terça-feira, 1 de agosto de 2023

Consumo consciente de moda



A pandemia de Covid-19 causou diversas mudanças, principalmente nos hábitos de consumo da população. Nesse período, um dos setores mais afetados foi o da indústria da moda, a qual teve que se digitalizar, para passar por um momento com o qual as pessoas saíam menos de casa e compravam menos roupas.

A indústria da moda é uma das mais importantes do mundo, representando uma grande parcela da economia global. De acordo com o relatório The State of Fashion 2017, publicado pelas empresas The Business of Fashion (BOF) e McKinsey & Company, se a indústria da moda fosse comparada com os outros países, seria a 7º maior economia do mundo. Antes da pandemia de Covid-19, iniciada em 2020, a receita anual desse mercado estava estimada entre US$ 1.7 trilhões e US$ 2.5 trilhões, conforme os dados da McKinsey e Euromonitor.

Ao considerar o setor de moda no Brasil, diante das informações da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT, 2023), o país possui a cadeia têxtil mais completa do Ocidente, a qual engloba desde a produção das fibras e do algodão até a tecelagem, as confecções e o varejo. Além disso, é uma indústria que se evidencia pela geração de emprego, sendo mais de 9 milhões de trabalhadores diretos e indiretos.

Com a volta do trabalho e da vida ao mundo presencial, a indústria de moda e têxtil voltou a crescer no país – em 2022, a produção de roupas no Brasil alcançou a marca de 5,6 bilhões de peças, 12,6% maior do que a de 2021 (4,98 bilhões), porém ainda 5,6% menor do que a de 2019 (5,94 bilhões), segundo a IEMI Inteligência de Mercado, instituto que monitora cerca de duas mil organizações da indústria têxtil e do vestuário.

De acordo com a Euromonitor International e a IEMI, a grande retomada desse setor virá em 2023, tornando-se um dos mercados mais promissores para esse ano, prevendo assim um crescimento de 5,6% na cadeia de valor e gerando otimismo ao setor.

Porém, não podemos nos esquecer que a indústria da moda é considerada uma das mais poluentes do mundo, responsável por causar grandes impactos ambientais, sociais e econômicos, devido ao uso excessivo de recursos naturais e de produtos químicos, taxas elevadas de emissões de carbono na atmosfera e violação dos direitos trabalhistas.

Com isso, surge uma maior preocupação com o consumo consciente de moda, principalmente das novas gerações. De acordo com Instituto Akatu, o consumo consciente refere-se a “consumir com melhor impacto, sem excessos ou desperdícios. É fazer escolhas que contribuem para a sustentabilidade do planeta, para que haja o suficiente para todos, para sempre”.

As autoras Fletcher e Grose (2011) pontuam as formas de consumo consciente de moda de segunda mão por meio de 7 itens:

Compartilhamento e troca de roupa com outros indivíduos;

Reciclagem, ou seja, customização da roupa, deixando-a de cara nova;

Reparos em roupas e repaginada na peça;

Aluguel de roupas (de pessoas físicas ou jurídicas);

Reutilização das roupas já existentes no guarda-roupa, aprendendo novas formas de usar;

Compra e venda de roupas e acessórios para brechós;

Resgate de tendências vintage (peças de vestuário fabricadas em décadas passadas, ou que resgatam a moda do passado).

Considerando-se que a Geração Z (pessoas nascidas entre 1995 e 2010) tende a ser um público que se preocupa com as causas socioambientais, as alunas do curso de graduação de Administração, da Universidade Presbiteriana Mackenzie Campinas (SP), Barbara de Souza Moretto e Vitória de Oliveira Dias dos Reis, sob minha orientação, pesquisaram em seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) quais são os impactos da pandemia de Covid-19 no consumo consciente de moda, perante a Geração Z.

Representando 26% da população mundial e aproximadamente 30 milhões de brasileiros, a Geração Z, também conhecida como “Geração da Internet”, é composta por aqueles nascidos entre 1995 e 2010, considerados como verdadeiros nativos digitais.

Logo, foram entrevistadas 185 pessoas dessa Geração, questionando e comparando as práticas anteriores e posteriores à pandemia de Covid-19. Seguem alguns resultados obtidos na pesquisa:

A maioria dos entrevistados informou que após a pandemia compram itens de moda mensalmente (35,1%) ou a cada 2 ou 3 meses (35,1%). Entre o público feminino, as compras mensais prevaleceram, representando aproximadamente 42%, seguido por um percentual de 32% para as compras bimestrais ou trimestrais. Já para o gênero masculino a frequência bimestral ou trimestral teve maior destaque, com 44% das respostas;

A principal motivação para o aumento na frequência de compra das peças pós-pandemia foi a necessidade por adquirir roupas novas e/ou renovar o guarda-roupas, em seguida aparece satisfação pessoal que o ato promove aos consumidores;

Já para aqueles que indicaram redução no consumo pós-pandemia, as principais justificativas foram: ausência de necessidade por roupas novas e questões financeiras/preços;

A maior parcela dos entrevistados (77,3%) disse não ter o hábito de alugar roupas e de comprar peças de segunda mão com frequência, enquanto 15,1% afirmaram que comprava roupas usadas, mas não alugava, sendo 82% do público feminino e 17,8% do masculino. Apenas 5,4% declararam comprar e alugar esses itens com frequência antes da pandemia, sendo que esse último percentual englobou apenas o gênero feminino;

Os fatores que mais interferem na compra de um item de moda para Geração Z são: preço (77,3%), qualidade (70,3%), estética do produto (55,7%), conforto (45,4%) e poder utilizar a peça várias vezes (39,5%). Outros atributos citados incluíam a marca ser renomada (11,4%) e seguir tendências, peças que estão na moda (14,1%);

Embora 88,6% dos entrevistados achem muito importante que as empresas de moda adotem práticas mais sustentáveis para reduzir os impactos no meio ambiente e estimular um consumo mais consciente, apenas 55,1% dos entrevistados às vezes têm preferência por comprar peças de marcas que apoiam causas ambientais e sociais, 32,4% não tem preferência e somente 12,4% sempre tem preferência;

Nota-se que todos os entrevistados já praticaram pelo menos um dos sete hábitos de consumo consciente de moda de Fletcher e Grose (2011), portanto, os que predominam são: reutilizar as peças que já possui no guarda-roupa (61,6%), consertar e fazer reparos em peças do guarda-roupa (45,9%) e compartilhar e trocar roupas com amigos e conhecidos (38,9%);

84,86% responderam que consomem mais de lojas do tipo fast fashion, das quais as populares como: C&A, Renner, Marisa, Pernambucanas e Riachuelo tem o maior índice de consumo entre os entrevistados, com um percentual de 33,5%;

Dentre as lojas de fast fashion inclui-se os grandes e-commerces de moda, como a Shein e a Shopee, as quais representaram 24,9% do total de respondentes, indo de encontro com a maior digitalização da cadeia da moda.

Dessa forma, diante dos resultados apresentados, é possível observar que a Geração Z se preocupa em seu discurso com as práticas de consumo consciente de moda das empresas, mas ainda têm dificuldade de colocá-lo em prática, já que ainda compra grande parte das vezes de grandes marcas de Fast Fashion, dentre elas, a Shein, envolvida em vários escândalos recentes de trabalho escravo e poluição do meio ambiente, além de ainda não alugar roupas ou optar por itens de segunda mão como primeira opção de compra.

Porém, há oportunidade para empresas que trabalham com consumo consciente de moda comunicarem-se melhor com esses jovens, além do desenvolvimento de argumentos de vendas que envolvam a reutilização de peças que já possuem no guarda-roupa e o compartilhamento e troca de roupas com amigos e conhecidos.

Empresas que consertam e fazem reparos em peças do guarda-roupa também têm grande potencial de crescimento no mercado de consumo consciente de moda. Os brechós também possuem uma grande oportunidade de crescimento, afinal, apenas 15,1% do público afirmou comprar roupas usadas, além de lojas fast fashion considerarem ter um departamento exclusivo para a venda desse tipo de roupas, o que já ocorre em varejistas estrangeiros. Em 2019, a Macy´s, rede norte-americana fundada em 1858, firmou uma parceria com a ThredUp para vender usados no canal on-line e em lojas físicas e grupo sueco H&M já é acionista majoritário na Sellpy, plataforma de e-commerce especializada em revenda de roupas e acessórios de segunda mão.

Sobre a Universidade Presbiteriana Mackenzie 

A Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) está na 71a posição entre as melhores instituições de ensino da América Latina, segundo a pesquisa Times Higher Education 2021, uma organização internacional de pesquisa educacional, que avalia o desempenho de instituições de ensino médio, superior e pós-graduação. Comemorando 70 anos, a UPM possui três campi no estado de São Paulo, em Higienópolis, Alphaville e Campinas. Os cursos oferecidos pelo Mackenzie contemplam Graduação, Pós-Graduação, Mestrado e Doutorado, Pós-Graduação Especialização, Extensão, EaD, Cursos In Company e Centro de Línguas Estrangeiras.

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