Nossa mente produz sintomas, nossas crenças nos fazem adoecer ou melhorar. Nos Estados Unidos tem uma empresa que vende pílulas coloridas de Placebo e declaram que aquilo é um placebo. As pessoas compram, tomam e melhoram. E sabem que aquilo é Placebo.
Estudos com antidepressivos estão cada vez mais difíceis de serem diferenciados de Placebos, pois décadas de informação e propaganda da eficácia de antidepressivos fazem que a pessoa acredite que vai melhorar mesmo tomando uma cápsula de farinha. Os laboratórios e os centros de pesquisa estão disputando a tapa as pessoas que NÃO melhoram quando tomam o Placebo, ou seja, são pouco sugestionáveis.
O livro “Cura”, de Jo Marchant descreve um estudo encantador com pacientes que apresentavam a Síndrome do Colon Irritável, um quadro bastante desagradável e limitante, com episódios de diarreias e dores abdominais que, muitas vezes, limitam a locomoção e a vida pessoal e profissional dos pacientes. Nesse estudo, de 2008, pacientes com essa síndrome passaram por três tipos de tratamento: o primeiro grupo não recebeu tratamento nenhum. O segundo grupo recebeu um tratamento com acupuntura fake, sem relação com sua queixa, e feita por um terapeuta seco que não interagia com os pacientes. O terceiro grupo foi tratado por um acupunturista atencioso e afetivo, que passava bastante tempo na consulta e fazia também aplicações de agulhas sem relação com a queixa intestinal. O primeiro grupo, sem nenhum tipo de tratamento, teve 28% de melhora. O segundo grupo, que recebeu acupuntura de um antipático, teve 44% de melhora. O terceiro grupo, com um médico afetivo e interessado, teve um índice de melhora de, pasmem, 62%. O efeito placebo, presente em todos os que responderam ao tratamento, foi aumentado pela sensação física da agulha e duplicado pela gentileza do profissional de ajuda.
Será que vivemos num tempo em que as pessoas são tão abandonadas às próprias angústias e a um Sistema de Saúde que não dá conta de suas demandas, que o simples fato de participar de um estudo em que passam por triagens, entrevistas e, sobretudo, recebem Atenção de um grupo de pessoas, já produz um resultado positivo em 30% dos pacientes, o que mais que dobra se um profissional atencioso faz o atendimento? O caro leitor, a cara leitora podem imaginar a quantidade gigantesca de recursos que os governos e os Planos de Saúde poderiam economizar apenas enfatizando a coisa mais antiga da prática da Medicina, que consta no Juramento de Hipócrates, que é a relação Médico/Paciente?
O médico hoje é formado e pressionado para ser mais Holmes do que House. Precisa colecionar evidências como um bom detetive faria para tirar suas conclusões e iniciar tratamento. O efeito Placebo é uma distração para o cientista, em busca da precisão absoluta e imparcial do tratamento. Eu sou contra isso? Claro que não. Mas ter tempo e disposição para ouvir e um legítimo interesse em ajudar pode iniciar a cura muito antes de chegar o primeiro resultado de exame. E a relação Médico/Paciente ainda pode ser uma das melhores terapêuticas que temos à mão. Cientificamente falando.
*Marco Antonio Spinelli é médico, com mestrado em psiquiatria pela Universidade São Paulo, psicoterapeuta de orientação younguiano e autor do livro “Stress o coelho de Alice tem sempre muita pressa”
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