O contrato entre Santos e Robinho, 36, para uma quarta passagem do atacante pelo clube, anunciado no último sábado (10), foi suspenso no começo da noite desta sexta-feira (16), após intensa pressão de patrocinadores e torcedores.
O atleta foi condenado em primeira instância na Itália por
violência sexual de grupo, em 2017, fato que trouxe enorme repercussão para seu
retorno à Vila Belmiro e levou ao menos quatro dos seus patrocinadores a
exigirem a desistência do acerto com o jogador para manterem seus contratos.
Ele nega que tenha cometido o crime e recorre em segunda instância da
condenação.
Praticamente ao mesmo tempo, clube e jogador comunicaram a
decisão por meio de suas redes sociais.
"O Santos Futebol Clube e o atleta Robinho informam
que, em comum acordo, resolveram suspender a validade do contrato firmado no
último dia 10 de outubro para que o jogador possa se concentrar exclusivamente
na sua defesa no processo que corre na Itália", diz a nota da agremiação.
"Com muita tristeza no coração, venho falar para vocês
que tomei a decisão junto do presidente de suspender meu contrato neste momento
conturbado da minha vida. Meu objetivo sempre foi ajudar o Santos Futebol
Clube. Se de alguma forma estou atrapalhando, é melhor que eu saia e foque nas
minhas coisas pessoais. Para os torcedores do Peixão e aqueles que gostam de
mim, vou provar minha inocência", afirmou Robinho em vídeo.
Não há informações sobre tempo de suspensão do acordo ou em
que circunstâncias ele poderia vir a ser retomado.
Para ser efetivada, a contratação precisaria passar por
aprovação, na próxima quarta-feira (21), do conselho deliberativo do clube, mas
a pressão se tornou insustentável já nesta sexta, com as revelações pela Globo
de gravações de conversas do atleta, tidas como fundamentais para sua
condenação na Itália.
Para a Justiça italiana, o conteúdo das interceptações
mostrou que Robinho e os demais acusados sabiam que a vítima, uma albanesa
então com 23 anos, estava alcoolizada e incapaz de reagir ao assédio do grupo.
As patrocinadoras Philco, Kicaldo, Tekbond e Casa de Apostas
deram então o ultimato à diretoria do clube. Outras, como Foxlux, Umbro e
Kodilar, também manifestaram preocupação com o caso e avaliavam a decisão que
tomariam.
Na quarta (14), a Orthopride, rede de franquias de
ortodontia e estética, já havia rescindido seu contrato de patrocínio com o
clube, iniciado em 2018 e no valor de R$ 2 milhões, por causa da contratação de
Robinho.
Segundo a acusação do Ministério Público italiano, Robinho e
outros cinco homens embebedaram a jovem albanesa em uma discoteca em Milão em
janeiro de 2013, quando o atacante jogava no Milan (ITA). Ela ficou
inconsciente e foi levada para a chapelaria do estabelecimento, onde foi
violentada múltiplas vezes.
No primeiro julgamento, ele e o amigo Ricardo Falco foram
condenados a nove anos de prisão e pagamento indenização de 60 mil euros -os
outros acusados foram considerados incontactáveis, e o processo foi suspenso
para eles.
A acusação foi baseada no depoimento da vítima e em
conversas interceptadas do grupo de amigos sobre o ocorrido. As interceptações
foram iniciadas em janeiro de 2014, em telefones grampeados e escutas
instaladas no carro usado por Robinho.
De acordo com uma das transcrições, Robinho foi avisado da
investigação pelo músico Jairo Chagas, que tocou na boate na noite em que teria
ocorrido o estupro. Ele afirmou: "Estou rindo porque não estou nem aí, a
mulher estava completamente bêbada, não sabe nem o que aconteceu".
"Olha, os caras estão na merda... Ainda bem que existe
Deus, porque eu nem toquei aquela garota. Vi (nome de amigo) e os outros
foderam ela, eles vão ter problemas, não eu... Lembro que os caras que pegaram
ela foram (nome de amigo) e (nome de amigo) [...] Eram cinco em cima
dela", completou.
Numa outra conversa com o músico, este pergunta a Robinho se
ele não transou com a mulher. O jogador nega, e Chagas diz: "Eu te vi
quando colocava o pênis dentro da boca dela". Robinho responde que
"isso não significa transar".
No seu depoimento à Justiça, a mulher afirma que não tinha
condições de falar ou de ficar em pé naquela noite e aponta Robinho como um dos
envolvidos na violência.
DEFESA AFIRMA QUE HÁ DISTORÇÕES E CORTES NAS FALAS
DIVULGADAS
Os advogados do atleta no Brasil, Marisa Alija Ramos e
Luciano Santoro, afirmaram que houve divergências na tradução dos áudios do
português para o italiano, além de distorções e cortes. E que isso será
apresentado no recurso.
Segundo eles, Robinho diz que não cometeu o crime do qual é
acusado e que, sempre que se relacionou sexualmente, foi de maneira consentida.
"Não houve violência sexual, tampouco admissão de culpa
nas interceptações telefônicas, o que fica claro quando analisadas na integralidade
e no contexto correto", disseram os defensores do atleta.
O jogador não é considerado culpado, já que o processo ainda
está tramitando na Justiça italiana, composta por três instâncias. Somente
depois de percorrer essas três fases, a sentença pode ser considerada
definitiva, com absolvição ou condenação -e, neste último caso, com o início do
cumprimento da pena.
A audiência no Tribunal de Apelação de Milão está agendada
para 10 de dezembro.
"Será a primeira vez [do processo] nesse tribunal, mas
não sei dizer se será a última, porque o juiz pode querer reabrir alguma
questão ligada a provas, aprofundar alguma coisa, ouvir novamente alguma
testemunha", disse à Folha de S. Paulo no início da semana o advogado
Alexander Guttieres, que representa Robinho ao lado de Franco Moretti. Os dois
escritórios, sediados em Roma, assumiram o caso depois da decisão de primeiro
grau.
Caso a sentença na terceira instância considere Robinho
culpado, um novo processo terá início, dessa vez para decidir sobre o cumprimento
da pena de prisão. A Constituição impede a extradição de brasileiros para
países onde crimes tenham sido cometidos.
Ao site ge.globo Guttieres afirmou que a defesa argumentará
que a relação foi consensual: "O artigo que enquadra meu cliente é claro:
fala em induzir alguém a beber ou tomar droga com objetivo de usufruir dela
sexualmente. Não há provas de que isso aconteceu. Fazer sexo com uma pessoa
bêbada ou drogada não fere a lei. Não estou dizendo que ele [Robinho] é uma
pessoa perfeita. Ele mesmo reconheceu ter tido uma conduta pouco séria, mas
crime não cometeu".
A defensora pública responsável pela defesa de Falco disse
que não há prova de que eles deram álcool à mulher com o objetivo de se
aproveitar sexualmente dela.
Na quarta-feira, após a notícia da perda de patrocínio por
causa da contratação, o Santos publicou sua primeira nota oficial sobre o
assunto.
"O clube não pode entrar no mérito da acusação, pois o
processo corre em segredo de Justiça na Itália e sobretudo o Santos FC
orgulha-se de, em sua história, sempre respeitar as garantias fundamentais do
ser humano, dentre as quais, a presunção da inocência e o respeito ao devido
processo legal", afirmava a nota.
"Não será o Santos FC que lhe dará uma sentença
antecipada, prejulgando e o impedindo de exercer sua profissão", continua.
"Infelizmente vivemos na era dos cancelamentos, da cultura dos tribunais
da internet e dos julgamentos tão precipitados quanto definitivos, porém há a
certeza que o torcedor do Santos FC entenderá que compete exclusivamente à
Justiça realizar o julgamento."
Fonte: FOLHAPRESS
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