A produção reflete sobre como a restituição dos acervos nacionais, alguns dos quais levados para o exterior, contribui para valorizar as tradições e resgatar a memória e a identidade das populações indígenas. O conteúdo fica disponível também no app TV Brasil Play.
Exemplo de manto Tupinambá
Liderança indígena da Serra do Padeiro, no sul da Bahia, Glicéria Tupinambá comenta o retorno do manto Tupinambá, que há quase quatro séculos está no Museu Nacional da Dinamarca, em Copenhague. "Esse manto vem para fortalecer e dizer que nós existimos, resistimos e permanecemos aqui na resistência, sempre", afirma a pesquisadora e artista.
A volta do manto, que será doado ao Museu Nacional, no Rio de Janeiro, ainda neste ano, segue um movimento de repatriação de artefatos aos países colonizados e seus povos originários, especialmente os do sul global. Funciona também como um fator de unidade e de restauração do território Tupinambá, comunidade que foi apagada com a chegada dos colonizadores europeus.
O antropólogo João Pacheco analisa esse contexto. "Os jesuítas começaram a empreender um processo de catequização nas aldeias, e [os indígenas] eram, de certa maneira, forçados a abandonar as práticas tradicionais deles de cultura, de religião, para se converter ao catolicismo. De lá para cá foi sempre uma história de invisibilidade", explica.
Além disso, para os Tupinambá, os objetos são entidades, destaca a antropóloga Renata Valente: "É um antepassado que dialoga com eles, que ensina o caminho, que de uma certa maneira orienta na luta pelo território deles", menciosa a estudiosa.
Reparação histórica
O programa da emissora pública aborda os benefícios dessa restituição. A partir do momento que o manto Tupinambá passa a ser reativado, há o ganho de espaço de uma nova discussão, reforça a secretária de Articulação e Promoção de Direitos Indígenas Joziléia Kaingang. "A gente pertence a um lugar. Para os Tupinambá também é assim. A reconstrução do manto, a reaproximação faz com que o território Tupinambá também se fortaleça e os Tupinambá se apropriem do território do manto", declara.
A historiadora Márcia Chuva acrescenta que o retorno desses objetos ajuda a recompor histórias, identidades e cidadanias. "A repatriação, restituição ou devolução de artefatos dos povos originários é um movimento que mostra que esses objetos estão vinculados às populações do presente e não é um problema do passado. Na verdade, quem reivindica são as populações que vivem hoje e sentem a perda daquele objeto. As demandas por restituição são no sentido de reparar dores, sofrimentos, feridas", diz.
Retorno de acervo nacionais
O Caminhos da Reportagem ainda apresenta outra situação relacionada a acervos nacionais que podem ser enquadradas no movimento de repatriação. O Museu do Índio, no Rio de Janeiro, conseguiu a devolução de mais de 600 artefatos indígenas, que estão de forma irregular no Museu de História Natural de Lille, na França.
O conjunto ficou pelo menos 15 anos no museu europeu e deveria ter retornado em 2009, segundo o governo brasileiro. Entre os itens, um tronco de madeira usado pelos Kamaiurá durante o Kuarup, ritual de despedida dos mortos.
A indígena Kanaiaku Kamaiurá fala sobre o assunto. "Ele é um ritual onde a família que perdeu seu ente querido faz esse processo para retirada do luto. É um dos rituais mais longos que tem. O pajé entra na mata e escolhe o tronco que vai receber o espírito daquela pessoa que se foi para ser levado para o centro da aldeia e ser enfeitado. A família poder chorar pela última vez", elucida.
Juliano Almeida, coordenador de patrimônio cultural do Museu do Índio, afirma que trazer esses acervos de volta significa oferecer instrumentos de luta e garantir os direitos dos povos indígenas. "As comunidades, os povos indígenas que têm relação com os objetos, eles precisam ter resguardado a eles o direito de se aproximar das peças, de interagir com as peças, porque tudo para nós tem uma conceituação espiritual", enfatizou Joziléia Kaingang.
Ficha técnica
Reportagem: Luciana Góes e Priscila Thereso
Roteiro e edição de texto: Luciana Góes
Edição e finalização de imagem: Eric Gusmão
Produção: Luciana Góes
Apoio à produção: Yuri Griem (estagiário)
Reportagem cinematográfica: Eusébio Gomes, Gilson Machado, Luciana Góes, Priscila Thereso e Rodolpho Rodrigues
Auxílio técnico: Yuri Freire
Arte: Alex Sakata e Caroline Ramos
Sobre o programa
Produção semanal da TV Brasil, o Caminhos da Reportagem leva o telespectador para uma viagem pelo país e pelo mundo atrás de grandes histórias, com uma visão diferente, instigante e complexa de cada um dos assuntos escolhidos.
No ar há mais de uma década, o Caminhos da Reportagem é uma das atrações jornalísticas mais premiadas não só do canal, como também da televisão brasileira. Para contar grandes histórias, os profissionais investigam assuntos variados e revelam os aspectos mais relevantes de cada pauta.
Saúde, economia, comportamento, educação, meio ambiente, segurança, prestação de serviços, cultura e outros tantos temas são abordados de maneira única, levando conteúdo de interesse para a sociedade pela telinha da emissora pública.
Questões atuais e polêmicas são tratadas com profundidade e seriedade pela equipe de profissionais do canal. O trabalho minucioso e bem executado é reconhecido com diversas premiações relevantes no meio jornalístico.
Exibido aos domingos, às 22h, o Caminhos da Reportagem tem horário alternativo na madrugada para segunda-feira, às 2h. A produção disponibiliza as matérias especiais no site http://tvbrasil.ebc.com.br/caminhosdareportagem e no YouTube da emissora pública em https://www.youtube.com/tvbrasil. As edições anteriores também estão no aplicativo TV Brasil Play, disponível nas versões Android e iOS, e no site http://tvbrasilplay.com.br.
Ao vivo e on demand
Acompanhe a programação da TV Brasil pelo canal aberto, TV por assinatura e parabólica. Sintonize: https://tvbrasil.ebc.com.br/comosintonizar.
Seus programas favoritos estão no TV Brasil Play, pelo site http://tvbrasilplay.com.br ou por aplicativo no smartphone. O app pode ser baixado gratuitamente e está disponível para Android e iOS. Assista também pela WebTV: https://tvbrasil.ebc.com.br/webtv.
Serviço
Caminhos da Reportagem – domingo, dia 1º/10, às 22h, na TV Brasil
Caminhos da Reportagem – domingo, dia 1º/10, para segunda-feira, dia 2/10, às 2h, na TV Brasil
Site – https://tvbrasil.ebc.com.br
Facebook – https://www.facebook.com/tvbrasil
Twitter – https://twitter.com/TVBrasil
Instagram – https://www.instagram.com/tvbrasil
YouTube – https://www.youtube.com/tvbrasil
TikTok – https://www.tiktok.com/@tvbrasil
TV Brasil Play - http://tvbrasilplay.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário