O Laboratório de Antropologia Visual (LAV) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) lança, no dia 1º de junho, às 14h, no Cinema da UFPE, o documentário produzido a partir do projeto “Crônicas de Uma Transformação: Preservação do Acervo Fílmico Sobre a Construção do Porto do Suape”. A iniciativa é resultado da digitalização do acervo de 75 bitolas em Super 8, produzidas pelo cinegrafista Carlos Cordeiro e pertencentes ao Mispe, que registram a vida e a paisagem de Suape à época em que começou a ser erguido o complexo portuário.
No lançamento, haverá debate com a participação crítico de cinema, Luiz Joaquim; o coordenador de Audiovisual da Fundarpe, Martin Palácios; o conselheiro tutelar da Vila de Suape Rildo Plínio, o cinegrafista Carlos Cordeiro, a museóloga e responsável pela catalogação do acervo, Polly Cavalcanti; o doutorando em arqueologia (UFPE) Lucas Alves da Rocha, o professor Departamento de Cinema da UFPE Paulo Cunha, além do coordenador do LAV e do projeto, o antropólogo Alex Vailati.
O projeto, que ficou em segundo lugar no 7º Prêmio Ayrton de Almeida Carvalho de Preservação do Patrimônio Cultural de Pernambuco, na categoria Acervos Documentais e Memória Cultural, ganha relevância não só por resgatar parte da história recente do Estado, mas principalmente, da comunidade local que passou por fortes transformações desde o início da construção do porto. Ainda é responsável por manter vivo e dar acesso a um momento determinante do cinema pernambucano, que foi toda a produção em Super 8, agora, com um extrato do seu acervo preservado e disponibilizado para pesquisadores e público em geral.
As cerca de quatro horas de filmes digitalizados ficarão à disposição no Mispe, Acervo Público Estadual João Emerenciano e no site do Museu Suape (www.suapemuseu.com.br), a ser lançado também no dia 1º. O projeto tem apoio do Governo do Estado, por meio da Secretaria de Cultura e da Fundarpe, via Funcultura (edital do Audiovisual - 2020).
“No lançamento, faremos a exibição de um pequeno recorte do material, um filme que encontramos editado, de 12 minutos, e mais três gravações brutas de três minutos cada uma. Uma delas é uma gravação aérea, outra retrata a visita do presidente João Figueiredo a Suape, e a terceira é uma sequência de uma draga que afundou, entrando no porto. Serão 20 minutos de filmes”, explica Alex Vailati, que também é documentarista e professor do Departamento de Antropologia e Museologia da UFPE.
O pesquisador reforça a importância do material. “O conteúdo dos filmes é parte importante da história de Pernambuco, pelo tema, que desperta reflexões a partir da construção do porto e tudo o que isso gerou e, em particular, para a comunidade. São pessoas que moram lá e nunca tiveram a oportunidade de ver o material, que retrata seus familiares ou até eles mesmos. Outra contribuição é que também fizemos as fichas catalográficas das obras, que inexistiam. Elas foram construídas de forma colaborativa, com informações do próprio Carlos Cordeiro, que foi parceiro de Jommard Muniz de Brito em vários trabalhos, e de moradores da vila”, conta Vailati.
O projeto “Crônicas de uma transformação: preservação do acervo fílmico sobre a construção do Porto do Suape” integra o Museu Suape, iniciativa que envolve uma coleção maior, com fotografias, informações e os vídeos digitalizados. A pesquisa audiovisual foi iniciada no fim de 2019, ano marcado pela emergência do óleo no litoral pernambucano, causadora de prejuízos ambientais, sociais e econômicos. Equipe de 15 pesquisadores integra a iniciativa. Só no projeto de digitalização, são mais cinco profissionais, além de Vailati: Júlia Morim (produção executiva e pesquisa), Polly Cavalcanti (museologia) e os pesquisadores Rayana Mendonça, Walter Andrade e Akuenda Translésbicha Buarque de Souza. Eles participaram de oficina de digitalização, realizada pelo LAV e a Cinelimite, organização sediada em Nova Iorque, para estudantes e professores, percorrendo as etapas do processo, da higienização à pós-produção.
“Há muito o que se discutir ainda porque o Porto de Suape está em constante expansão, então as dinâmicas que ocorreram nos anos 70, 80, continuam semelhantes. Uma de nossas doutorandas trabalha um acervo de sete mil fotografias, tiradas nos anos 70 e esquecidas. São imagens de pessoas que eram crianças e hoje têm mais de 40... Um dos nossos convidados encontrou uma foto do pai no acervo. Há todo um contexto de memória afetiva, que leva a pensar naquele momento e no que veio depois. Estas comunidades perderam muito, dentro de processos políticos e sociais que se sucederam, e as imagens são suporte para estudar isso. Há dezenas de outras histórias que podem ser reveladas a partir do museu”, salienta o professor.
Alex Vailati conclui destacando a contribuição maior que é dada à cultura pernambucana ao se fazer este tipo de preservação. “Não há no Norte e Nordeste laboratório que faça este processo, por isso tivemos que levar o acervo ao Rio de Janeiro e depois buscá-lo. Então o trabalho de digitalização em si já é extremamente importante. E esta é apenas uma parte do cinema pernambucano, mas tem muito material excelente no Mispe, sem sede há 14 anos. É um material precioso, guardado em condições que não são ideais. Dedicamos o projeto ao programador Geraldo Pinho, que nos apresentou o acervo e, como nós, acreditava que proteger este tipo de registro é preservar a cultura em geral. Agradecemos ainda à equipe do Mispe, a Carlos Cordeiro e aos moradores de Suape”, finaliza.
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