quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Galo da Madrugada homenageará Alceu Valença e Jota Michiles em seu desfile de 2017

Foto: Divulgação
O 40º desfile da agremiação sairá pelas ruas do centro do Recife no dia 25 de fevereiro, sábado de Zé Pereira


O ano era 1978, quando a união de um grupo de amigos e famílias fundou o que mais tarde seria reconhecido como o maior bloco de Carnaval do mundo. Desde então, as ruas do bairro de São José, centro do Recife-PE, nunca mais foram as mesmas. Comandado por Enéas Freire, o Galo da Madrugada resgatava o tradicional Carnaval de rua, capitaneado pelo ritmo que ferve as multidões.

Com o passar dos anos, a agremiação serviu de inspiração para o Carnaval de outros Estados do Brasil e de alguns países, contribuindo para levar o frevo e o espírito pernambucano a todo país e alguns lugares do mundo. A exemplo do “Galinho da Madrugada”, que acontece desde 1992, em Brasília (DF), o “Galo do Porto”, em Porto Alegre, e do “Galo na Neve”, que nasceu na cidade de Trois-Rivières, no Estado do Quebec, Canadá, há dois anos. 

Em 25 de fevereiro de 2017, o Clube de Máscaras prestará homenagem a dois grandes representantes da música pernambucana no seu 40° desfile de Carnaval. Nesse dia, o bloco sairá às ruas com o tema “Alceu Valença e Jota Michiles  - Guerreiros do Frevo”. A data servirá também para celebração dos 50 anos de carreira de Jota Michiles e os 70 anos de vida de Alceu Valença. 

“A escolha dos homenageados se deu pela grande representatividade que os dois artistas têm no Frevo e em nosso Carnaval, levando a cultura pernambucana para o cenário nacional e até do exterior. Além disso, as carreiras de Michiles e de Alceu estão entrelaçadas. Michiles compôs grandes frevos, muito bem representados por Alceu Valença, assim como Alceu é um excelente cantor e compositor que leva nossa música para todo lugar do mundo”, explica o presidente do Galo da Madrugada, Rômulo Meneses.

Jota Michiles
Consagrado compositor pernambucano, nascido na cidade do Recife, Jota Michiles é formado em História e autor de sucessos antológicos que fazem parte do Carnaval do Estado. Celebrando 50 anos de música, de uma trajetória iniciada no Rio de Janeiro, em plena Jovem Guarda, quando gravou a canção “Não Quero que Chores” com o grupo Vocal The Golden Boys, na famosa gravadora Odeon, Michiles representa a essência do Frevo, ritmo que contagia desde os primeiros acordes.

Ainda na década de 1960, venceu o concurso Uma Canção para o Recife, instituído pela prefeitura da cidade, com a marcha “Recife Manhã de Sol”. Michiles concorreu com os mais consagrados compositores daquele momento: Capiba, Nelson Ferreira, Aldemar Paiva. Atualmente, ele tem mais de 100 letras registradas na União Brasileira de Compositores (UBC).

Mas foi a partir do Carnaval 1986, com o hit “Bom Demais”, eternizado na voz de Alceu Valença, que o nome de Jota Michiles virou sinônimo de Frevo. Ainda com Alceu a explodir as ladeiras de Olinda, emplacou “Me Segura Senão Eu Caio” (1987), “Diabo Loiro” (1995), “Roda e Avisa” (1999) - homenagem a Chacrinha, em parceria com Edson Rodrigues, e “Vampira” (2007). O saudoso Abelardo Barbosa – Chacrinha - recebeu, inclusive, o troféu Galo de Ouro, em 1985. E agora em 2017, comemora-se o centenário do irreverente artista popular.

Artista de todo o Brasil já gravaram sucessos de Michiles como Geraldo Azevedo com a música “Pernas pra que te Quero”, Chico César com “Recife Nagô”, Maria Bethânia com “Recife Manhã de Sol”, Daniela Mercury com “Saudando o Brasil”, Fafá de Belém com “Fazendo Fumaça”, Amelinha e Nádia Maia com “Espelho Doido”, e muitos outros. Em 2015, o compositor venceu o 10º Festival de Marchinhas, no Rio de Janeiro, com a música Adoro Celulite, em parceria com Gustavo Krause.

Agora chegou a vez do compositor registrar no currículo a alegria de ser homenageado pelo clube de máscaras. “O Galo da Madrugada é a bandeira de maior referência do Carnaval. Uma explosão de riqueza musical e cultural do nosso Recife. Ser homenageado por este gigante galo carnavalesco, nesses meus 50 anos de atividade musical, é honrosamente gratificante. Me sinto muito feliz em ver meu nome sendo levado aos quatro cantos do Brasil”, ressalta Jota Michiles.

Alceu Valença
Pernambucano de São Bento do Una, Alceu Valença cresceu em convívio direto com os elementos vivos que ajudaram a consolidar a cultura do Nordeste. Aos sete anos de idade, veio para Recife, onde conheceu os blocos de frevo, os grupos de maracatu e ciranda, e conviveu com personalidades como o maestro Nelson Ferreira e os poetas Carlos Penna Filho e Ascenso Ferreira, amigos de seu pai. Criador de um estilo próprio, Alceu iniciou a carreira artística no exterior, levando para o mundo, desde muito cedo, o xote, embolada, baião. Já no fim da década de 1970, de volta ao Recife, Alceu começa a compor suas primeiras canções.

Os sucessos para o grande público chegaram na década de 80. “Voltei Recife”, composição de Luiz Bandeira, é um dos clássicos que foi eternizado na voz do artista. Em 1981, Alceu consolida uma nova fase e o imenso sucesso do compositor. O disco “Cavalo de Pau” (1982) representa o ápice deste período, com músicas como “Tropicana”, “Pelas Ruas Que Andei”, “Como Dois Animais” pipocando em ginásios e estádios por todo o país, a primeira aparição no Festival de Montreux, diversas participações no Cassino do Chacrinha e milhões de cópias vendidas. Em 1983, o LP “Anjo Avesso” conta com um dos seus grandes sucessos “Anunciação”.  Em janeiro de 1985, grava novo disco no qual interpreta o frevo “Chego Já”. Ainda na década de 1980, Alceu compõe “Coração Bobo”, inspirado em Jackson do Pandeiro. 

Já na década de 90, Alceu lança um de seus discos mais inspirados. “Sete Desejos” (1991), que traz clássicos como “Tesoura do Desejo”, “Junho” e “Belle de Jour”. Em 1996, o artista junta-se aos colegas de geração, como Elba Ramalho, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho para a celebração do “O Grande Encontro”.  Com o bloco Bicho Maluco Beleza, o cantor atrai uma multidão todos os anos.

Em 2014, Alceu lançou um disco com repertório carnavalesco, o Amigo da Arte. Entre as canções, a "Frevo nº1 do Recife", de Antônio Maria, mistura de frevo de bloco com fado, interpretado em dueto com a cantora portuguesa Carminho. Há também regravações de parcerias de Alceu com Carlos Fernando, como “O Homem da Meia Noite”. Referência no ritmo, artistas de todo o Brasil gravaram sucessos dele, a exemplo de Gilberto Gil e Jackson do Pandeiro.

“Antes tomar as ruas do Recife, no sábado de Zé Pereira, e se tornar o maior bloco do mundo, eu já o conheci o Galo da Madrugada no Bairro de São José. Tive o prazer de alegrar a multidão em muitos desfiles e gravei seu hino, no disco Asas da América. Em 2017, vou participar mais uma vez dessa festa maravilhosa na condição de homenageado ao lado de Jota Michiles, compositor que me presenteou com tantos frevos, sucessos, hoje já incorporados no inconsciente coletivo de nossa gente”, conta Alceu.

Para Valença, o bloco é a representação musical de Pernambuco. “O Galo é a expressão singular e múltipla de uma festa que reúne muitos gêneros musicais atemporais nascidos em nossa terra. É o frevo de rua, é o frevo de bloco, é o frevo canção, é o maracatu, do baque solto e do baque virado, é o caboclinho de lança e o rural, é a ciranda que saiu das praias e se integrou ao Carnaval. É Capiba, é Nelson Ferreira, é o Maestro Duda, é José Meneses, é Carlos Fernando, é Geraldo Azevedo, é Jota Michiles, é Claudionor Germano, é Spok, é Nena Queiroga, é Gustavo Travassos, é André Rio, é o Maestro Forró e tantos outros nomes de ontem, de hoje e de amanhã. É o canto dos foliões, é a alegria incomparável, é a dança. É o prenúncio de um sonho colorido que vai virar quatro dias de Carnaval. É uma honra ser homenageado pelo maior bloco carnavalesco do mundo”, finaliza o cantor e compositor.

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