A multiplicidade da arte, com seu vasto universo de possibilidades, muitas vezes direciona para caminhos que expressam sentimentos simbióticos, como se pode ver na exposição “Recortes Gráficos”, que apresenta trabalhos dos comunicadores/ artistas visuais Petronio Cunha e Antonio Paes, na Arte Plural Galeria (APG), no Recife.
A abertura para convidados será na terça-feira (18.03), às 18h, com acesso ao público, gratuito, na quarta-feira (19.03).
A mostra inclui cerca de 40 trabalhos que fazem parte da trajetória de Petronio, o pai, um artista inovador que deixa sua marca em originais – colagens, painéis em azulejos, esculturas e tantas outras experimentações; mas também abre espaço para a visão de Antonio, o filho, com suas obras poéticas e conceituais.
Com mais de meio século de carreira, o arquiteto paraibano Petronio Cunha, produziu materiais gráficos icônicos, como camisas do bloco carnavalesco Eu Acho é Pouco, marcas e cartazes para o Carnaval de Olinda e Prefeitura de Olinda e participou de várias edições do projeto Arte em Toda Parte e de uma memorável mostra no Espaço Bandepe (1996).
Ele passou por Recife, Brasília, São Paulo, Paris, mas fincou raízes em Olinda, fazendo do recorte em papel e da azulejaria sua marca inconteste. Nesta exposição, a primeira em uma galeria no Recife, apresenta obras utilizando colagens em adesivo vinílico recortado.
“Petronio Cunha é uma espécie de artista patrimônio no nosso meio. Suas experimentações nas diversas linguagens artísticas e os usos e apropriações de materiais, por vezes inusuais, são vastas, plurais e desafiadoras para um mercado de arte – moderno - ainda bastante acanhado na cidade do Recife pelo menos até os anos 1990 do século vinte”, ressalta a pesquisadora Joana D’Arc Lima, curadora da exposição.
Para ela, “o gosto dele pela composição por fragmentos, digo o modus operandi do corte e do recorte e dos murais compostos por peças de azulejos, somando a isso, sobretudo o uso de uma paleta de cor, por vezes imposta pelo material selecionado, moveu sua poética e sua obra para lugares experimentais talvez únicos”, complet
“Outro aspecto relevante que esse artista possui é o exercício entre a figuração e uma abstração “orgânica” – uma poièses singular em nosso meio, da arte moderna em Recife –, em um meio com tantos apelos à uma figuração e usos de uma paleta de cor, em diálogo com aspectos de um regionalismo pernambucano. Petronio Cunha escapa dessa chave interpretativa e impositiva e caminhou com autonomia produzindo seu trabalho em diálogo com projetos estéticos internacionais. As viagens que realizou durante os anos 1970 podem ter contribuído para a ampliação de seu olhar para o local’, explica a curadora.
A formação de Petronio em arquitetura ampliou o seu olhar para os espaços e suas ocupações. A maneira com que ele compõe o espaço, seja o bidimensional ou o tridimensional, antecede sempre o desenho, o risco e o rabisco que estão presentes em inúmeros cadernos guardados em seu arquivo pessoal.
“Como um bom arquiteto/artista, os desenhos técnicos foram substituídos por grafismos marcados pelo gestual e orgânico e aos poucos o fazer gráfico se impõe. A pesquisa dos materiais foi extremamente importante no seu processo de criação e a descoberta do adesivo vinílico trouxe para sua experiência um modo de composição onde o recorte e o gesto da colagem se tornou um exercício criativo extremamente presente”, lembra Joana D’Arc.
Outro exercício de criação emblemático em sua trajetória e em sua poética, se revela nas construções murais realizadas com azulejos. Um exercício raro entre os fazeres artísticos, que revelam sua ousadia, composição pictórica e narrativa entre a figuração e a abstração. Um jogo de linguagens que pede tempo ao observador/a para percorrer o campo cromático e as imagens que se formam com base na junção de elementos e fortemente pela composição pictórica.
Conexão – Esta exposição é um momento de reconhecimento ao artista Petrônio, mas também ao filho, que tanto aprendeu na vivência familiar. “Uma oportunidade para mostrarmos a imensa conexão que temos por meio da arte”, afirma Antonio, que apresentará trabalhos como desenhos, recortes e impressões utilizando a técnica do “Pochoir”, semelhante ao estêncil.
Antonio Paes tem contato com as artes desde a infância, por ser filho de artistas. “Assim, o jovem artista foi se formando e produzindo trabalhos que dialogam com os de Petronio Cunha, contudo sua pesquisa acompanha referências da cultura visual interdisciplinar: da música, sobretudo o jazz, da gravura e da ilustração, passando pela organicidade da paisagem natural: rizomas, folhas, arbustos. Ou seja, seus interesses acompanham igualmente o mundo em que está imerso. Da cultura pop e de massa o atravessamento do silêncio das plantas e do seu desenho ocupa os últimos trabalhos deste jovem e inquieto artista. Que cuida do arquivo pessoal de Petronio Cunha e ao cuidar aprende e reaprende parte importante da história da arte em Pernambuco. Seus trabalhos estão carregados destas experiências. Daí a importância desta exposição, deste diálogo visual, desta cartografia que junta, justapõe e separa igualmente os dois artistas”, completa.
Relíquias– A exposição terá, ainda, um espaço ritualístico, com originais de cadernos de desenho de Petronio, mostrando seu processo criativo. Outra surpresa são esculturas feitas em arame por eles, que consideram significativas para a vivência e para a relação entre pai e filho. Esse conjunto de trabalhos escultóricos são expressões tridimensionais, vazadas, leves como riscos e rabiscos que se impõem de maneira lúdica no espaço.
São pequenas esculturas que se deixam atravessar pelo espaço: o vazio se torna a grande questão delas. Como se fossem retiradas do bidimensional e ganhassem o espaço tridimensional: uma dança, um gesto, uma linha, ao meu olhar, pura poesia. Um exercício gráfico que marca o processo de criação de pai e filho em diversos suportes. Eles se encontram nesta exposição por similitudes na maneira de construção e representação visual, pelo afeto compartilhado, pelos saberes trocados, afinal um alimenta o outro.
Serviço
Exposição “Recortes Gráficos”, com obras dos artistas visuais Petronio Cunha e Antonio Paes
Onde: Arte Plural Galeria (Rua da Moeda, 140 – Recife Antigo - Recife/PE
Quando: terça-feira, 18 de março, 18h às 21h(para convidados)
Visitação do público, a partir da quarta-feira, 19.03.2025: de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h, e aos sábados, das 14h às 18h
Entrada franca
Instagram: @arte_plural_galeria
Nenhum comentário:
Postar um comentário