De acordo com o Censo Escolar de 2022, 26.815 estudantes são identificados com altas habilidades, o que equivale a 0,5% de todos os alunos da educação básica. Já o último Censo Demográfico indica que cerca de 4 milhões de brasileiros são superdotados.
“De modo geral, a superdotação é quando alguém tem um grande talento ou habilidade que se destaca em várias áreas ou que se desenvolve ao longo do tempo”, relata Damião Silva, neuropsicólogo especialista em superdotação/altas habilidades.
Na trajetória de Michael Ramos Bencharif, atualmente com 9 anos, a superdotação sempre esteve presente. Sua mãe, Gisele Ramos Bencharif, notava peculiaridades que a deixavam intrigada desde quando ele era apenas um bebê. Ela compartilha que desde cedo Michael demandava muita atenção e sempre buscava estimulação intelectual. “Aos 4 meses, ele disse sua primeira palavra, "papai", e parecia necessitar de constante interação e aprendizado”.
Nascido no Canadá, a família de Michael retornou ao Brasil quando ele tinha 9 meses e aos 2 anos ele ingressou na escola. “Eu percebi que meu filho era diferente das outras crianças, mas não conseguia definir exatamente o que o era”, relata Gisele.
A escola, inicialmente, não compreendia suas necessidades. “Michael falava bem e corrigia a pronúncia dos adultos, mas estava frustrado, dormindo durante as aulas e rejeitando a hora da soneca, preferindo interagir com colegas. Quando perguntávamos sobre o que ele estava aprendendo na escola, a resposta era sempre a mesma: “mamãe, eu não aprendo nada aqui”. Foi aí que comecei a buscar ajuda profissional”, conta a mãe.
“As pessoas com altas habilidades ou superdotação apresentam particularidades nos estudos em relação ao ritmo e complexidade, sendo muito comum a aprendizagem rápida e sem necessidade de repetição”, explica Damião.
Após uma série de consultas com psicólogos, Michael recebeu um diagnóstico de TDAH de um neurologista. No entanto, Gisele ainda tinha dúvidas e suspeitava que algo mais estava acontecendo, pois muitos sintomas podem se confundir entre TDAH e altas habilidades.
Finalmente, Gisele encontrou ajuda com o Damião, que não só compreendeu suas preocupações, mas também ajudou a identificar que Michael estava sofrendo com uma fobia escolar e que suas necessidades eram ligadas às altas habilidades. “Um diagnóstico completo confirmou minhas suspeitas, e encontrei esperança quando Damião me explicou que a escola deveria se adaptar ao meu filho, não o contrário”.
“Após ser diagnosticado com ASHD, os pais solicitaram a aceleração de série escolar para Michael zpara amenizar os prejuízos na sua educação e saúde emocional. A escola concordou inicialmente, mas recuou citando imaturidade. O Ministério Público apoiou a aceleração, mas o Poder Judiciário exigiu mais provas, o que estenderia o processo por anos. Diante disso, a família optou por mudar de escola, ou seja, o processo não teve continuidade", destaca Denner Pereira da Silva, advogado, professor universitário, mestre em direito e pesquisador dos direitos da pessoa com deficiência e altas habilidades/Superdotação, responsável pelo caso de Michael.
Embora a mudança de escola tenha trazido algum alívio, ainda houve desafios. Como mencionou o advogado, a primeira escola não seguiu as orientações do diagnóstico, levando à transferência para outra instituição que compreendia melhor as necessidades de Michael. A aceleração e a preparação de um Plano de Educação Individual (PEI) foram passos cruciais.
“Infelizmente, os problemas associados à superdotação ainda não são de conhecimento de muitos professores, psicólogos, psiquiatras e, menos ainda, dos pais. Assim, o mais comum quando uma criança começa a "criar "problemas em sala de aula ou em casa é expressar sentimentos de insatisfação e/ou infelicidade e agressividade”, declara o neuropsicólogo.
A jornada de Michael ainda é longa, mas a compreensão das altas habilidades e o apoio adequado da escola e profissionais têm feito uma diferença notável em sua vida. A experiência de Gisele destaca a importância de reconhecer as altas habilidades e a dupla excepcionalidade e como uma abordagem adaptativa na educação pode ser transformadora.
Vivendo a Superdotação: encontro promete ser um marco no campo das altas habilidades e superdotação
Nos dias 21 e 22 de outubro de 2023, o Hotel Meliá Ibirapuera, em São Paulo, será palco do evento "Vivendo a Superdotação - 3ª Edição". Idealizado por Damião Silva, psicólogo, neuropsicólogo, pedagogo e escritor, o encontro reunirá especialistas em educação, saúde e família para abordar os principais vieses da superdotação.
Este evento promete atender a uma ampla audiência, incluindo pessoas superdotadas e seus familiares, profissionais de saúde, educadores e pesquisadores, além do público em geral interessado no tema.
Com uma lista de palestrantes, o evento garante uma troca de conhecimento enriquecedora. Além do próprio Damião Silva, destacam-se nomes como Camila Marques, Bryan Brinque, Bruna T. Trevisan, e muitos outros especialistas. A apresentação do evento será realizada pela jornalista Geovanna Tominaga.
O "Vivendo a Superdotação" será dividido em três eixos principais: educação, saúde e família. Isso garantirá que todos os aspectos da superdotação sejam explorados, proporcionando um entendimento mais profundo dessa condição e como melhor apoiar aqueles que a vivenciam.
Além do aprendizado, todos os participantes receberão certificação, validando sua participação no encontro. Os ingressos estão divididos por minicursos e palestras, disponíveis em diversos valores.
Com o compromisso de lançar luz sobre a superdotação e proporcionar um espaço de aprendizado e interação, o "Vivendo a Superdotação - 3ª Edição" será um marco no campo da educação inclusiva e na compreensão das altas habilidades e superdotação.
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