Em busca de ampliar vozes, percepções, conhecimentos e sabedorias ancestrais, e também de experenciar uma relação simbiótica com as pessoas e com a natureza de cada caminho cruzado, três mulheres pernambucanas, artistas da dança e pesquisadoras, Drica Ayub, Isabela Severi e Silvia Góes, saíram da capital e pegaram estrada rumo à execução da pesquisa “Mulher Território: nossas marcas e raízes plurais” propondo investigar a troca entre mulheres e seus territórios, as tecnologias e as narrativas contra coloniais, sob uma perspectiva corporal. A única certeza, até então, era a proposta de se debruçarem em uma análise antropológica de dois especiais lugares do Estado: a Aldeia Agreste de Cima do território Pankararu, no Sertão, e o Centro Cultural Quilombo do Catucá, esse situado em Camaragibe, na Região Metropolitana do Recife - povos indígenas e negrodescentes.
A partir daí, muitos foram os encontros e atravessamentos entre pesquisadoras e mulheres nativas de cada local. O conteúdo absorvido por meio das histórias ouvidas, das sensações dançadas e dos costumes vistos será transmitido em uma residência artística em dança, a ser realizada nos próximos dias 15, 16 e 17 de dezembro, na Casa de Xamanismo Centro da Terra, que fica no km 14 de Aldeia, em Camaragibe. As inscrições já estão abertas para mulheres acima de 18 anos e podem ser realizadas por meio do link disponibilizado na bio do Instagram @mulher.territorio, com vagas limitadas. O projeto em dança tem incentivo do Funcultura-PE.
Trata-se de uma pesquisa que evidencia as raízes plurais, sendo essas mulheres nascidas com ascendências várias em suas singularidades, indígenas, pretas, árabes, europeias e outras origens apagadas de suas histórias familiares mestiças no processo da invasão/colonização e seus efeitos, que até hoje perduram nos espaços cotidianos. Em cada um dos dois territórios foram realizadas vivências distintas, contemplando as realidades diversas. As pesquisadoras fizeram uma “Escutação entre Elas”, no intuito de ouvir as vozes, mas também de observar os gestos dos corpos inseridos naquelas realidades. Registros audiovisuais foram realizados e, em breve, será lançada uma videodança e também um mini doc. resultante da pesquisa.
É a partir dessas vivências e imersões que as artistas oferecerão a residência artística “Mulher Território: nossas marcas e raízes plurais”, apenas para mulheres com ou sem experiência na área da dança profissional. Partilhas, rodas de conversa, mostra do material artístico colhido, vivências corporais e uma performance final estão na programação da residência.
“Muitas histórias foram ouvidas, muitos gestos testemunhados e muitas relações aprofundadas. Cada corpo pesquisador, criou suas próprias dobras e desdobramentos de cunho artístico, mas sobretudo de cunho social, político, ambiental e de modo de viver. Aqui, enfatizamos que mais que uma pesquisa em dança com resultados artísticos, é uma pesquisa a respeito dos modos de viver - que são sobretudo corporais - no intuito de fazer serem vistos esses modos tão invisibilizados e apagados na história do país. Mulher Território é um projeto caminhante, que segue se propondo a abarcar mais e mais realidades, em continuidades e novos encontros. É sagrado estarmos vivas e juntas e relembrarmos em roda quem somos e quem queremos ser!”, expressam as artistas da dança e pesquisadoras Drica Ayub, Isabela Severi e Silva Góes.
“Será uma forma de partilhar corporalmente e imageticamente alguns de nossos apanhados durante esse quase um ano de pesquisa. Dois dias é pouco para trazer o que vivemos e estamos aprendendo, reforçando o saber dos corpos, mergulhando em nós e na comunidade, porém o faremos em forma de partilha por meio de vivências e rodas de conversa. O maior aprendizado é o axé: o olho no olho, a alegria enquanto resistência, a força, fé e luta que une os povos negrodescentes e os povos indígenas. A escuta dessas vozes é a mais importante prática a ser cultivada. Elas falam sobre o respeito à terra, ao território, a ligação e conexão com seu chão e com sua comunidade. Elas falam de histórias reais e que não chegam tão facilmente assim. Os trabalhos cotidianos de forma coletivizada, partilhada, o feitio das festas e comidas. Toda cultura é dança, é música. É corpo. Este que nos foi usurpado e oprimido pela colonização. E assim também o foi o corpo do planeta e hoje vivemos o que vivemos. Este projeto fala de resgate, mas sobretudo sobre o que resistiu e precisa ser visto como forma de se estar diferentemente neste planeta em colapso. Como bem nos diz Krenak: o futuro é ancestral”, complementam as pesquisadoras.
Sobre Drica Ayub - Mãe, bióloga de formação, artista da dança, pesquisadora, performer, arteterapeuta, percussionista, educadora e produtora. Há 17 anos pesquisa as relações humano-natureza-cultura, adentrando nas construções dos corpos e suas subjetividades há cerca de 15 anos. Tece investigações que envolvem a escuta e a percepção do corpo como um canal, sobretudo de experiências; seu imbricamento com a construção das múltiplas sonoridades e a relação com suas comunidades e os seus territórios.
Sobre Isabela Severi - Artista da dança, bailarina, arte-educadora, pesquisadora e terapeuta do movimento. Busca em sua pesquisa e prática caminhos para a re-sensibilização e retomada do corpo e seus territórios, investigando temas relacionados ao saber sensível e ao cuidado como prática relacional, coletiva e política. Transita e olha para a arte-saúde-educação como possibilidade de construção de ecologias e coexistências.
Sobre Silvia Góes - Sou uma mulher parda (com sua licença, em crise com a palavra parda desde antes de...), sendo mestiça de muitos sangues vermelhos-vivos que ficaram pelos chãos do País. Nascida na cidade de Garanhuns, território onde muitos quilombos remanescentes de Palmares, depois da cruel invasão, se estabeleceram e até hoje estão, são. Mulher de raízes múltiplas, sendo indígenas as mais antigas nas histórias verbalizadas de mãe e pai. Migrei para essa terra-mangue, Recife, há mais de 30 anos, com a família inteira, para ter oportunidade de tentar cursar uma universidade. Sou artista profissional hoje desde mais de uma década e foi o Yoga também que ancorou toda a mudança de percurso dessa jornalista que foi se profissionalizando bailarina pós-graduada em dança, poeta, atriz, dramaturgista, diretora e palhaça, entre outras atuações no esperançar da lida.
FICHA TÉCNICA:
Artistas Pesquisadoras e educadoras: Drica Ayub, Isabela Severi, Silvia Góes
Coordenação de Projeto e Produção Geral: Drica Ayub
Produção Executiva: Marilia Pinheiro
Produtoras locais nos territórios visitados: Bia Pankararu e Elaine Albuquerque
Filmagem e Montagem de videos: Amandine Goisbault
Fotografia: Giovanna Monteiro
Designer: Aurora Jamelo
Preparação corporal: Lau Veríssimo
Consultoria de dramaturgia: Naná Sodré
Trilha sonora: Conrado Falbo
Assessoria de Imprensa: Dea Almeida (Alcateia Comunicação e Cultura)
Apoio: Galeria Mau Mau, Casa de Xamanismo Centro da Terra
Incentivo: FUNCULTURA-PE – Governo do Estado de Pernambuco
SERVIÇO:
Residência Artística “Mulher Território: nossas marcas e raízes plurais”
Datas: 15, 16 e 17 de dezembro (sexta, sábado e domingo)
Horário: a partir das 18h da sexta até as 17h do domingo
Local: Casa de Xamanismo Centro da Terra – Aldeia (no km 14)
Bolsas: cinco bolsas integrais para mulheres indígenas, pretas, trans e periféricas
Investimento: R$ 100 (possível), R$ 200(real) e R$ 300 (abundante)
Inscrições e mais informações: no perfil @mulher.territorio no Instagram (link bio), por e-mail (mulher.territorio.sdi@gmail.com) ou por telefone (81) 99811-7770
Público: mulheres acima de 18 anos
(Crianças acompanhadas pelas mães serão acolhidas no espaço. Teremos uma pessoa disponível para cuidá-las)
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