O professor de artes marciais Roger Chedid relembrou o acidente grave que sofreu e como a sua vida mudou. Ele diz que, em 45 dias, tudo aquilo que eu tinha aprendido a chamar de vida podia deixar de existir.
Em 1995, Chedid trouxe para o Brasil quatro lutadores de Kenpô Havaiano para uma série de demonstrações.
"Foi um grande momento da minha vida! Fizemos muitas apresentações até que um dia fomos convidados encontrar os atletas profissionais do São Paulo, no Centro de Treinamentos do time. O piso não era o ideal, era uma gramado úmido... e quando eu e outro lutador, um cara com mais de cem quilos, fomos repetir um movimento que já havíamos feito dezenas de vezes em ginásios, auditórios, estúdios de TV, ele escorregou e caiu errado por cima de mim. Bati com o queixo no chão. Fiquei desnorteado, uma dor forte no meu pescoço, mas consegui fazer o giro e levantar sozinho.Na mesma hora, me levaram para o ambulatório do CT e me aplicaram choques no local por uns 40 minutos e no dia seguinte estava de novo fazendo as mesmas demonstrações. As dores tinham diminuído muito e eu acabei nem indo para um hospital. Ficou por isso mesmo.Continuei minha história sem dar a menor importância para esse acidente. Mas, hoje, quando fecho os olhos lembro exatamente do momento em que minha vida começou a mudar. O tombo, a dor...Para vocês terem uma ideia de como as coisas pareciam estar normais comigo, em 2.000, cinco anos depois, eu disputei o Campeonato Mundial de Defesa Pessoal e fui o quarto colocado. No Uruguai, no mesmo ano, no Campeonato Sul Americano, fui o campeão.E foram várias competições, amores, trabalho, dinheiro... até que o corpo começou a cobrar a conta. Em 2005 comecei a sentir um desconforto físico, chegava na academia - nessa época eu já era professor - e minhas pernas ficavam bambas, não conseguia ficar muito tempo em pé e tinha que sentar. Depois de um tempo, comecei a puxar a perna esquerda.E como desgraça pouca é bobagem na mesma época meu pai foi internado com hepatite B e dois dias depois, dois dias (!), a minha mãe foi internada com diabetes. Minha vida se equilibrava entre cuidar de meus pais e trabalhar, ao mesmo tempo não sabia o que estava acontecendo comigo, parecia que meu corpo estava morrendo", conta.
"Minha cabeça girava e meu corpo piorava dia-a-dia e em novembro fui procurar os médicos para saber o que estava acontecendo com meu corpo.
Tive um pré-diagnóstico de esclerose múltipla. O nome é horrível e a doença em si ainda pior. Nos exames apareceu uma compressão na medula na altura da primeira vértebra. Para os médicos, eu era um milagre, pois em todos os casos iguais, ao meu o paciente ou havia falecido ou ficado tetraplégico. Eu estava vivo e andando, mas não consegui comemorar isso porque eu piorava a cada dia. Em 2012, eu estava quase indo para cadeira de rodas quando fui apresentado para o Dr Alexandre Sadao, um grande especialista em coluna. Ele olhou as imagens da ressonância viu que na verdade a minha primeira vértebra estava quebrada e solta, e ela estava esmagando a medula. Por isso eu fiquei com problema de coordenação motora, equilíbrio e sensibilidade profunda.Em outras palavras, eu tinha quebrado o pescoço. Era final de setembro de 2012. 17 anos depois de bater o queixo com violência no chão, eu soube o que havia de errado comigo. Convivi 17 anos com um problema de uma dimensão que eu nem sequer imaginava. Antes de ser operado, passei por uma neurologista do plano de saúde que queria confirmar o diagnóstico. Ela concluiu que eu era um tetraplégico incompleto. Isso até hoje me atormenta. Que tipo de lição que devo tirar desses 17 anos de ignorância? As vezes penso que se fazemos as coisas sem conhecer nossos limites podemos ir mais longe; outras vezes acho que nós escondemos de nossos problemas até um ponto em que eles podem se tornar mortais. Penso, também, em quantas coisas aconteceram nesses 17 anos. E o que estava acontecendo dentro de mim e que eu não sabia. Quantas coisas podem estar transformando a gente, minando nossas forças, sem que a gente perceba. Transformações importantes às vezes são silenciosas. Se a gente não estiver atento...
Sei lá... acho que dessa minha história cada um pode tirar uma lição diferente. É uma obra aberta".
Roger diz que é crueldade tentar reescrever o passado com a cabeça que temos no presente.
"Falar sobre o que teríamos feito ontem, pensando como pensamos hoje. A vida é rio, ela vai adiante rumo ao mar. Nunca volta ao mesmo ponto. A água que passou, passou.Mas eu gostaria, do fundo do meu coração, de ser o homem que sou hoje quando meu pai estava em seu leito de morte. Sempre tivemos uma relação de amor e respeito, mas o afeto não fazia parte de nosso dia a dia. Hoje eu pegaria meu pai em meus braços, o beijaria e tentaria explicar o quanto eu o amava. Diria de uma maneira que não deixasse dúvidas. Gosto muito de quem eu me transformei, esse novo Roger, que vai fazer 07 anos de idade no próximo dia 15 de novembro. E acho que meus pais gostariam de conhecer esse cara.As pessoas quando morrem deixam atrás, para quem as conheceu, um vazio, um espaço. Esse espaço possui contornos e é diferente a cada morte".
Roger fala sobre os 11 pontos que aborda em sua palestra motivacional:
1. A minha história como multi atleta, fui seleção paulista de futebol de salão com 10 anos, vice-campeão brasileiro de saltos ornamentais e camião sul-americano com 11, seleção paulista de karatê com 18, me tornei artista da sea World de San Diego com 21, trabalhando para a maior empresa de shows aquáticos do mundo, maxwells Associates Inc. , campeão sul-americano de defesa pessoal com 30 anos.
2. Conto do meu acidente no CT do São Paulo Futebol Clube que me deixou 17 anos com o pescoço quebrado sem saber
3. Como descobri e quando a fratura
4. as limitações que isto causou na minha vida e como convivo no dia a dia
5. O grande risco que eu corria na minha cirurgia
6. Quando e porque pedi 45 dias para o doutor para efetuar a cirurgia
7. como foram meus últimos 45 dias
8. O sentimento e o que fiz no meu último dia, no dia da cirurgia
9. O meus sentimentos na volta da cirurgia
10. a mudança que isto fez na minha vida
11. E como vivo a vida com alegria nos dias de hoje
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