quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Baile do Menino Deus faz cortejo inédito pelas ruas do Recife com 300 artistas e músicos



O encanto da vivência de um Natal com alma brasileira e sem os artifícios importados das celebrações estrangeiras promovido pelo “Baile do Menino Deus: Uma brincadeira de Natal” ganha novos contornos com a realização de um cortejo inédito pelas ruas do Recife Antigo neste domingo.
A concentração será no Cais da Alfândega, a partir das 15h30, com apoteose no encontro simbólico do Natal com o carnaval através da união de pastoris, reisados e cavalo marinho com a Orquestra Sinfônica do Recife, blocos líricos e passistas de frevo. Ambos afagam a ansiedade para as tradicionais apresentações realizadas nos dias 23, 24 e 25 no Marco Zero do Recife. 


O cortejo percorre as ruas do bairro até a Praça do Arsenal da Marinha com enredo, cantores, músicos e bailarinos da ópera popular unidos a grupos de pastoril, reisado, guerreiro e cavalo marinho e, abrindo alas para o novo ciclo de festas, blocos líricos, a Orquestra Sinfônica e a passistas da Escola de Frevo do Recife no trecho final do trajeto. Serão aproximadamente 300 pessoas envolvidas diretamente no resgate de uma tradição do período natalino cuja manifestação tem sido cada vez menos recorrente. 


"Ao longo desse tempo, a gente vem ganhando um reconhecimento da imprensa local e nacional como o grande espetáculo de Natal deste país. É o reconhecimento de muito trabalho da produção, do elenco, de uma construção que já está no imaginário do pernambucano. Ficamos muito felizes com o convite da Prefeitura do Recife para fazer um cortejo natalino. Além do elenco do Baile, a gente vai agregar outras atrações que também dialogam com o Natal, como pastoril, reisado, cavalo marinho, blocos que têm linguagem que dialoga com o ciclo natalino, a Escola Pernambucana de Circo", comemora a diretora de produção do tradicional espetáculo do Marco Zero, Carla Valença, da Relicário Produções - realizadora do cortejo junto com a Prefeitura do Recife.


“As cantigas de lapinha e de pastoril acabaram se tornando marchas de bloco carnavalesco, aqui no Recife, e marchas rancho, no Rio de Janeiro. Temos dezenas de marchas de pastoras em Pernambuco que se transformaram em marchas de bloco. Esse diálogo existe. Teremos o Baile, espetáculo natalino, vamos ter reisado, guerreiro, pastoris, cavalo marinho, tipicamente do ciclo natalino. E, fechando o cortejo, teremos dois blocos clássicos - Pierrot de São José e o das Ilusões - que cantam marchas de bloco iguais às cantadas no Baile do Menino Deus”, diz Ronaldo Correia de Brito, autor e diretor do Baile.


A encenação tradicional na semana de Natal é renovada com a participação do bailarino Dimas Popping e a introdução dessa dança de rua marcada pelos movimentos robóticos e bastante popularizada por Michael Jackson no clipe de Moonwalker, a “estreia” do sanfoneiro e ícone do forró nordestino Flávio Leandro na apresentação ao ar livre (esteve no filme do Baile, de 2021) e a repaginação de cenas e composições clássicas do espetáculo. “Incorporamos novas músicas, textos e personagens, como fazemos anualmente. O Baile é um grande guarda-chuva que incorpora tudo que o Recife e o Brasil produzem. Tem um olhar para o que o mundo produz. Temos um pé no popular e na tradição, porque essa é a cultura no Nordeste, do Recife”, diz Ronaldo.


O quarteto de Mateus passa por mudança, em 2025, depois de quase uma década sem alteração. Arcoverdense e fundador da Companhia de Retalhos, Djaelton Quirino se une aos colegas e atores Sóstenes Vidal, Arilson Lopes e Daniel Barros no rodízio interpretativo dos brincantes protagonistas da narrativa em busca da casa onde nasce o menino sagrado para realizar uma festa. Ele substitui Paulo Pontes, envolvido em outros projetos artísticos no período natalino.


HISTÓRIA

O espetáculo foi lançado como livro em 1983 e, desde 2004, faz parte do calendário oficial do principal palco a céu aberto do Recife - o Marco Zero - ao lado dele, só o carnaval e a Paixão de Cristo. Em 2024, se tornou Patrimônio Imaterial da cidade - o título reconhece o prestígio de atrair milhares às apresentações anuais, ter virado filme, paradidático do MEC e inspirar montagens Brasil afora. 


O Baile tem viés sincrético e narra a busca dos Mateus sob tons existenciais e entrecortada por criaturas fantásticas da tradição, manifestações culturais legadas pela confluência dos povos formadores (negro, indígena e ibérico) - eles esbarram na dificuldade de abrir a porta da casa, ponto de conexão metafórico atemporal com a realidade para provocar reflexão sobre falta de oportunidades, exclusão, desigualdade social, privilégios, esperança de caminhos desobstruídos. A encenação costura, no palco, manifestações como cantigas, danças, brincadeiras, costumes, rezas, figuras folclóricas. A representatividade ressoa na incorporação de elementos da matriz afrodescendente e indígena com destaque da trama.


O Baile mantém um rodízio frequente, no palco, de artistas renomados da música brasileira - de Lia de Itamaracá a Elba Ramalho, Tizumba, Chico César, entre outros. Em 2025, nomes como Flávio Leandro, expoente do forró, e Maestro Spok, ícone do frevo e do jazz brasileiros, estão no elenco do espetáculo. 


A história nasceu a partir do desejo dos amigos Ronaldo Correia de Brito, Assis Lima e Antonio Madureira (Zoca) de ver um auto de Natal entremeado pelas tradições universais e brasileiras, sem reproduzir o formato importado de celebração repleto de elementos inexistentes no clima tropical. A primeira edição no Marco Zero foi em 2004, em arrojada iniciativa de levar o auto de Natal a palco a céu aberto, com acesso gratuito. 

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