Ao lembrar que “Pernambuco é conhecido como o Leão do Norte”, tanto o livro quanto a mostra questionam porque um animal que nunca constou na nossa paisagem se faz presente no imaginário popular ao longo dos séculos. “Em Pernambuco, no Brasil e nas Américas, nunca houve leões na paisagem. Na caatinga e no Sertão, os felinos selvagens são a onça, a jaguatirica e os gatos do mato”, lembra Gisela. “Pernambuco fica no Nordeste. Então, que leão era esse? Por que do Norte?”. Após percorrer a história e mostrar como o leão se impôs – inclusive através de movimentos libertários no estado – Gisela relata, no seu livro, o resultado da análise que fez após examinar um século de documentos sobre registros de marcas na Junta Comercial de Pernambuco.
E aí, faz novo recorte, dessa vez de 1886 a 1926, em que se debruça em rótulos, produtos, empresas que usam o “Leão” como marca. O animal aparece designando refinaria, padaria, sabão, bolacha, cigarros, fábrica de cadeiras e vários outros produtos. O “Leão” ilustra até mesmo marca de loja sofisticada de moda, embora não constasse no nome da empresa, como foi o caso da “Louvre”. No livro, Gisela interpreta a presença do Leão do Norte em marcas e produtos no contexto histórico da época, indicando origens na heráldica (estudo dos escudos) e na semiótica (estudo dos significados).
O resultado da investigação é curioso. Primeiro, ela associa a presença tão forte do “Leão” em marcas de produtos pernambucanos, à “lusofobia” registrada no século XIX, “quando a emergente classe média urbana, em crescente número, encontrava-se excluída do mercado de trabalho predominantemente ocupado por portugueses”, diz. “Alguns comerciantes e industriais procuravam contornar a hostilidade, adotando nomes para seus negócios que refletiam identidades regionais ou nacionais, atribuindo ao Leão do Norte, uma nova característica, a de vendedor”, reforça.
Mais curioso, ainda, é que à medida que o Leão assume o papel de “garoto propaganda”, vai deixando de ser “guerreiro, insurreto, agressivo” para ser transfigurado em um signo “cordato, amigo, domesticado, amestrado”. Em alguns casos, até lembra “um gatinho”. O livro foi publicado pela Lei Paulo Gustavo, via Prefeitura do Recife. Por esse motivo, não será comercializado, mas distribuído a convidados e instituições educativas. A exposição fica em cartaz até 27 de outubro, no Museu da Cidade do Recife, instalado no Forte das Cinco Pontas, que é um equipamento cultural da Prefeitura.
No sábado, durante os eventos serão comercializados bebida e quitutes inspirados no Leão do Norte. O Chef César Santos (Oficina do Sabor) levará caldinhos e o arroz Leão do Norte, à base de frutos do mar. A doceira Ana Corina chegará com docinhos, também inspirados no Leão do Norte. E a tradicional Cachaçaria Triumpho, estará lançando uma edição especial de cachaça envelhecida, com o rótulo do Leão do Norte. São apenas 83 garrafas que já começam a ser disputadas por colecionadores e admiradores de branquinhas de boa qualidade.
Serviço:
O quê: Lançamento de livro e abertura da exposição “Um Leão na Paisagem”, de Gisela Abad
Quando: Sábado, 31 de agosto
Horário: A partir das 13h
Até quando: a exposição fica em cartaz até 27 de outubro
Onde: Museu da Cidade do Recife, no Forte das Cinco Pontas
Endereço: Praça das Cinco Pontas, S/N – Bairro de São José
Quanto: Acesso livre
(O livro não será comercializado, mas distribuído por ordem de chegada aos convidados)
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