética e política do cuidado e do bem viver”, explica a artista e bioarquiteta Duda Freyre.


Bioconstrução do cenário com bambu e palha em Apipucos - Duda Freyre vem aprofundando sua pesquisa de movimento e está ávida por apresentar pela primeira vez no Recife. A artista escolheu começar pela comunidade de Apipucos porque vem realizando um trabalho neste território desde abril de 2019, quando foi criado o Luíla e Pretinha Cineclube e em 2021, a coletiva Mulheres LP. Em cada local onde o projeto “DOA, VOA!” pousa, há a construção de um “zome” com bambu e um “diafragma” com palha, que compõem o cenário do espetáculo. Ao final das apresentações fica à critério da comunidade se deseja dar algum uso ao zome.


Com apoio das parceiras dos trabalhos sociais realizados por Duda Freyre no território, Adriana Bezerra Silva, Graça Nascimento e Conceição Ferreira da Silva, o “zome” de Apipucos foi construído pelas mãos da artista com duas mulheres de outras localidades, onde Duda Freyre tem o desejo de levar também o projeto em momentos oportunos. Foram convidadas para participar da construção da estrutura de bambu que compõe o cenário, sendo elas Alda Arantes, do Coletivo de Mulheres de Jaboatão, e Thamiris Santos, coordenadora estadual do MTST de Pernambuco que mora na zona sul da cidade. Há uma troca de saberes entre mulheres diversas que vivenciam realidades distintas, mas que se reconhecem no olho a olho de lutas semelhantes.


“Eu fiquei muito feliz com o convite que Duda me fez para um treinamento de como trabalhar com o bambu. A gente esteve na construção do zome que é o cenário do espetáculo de dança. Eu que sempre fui amante da dança estou muito emocionada em estar fazendo parte deste projeto que está me ajudando financeiramente também. É uma realização pessoal”, expressa Alda Arantes. “Trabalhar com o zome está me mostrando uma experiência única de desenvolvimento e de aprendizado para passar para outras pessoas. Manusear o bambu me mostrou uma outra realidade de construção, de equilíbrio, de paciência, e me trouxe a esperança de levar uma técnica para dentro da comunidade. Conhecer Graça, conhecer Alda, Adriana, conhecer outras mulheres que são de luta, mulheres que têm um potencial de aprendizagem dentro do seu território, está me fazendo muito feliz!”, demonstra Tamires Santos.


“A união da consciência corporal, da compreensão da dança como algo pertencente ao nosso cotidiano, da necessidade de construção com afeto, harmonia e prazer, da feitura de um espaço que terá uma memória estética, que terá vivências de corpo, de dança, para a construção dos corpos necessários, seja a casa ou um banheiro seco, ou mesmo uma cisterna. Para cada corpo, uma estrutura coreográfica”, nos revela a artista Duda Freyre sobre a criação.


Cenário, figurino e dramaturgia - Geórgia Victor, designer que desenvolve objetos para reabilitação motora e fins educativos, compartilhou com Daniel Malaguti o desafio da composição de figurino e cenário, que se relacionam intrinsecamente no espetáculo. Thiago Oliveira, artista e artesão de palha, pela terceira vez monta a estrutura de um diafragma de cerca de três metros em palha. Um cenário que se conecta com o figurino, o vocabulário coreográfico explorando movimentos em relação com o próprio cenário, que também serviu de referência para construção da trilha sonora, que foi criada por Eric Caldas, através de suas "compostagens sonoras".


Para composição das estruturas de dança, Duda Freyre conta na dramaturgia com Isabel Tica Lemos, artista que abriu os caminhos do Contato Improvisação no Brasil. O Contato Improvisação é uma das referências do campo da dança e umas das referências da pesquisa, em que a dança acontece fruto da escuta interna de si e do outro. O espetáculo é todo improvisado, com estruturas construídas por Tica e Duda. Tica Lemos esteve no Recife em março, quando trabalhou com Renata Camargo na orientação dramatúrgica para preparação corporal da artista, aprofundando as atmosferas criadas e colaborando na criação de repertório da artista a partir da improvisação. Ana Bevilaqua, segue na preparação corporal on-line com suas aulas regulares de Movimento Fundamental e a artista conta ainda com treinos assistidos com o personal trainer Lucas Temporal e Victor Monteiro em sessões de fisioterapia. 


SERVIÇO:

“DOA, VOA!”

Datas de estreia no Recife: 18, 20 e 21 de abril (quinta, sábado e domingo)

Horário: 19h30

Local:  Sede do Grupo de Idosos Eternos Aprendizes, Rua Caetés, 592, Apipucos, Recife-PE.

Ingressos: gratuito, link na bio do Instagram @‌doavoa8. Retirada 1h antes do espetáculo iniciar – capacidade 50 pessoas. Em caso de não comparecimento, os ingressos serão redistribuídos no horário do espetáculo.

Faixa etária: livre

Instagram: @‌doavoa8


FICHA TÉCNICA:

Concepção: Duda Freyre

Dramaturgia: Tica Lemos

Cenário: Daniel Malaguti e Geórgia Victor (Laboratório de Investigação em Livre Desenho da PUC-Rio)

Confecção do diafragma: Thiago Oliveira e Duda Freyre

Confecção do zome: Alda Lisiane de Arantes, Thamiris Santos e Duda Freyre, com a ajuda de Adriana Bezerra Silva, Graça Nascimento e Conceição Ferreira da Silva

Coleta e beneficiamento do bambu: Edegar Miranda

Preparação corporal (dança): Renata Camargo e Ana Bevilaqua

Preparação corporal (personal trainer): Lucas Temporal

Iluminação: Natalie Revorêdo e Veronika Mayerboek

Fisioterapeuta: Victor Monteiro

Figurino: Geórgia Victor e Joana Pena

Compostagem sonora: Eric Caldas

Produção Executiva: Marcela Paes e Adriana Bezerra Silva

Acessibilidade comunicacional: Jessica Santos e Michell Platini

Catering: Graça Nascimento

Assessoria de Imprensa: Alcateia Comunicação e Cultura (Dea Almeida)

Mídias Sociais: Mirella Alves

Design gráfico: Gabriela Araújo e Eduardo Souza

Apoio: Grupo de Idosos Eternos Aprendizes, Mulheres LP e Conselho de Moradores de Apipucos

Agradecimento Especial: Paloma Granjeiro

 


MINIBIOS DA EQUIPE DE CRIAÇÃO


Duda Freyre - Realiza trabalhos de criação e produção cultural, especialmente na área da dança. Pesquisa a relação das artes e meio ambiente e a interlocução entre dança e arquitetura neste contexto. Graduada em arquitetura pela FAUPE e em Dança pela Faculdade Angel Vianna (RJ), é especialista em Dança como Prática Terapeuta pela Faculdade Angel Vianna (PE/RJ). Co-fundadora do Luíla e Pretinha Cineclube e Mulheres LP.


Tica Lemos - Formada pela School of New Dance Development (Holanda). Introduziu o Contato Improvisação no Brasil. É fundadora e diretora e interprete-criadora do Estúdio Nova Dança e da Cia. Nova Dança 4.  É criadora do projeto e do Coletivo Juanita. É 5º dan do Aikido; e é Hakama de Kinomichi.  Ama Capoeria e Coentro.


Ana Bevilaqua: é Bailarina e atriz, Doutoranda em Artes Cênicas na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Mestre em Teatro e Bacharela em Artes Cênicas pela mesma Universidade. Analista de Movimento Certificada (CMA) pelo Laban/Bartenieff Institute of Movement Studies (LIMS-NY). Faz parte da Cia. AtoresBailarinos do Rio de Janeiro, dirigida e coreografada por Regina Miranda, há mais de 30 anos. Atua também como preparadora corporal e diretora de movimento em teatro. Professora da Angel Vianna Escola e Faculdade de Dança desde 2006. Coordenadora da pós graduação em Sistema Laban/Bartenieff, na FAV desde 2014 e Coordenadora dos cursos de Graduação na FAV desde 2018.


Renata Camargo: Paulistana e Pernambucana no coração, é Doutoranda em educação, mestre em educação, Pesquisadora vinculada ao CNPq, do núcleo de pesquisa Oficina de Pensamento Poéticas do Cuidado e Ontologias da Resistência da UFPE. Trabalhos de Pesquisas formais e não formais em educação, teatro, dança e cinema, cujo mote é o corpo; os corpos e suas danças, suas expressões e seus transes em artes, práticas e éticas de viver. Fisioterapeuta pela PUCCAMP e Bailarina, cujo mestre maior foi e continua sendo Klauss Vianna.


Eric Caldas - biólogo, músico e colaborador com o projeto DOA, VOA! na compostagem sonora do espetáculo.  A inspiração para criação sonora tem como base a música da floresta, dos elementos naturais e do trabalho com a terra, utilizando sons desde ferramentas como facão e enxada, a instrumentos artesanais como maracas, chocalho de sementes, pedaços de madeiras, rabeca, flautas de bambu, tambor.


Daniel Malaguti - Professor e Supervisor da ênfase Design: Sustentabilidade Ambiental, Social e Humana do Departamento de Artes e Design da PUC-Rio. Doutor e Mestre em Design, foi pesquisador do Laboratório de Investigação em Livre Desenho (LILD), onde desenvolveu pesquisa aplicada sobre estruturas leves e materiais naturais. Permacultor e Instrutor de PDC (Permaculture Design Course) pela Rede Permear de Permacultores. Tem especial interesse em design ambiental e regenerativo, pensamento sistêmico e na junção dos saberes tradicionais ancestrais com os saberes científicos atuais.


Georgia Victor - Georgia Victor - designer, com doutorado em Design para Saúde, terapeuta corporal e professora de Anatomia Ativa e Redesign Corporal na Escola de PósGraduação em Medicina – MedPuc e na Pós-Graduação na Faculdade de Dança e Recuperação Motora Angel Vianna – Rio de Janeiro – Brasil, pesquisa o tecido fascial há 20 anos, desenvolve metodologias ativas ensino-aprendizagem e modelos tridimensionais que simulam a dinâmica das cadeias mio-faciais. Coordenadora do FásciaLab na Medpuc-Rio.


Thiago Oliveira - Baiano da cidade de Canavieiras é artista com 15 anos de trajetória transformando folha de coqueiro em peças de arte 100% sustentáveis. Atleta de slackline e artista do equilíbrio, compôs a Escola de Circo Synergika em apresentações, performances e oficinas na cidade de Gênova - Itália entre os anos de 2014 e 2019. Há 4 anos reside em Serra Grande - BA, onde está a frente da Origami Baiano, marca que vem se consolidando no mercado da decoração ecológica, moda sustentável e arte tradicional.


Mulheres LP: coletiva de Mulheres que se conheceram construindo o cineclube e seguiram aprofundando com foco maior em trabalhos de educação, cultura e geração de renda. As Mulheres LP já criaram uma videodança com a artista, fruto de parceria com a UFPE. Além de atuarem na pandemia com trabalhos voltados à crianças, realizaram um diagnóstico no território e atualmente escrevem projetos com foco em melhorias baseadas no que foi levantado.


Grupo de Idosos Eternos Aprendizes: O Grupo de Idosos Eternos Aprendizes é uma Entidade Social, sem fins lucrativos, criado em 2001. Com sede própria na Rua Caetés, 592 Apipucos. Tem como objetivos: Defender os direitos dos Idosos, desenvolver atividades culturais, recreativas e de lazer aos associados. Promover o lazer como fonte de terapia e criar hábitos saudáveis que melhorem a saúde dos associados. Manter laços de camaradagem, de fraternidade e de união entre os associados.


Alda Arantes: mãe solo, tem um rapaz de 17 anos.  Formalmente desempregada há três anos, mesmo tendo 2 graduações, paz parte do Coletivo de Mulheres de Jaboatão, movimento que se articula com o Fórum de Mulheres de Pernambuco e com a Rede de Mulheres Negras de Pernambuco. Voluntária do Somos Todos Muribeca, uma ONG que se localiza na antiga Muribeca Conjunto.


Thamiris Santos: mãe de nove filhos, luta todos os dias por direito à moradia pelo MTST Pernambuco. É coordenadora estadual do movimento MTST, coordenadora de agroecologia, e participa da AUP (Articulação de Agroecologia e Agricultura Urbana e Periurbana do Recife). Ama viver na luta por todos e todas.


Marcela Paes: Empreendedora, pós-graduanda em Psicologia Organizacional, Coaching e Inovação pela UNIT-PE, graduada em Gestão de Eventos pela Faculdade Senac Pernambuco com título de Láurea Acadêmica e Prêmio em pesquisa e extensão sobre Marketing de Eventos. Atua em produção de eventos desde 1988, especializando-se em Experience Design em Eventos, Gestão e Ativação de Marcas Patrocinadoras, Marketing e Comunicação de Eventos desde 2017, ministrando cursos e palestras na área. Dirige, desde 2021, a Comunicação do Festival Panela do Jazz.


Adriana Bezerra: Bacharel em Administração de Empresa, cursou pós-graduação em “Educação Especial”. Liderança na Comunidade de Apipucos, faz parte da gestão escolar na Creche Nossa Senhora das Dores. Atua junto ao conselho de moradores executando várias ações junto a este conselho na linha educacional e cultural junto às crianças e jovens da comunidade. Em 2019 co-fundou o Luíla e Pretinha Cineclube, foi membro efetivo do GT de memória, bem como esteve a frente de projetos como da Farmácia Viva. Participou do Corona Lab e do projeto de Extensão em Dança com a artista Duda Freyre, com apoio da UFPE. Também fez parte do Laboratório Recife/Monique de audiovisual promovido pelo Luíla e Pretinha Cineclube.

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