sábado, 17 de outubro de 2020

Santos e Robinho anunciam suspensão de contrato


 

O contrato entre Santos e Robinho, 36, para uma quarta passagem do atacante pelo clube, anunciado no último sábado (10), foi suspenso no começo da noite desta sexta-feira (16), após intensa pressão de patrocinadores e torcedores.

 

O atleta foi condenado em primeira instância na Itália por violência sexual de grupo, em 2017, fato que trouxe enorme repercussão para seu retorno à Vila Belmiro e levou ao menos quatro dos seus patrocinadores a exigirem a desistência do acerto com o jogador para manterem seus contratos. Ele nega que tenha cometido o crime e recorre em segunda instância da condenação.

 

Praticamente ao mesmo tempo, clube e jogador comunicaram a decisão por meio de suas redes sociais.

 

"O Santos Futebol Clube e o atleta Robinho informam que, em comum acordo, resolveram suspender a validade do contrato firmado no último dia 10 de outubro para que o jogador possa se concentrar exclusivamente na sua defesa no processo que corre na Itália", diz a nota da agremiação.

 

"Com muita tristeza no coração, venho falar para vocês que tomei a decisão junto do presidente de suspender meu contrato neste momento conturbado da minha vida. Meu objetivo sempre foi ajudar o Santos Futebol Clube. Se de alguma forma estou atrapalhando, é melhor que eu saia e foque nas minhas coisas pessoais. Para os torcedores do Peixão e aqueles que gostam de mim, vou provar minha inocência", afirmou Robinho em vídeo.

 

Não há informações sobre tempo de suspensão do acordo ou em que circunstâncias ele poderia vir a ser retomado.

 

Para ser efetivada, a contratação precisaria passar por aprovação, na próxima quarta-feira (21), do conselho deliberativo do clube, mas a pressão se tornou insustentável já nesta sexta, com as revelações pela Globo de gravações de conversas do atleta, tidas como fundamentais para sua condenação na Itália.

 

Para a Justiça italiana, o conteúdo das interceptações mostrou que Robinho e os demais acusados sabiam que a vítima, uma albanesa então com 23 anos, estava alcoolizada e incapaz de reagir ao assédio do grupo.

 

As patrocinadoras Philco, Kicaldo, Tekbond e Casa de Apostas deram então o ultimato à diretoria do clube. Outras, como Foxlux, Umbro e Kodilar, também manifestaram preocupação com o caso e avaliavam a decisão que tomariam.

 

Na quarta (14), a Orthopride, rede de franquias de ortodontia e estética, já havia rescindido seu contrato de patrocínio com o clube, iniciado em 2018 e no valor de R$ 2 milhões, por causa da contratação de Robinho.

 

Segundo a acusação do Ministério Público italiano, Robinho e outros cinco homens embebedaram a jovem albanesa em uma discoteca em Milão em janeiro de 2013, quando o atacante jogava no Milan (ITA). Ela ficou inconsciente e foi levada para a chapelaria do estabelecimento, onde foi violentada múltiplas vezes.

 

No primeiro julgamento, ele e o amigo Ricardo Falco foram condenados a nove anos de prisão e pagamento indenização de 60 mil euros -os outros acusados foram considerados incontactáveis, e o processo foi suspenso para eles.

 

A acusação foi baseada no depoimento da vítima e em conversas interceptadas do grupo de amigos sobre o ocorrido. As interceptações foram iniciadas em janeiro de 2014, em telefones grampeados e escutas instaladas no carro usado por Robinho.

 

De acordo com uma das transcrições, Robinho foi avisado da investigação pelo músico Jairo Chagas, que tocou na boate na noite em que teria ocorrido o estupro. Ele afirmou: "Estou rindo porque não estou nem aí, a mulher estava completamente bêbada, não sabe nem o que aconteceu".

 

"Olha, os caras estão na merda... Ainda bem que existe Deus, porque eu nem toquei aquela garota. Vi (nome de amigo) e os outros foderam ela, eles vão ter problemas, não eu... Lembro que os caras que pegaram ela foram (nome de amigo) e (nome de amigo) [...] Eram cinco em cima dela", completou.

 

Numa outra conversa com o músico, este pergunta a Robinho se ele não transou com a mulher. O jogador nega, e Chagas diz: "Eu te vi quando colocava o pênis dentro da boca dela". Robinho responde que "isso não significa transar".

 

No seu depoimento à Justiça, a mulher afirma que não tinha condições de falar ou de ficar em pé naquela noite e aponta Robinho como um dos envolvidos na violência.

 

DEFESA AFIRMA QUE HÁ DISTORÇÕES E CORTES NAS FALAS DIVULGADAS

Os advogados do atleta no Brasil, Marisa Alija Ramos e Luciano Santoro, afirmaram que houve divergências na tradução dos áudios do português para o italiano, além de distorções e cortes. E que isso será apresentado no recurso.

 

Segundo eles, Robinho diz que não cometeu o crime do qual é acusado e que, sempre que se relacionou sexualmente, foi de maneira consentida.

 

"Não houve violência sexual, tampouco admissão de culpa nas interceptações telefônicas, o que fica claro quando analisadas na integralidade e no contexto correto", disseram os defensores do atleta.

 

O jogador não é considerado culpado, já que o processo ainda está tramitando na Justiça italiana, composta por três instâncias. Somente depois de percorrer essas três fases, a sentença pode ser considerada definitiva, com absolvição ou condenação -e, neste último caso, com o início do cumprimento da pena.

 

A audiência no Tribunal de Apelação de Milão está agendada para 10 de dezembro.

 

"Será a primeira vez [do processo] nesse tribunal, mas não sei dizer se será a última, porque o juiz pode querer reabrir alguma questão ligada a provas, aprofundar alguma coisa, ouvir novamente alguma testemunha", disse à Folha de S. Paulo no início da semana o advogado Alexander Guttieres, que representa Robinho ao lado de Franco Moretti. Os dois escritórios, sediados em Roma, assumiram o caso depois da decisão de primeiro grau.

 

Caso a sentença na terceira instância considere Robinho culpado, um novo processo terá início, dessa vez para decidir sobre o cumprimento da pena de prisão. A Constituição impede a extradição de brasileiros para países onde crimes tenham sido cometidos.

 

Ao site ge.globo Guttieres afirmou que a defesa argumentará que a relação foi consensual: "O artigo que enquadra meu cliente é claro: fala em induzir alguém a beber ou tomar droga com objetivo de usufruir dela sexualmente. Não há provas de que isso aconteceu. Fazer sexo com uma pessoa bêbada ou drogada não fere a lei. Não estou dizendo que ele [Robinho] é uma pessoa perfeita. Ele mesmo reconheceu ter tido uma conduta pouco séria, mas crime não cometeu".

 

A defensora pública responsável pela defesa de Falco disse que não há prova de que eles deram álcool à mulher com o objetivo de se aproveitar sexualmente dela.

 

Na quarta-feira, após a notícia da perda de patrocínio por causa da contratação, o Santos publicou sua primeira nota oficial sobre o assunto.

 

"O clube não pode entrar no mérito da acusação, pois o processo corre em segredo de Justiça na Itália e sobretudo o Santos FC orgulha-se de, em sua história, sempre respeitar as garantias fundamentais do ser humano, dentre as quais, a presunção da inocência e o respeito ao devido processo legal", afirmava a nota.

 

"Não será o Santos FC que lhe dará uma sentença antecipada, prejulgando e o impedindo de exercer sua profissão", continua. "Infelizmente vivemos na era dos cancelamentos, da cultura dos tribunais da internet e dos julgamentos tão precipitados quanto definitivos, porém há a certeza que o torcedor do Santos FC entenderá que compete exclusivamente à Justiça realizar o julgamento."

 

Fonte: FOLHAPRESS

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