Essa é a ideia fundamental dessa palestra, que eu observo todo dia em minha prática clínica: temos perdas e experiências dolorosas em nossa vida. Não encontramos o significado delas em alguma jornada mística ou na fala de terapeutas. Atribuir significado ao sofrimento e suportá-lo é uma decisão e uma prática. Isso demanda muita coragem. E muita fé na vida. Muita gente pode passar o resto da vida presos no não sentido e no absurdo. Andrew Solomon repete o significado não é algo que se encontra por aí. É preciso Forjar Significado e Construir Identidade. Assim ele forjou sua identidade de um autor que dá voz a pessoas que enfrentam sofrimentos maiores do que ele sofreu, com abusos, agressões e perdas que podem fazer alguém desistir da vida, mas essas pessoas escolhem enfrentar e forjar significado diante do absurdo.
Victor Frankl foi um psiquiatra austríaco judeu que foi mandado para campos de concentração nazista e sobreviveu a condições impossíveis até o final da guerra. Ele optou por tolerar o sofrimento e forjar um significado para ele. Ele conseguiu essa façanha compreendendo e ouvindo os agressores nazistas e os prisioneiros do campo de concentração. Viu homens se comportando como porcos, e outros caminhando altivos para a morte, louvando a Deus e seu destino. Quando acabou a guerra e foi liberto, Victor Frankl criou a Logosofia, e passou o resto de sua vida ajudando pacientes e colegas a encontrar um sentido para sua vida e desenvolvimento. Morreu com noventa e dois anos.
Convido você, leitor e leitora desse texto, a lembrar das piores coisas que aconteceram em sua vida, aquelas que pareciam impossíveis de superar. Imagine como essas dificuldades foram talhando sua personalidade e empurrando seu desenvolvimento. Como foi difícil passar por isso e como as saídas foram surgindo onde não tinha saída.
No seu aniversário de cinquenta anos, Andrew Solomon celebrou as bençãos se sua vida: encontrou o companheiro de sua vida, teve sucesso profissional, adotaram um menino. No seu aniversário, o garoto pediu para fazer um discurso. Seu companheiro falou: “George, você não pode fazer um discurso. Você tem quatro anos”. Mas George tanto insistiu que acabou recebendo a palavra, e agradeceu a presença de todos, a alegria do bolo e se voltou a seu pai para falar: “Pai, se você fosse pequeno, eu ia querer ser seu amigo”. No final, Andrew pôde ser grato a todas as dificuldades que atravessou, que forjaram significado e construíram sua identidade. E lhe deu amigos que nunca vão deixá-lo fora da festa.
*Marco Antonio Spinelli é médico, com mestrado em psiquiatria pela Universidade São Paulo, psicoterapeuta de orientação junguiana e autor do livro Stress - o coelho de Alice tem sempre muita pressa
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