O #30dias30beats é um projeto dirigido pelo DJ paraibano
Daniel Jesi, criado em 2019, que convida artistas ao desafio da produção diária
de músicas associadas a alguma imagem (vídeo ou foto), durante 30 dias.
Indicado ao prêmio de “Projeto do Ano”, na SIM SP do ano passado, quando se
instalou a pandemia no Brasil, Daniel criou a segunda temporada em clima de
distanciamento social. Durante todo o mês de Abril, mais de 100 artistas, de
Norte a Sul do Brasil, participaram da iniciativa apenas associando a
#30dias30beats no post do Instagram com o conteúdo, diariamente.
Bel_Medula, projeto da artista e pesquisadora, Isabel
Nogueira, foi um dos participantes e se destacou com uma produção experimental
e coesa com o tempo que se estendia e com sua narrativa pessoal. Hoje, em uma
colaboração com o #30dias30beats, o projeto lança uma playlist especial com 11
vídeos selecionados. Ouça/assista aqui.
Isabel conta que esta é a segunda vez que participa da
iniciativa e relata como o projeto cresceu e se tornou mais fluido. “Desta vez,
a oportunidade de troca com todos os outros produtores e produtoras foi
incrível e cheia de energia. Isto me motivou para criar, para buscar soluções que
me ajudassem a produzir música e vídeo em um mesmo dia - e eu não tinha nenhuma
experiência com fazer vídeos, produzi tudo com aplicativos. Ao mesmo tempo, a
troca com as outras pessoas, através dos grupos de whatsapp foram muito
estimulantes, criou-se uma verdadeira comunidade de escuta e interesse nos
trabalhos uns dos outros, e isto foi muito potente”.
Nessa atmosfera, se inspirar diariamente não parece uma
tarefa muito difícil e foi com esse espírito que a artista mergulhou no
processo criativo: “O tema da criação e seus caminhos, desdobramentos e
processos, é algo que sempre me interessou muito. Eu sou uma compositora, mas
também sou performer, pesquisadora e escrevo poesias, então, estas várias
vertentes se unem no caminho da criação. A pandemia mundial transformou nossas
casa em nossos locais de trabalho, mas isto não aconteceu de forma tranquila ou
como uma opção, mas como uma necessidade para as pessoas que
assim pudessem proceder. Nestes dias, as emoções acontecem como um
carrossel: uns dias animada, outros temerosa, procurando de alguma forma
reestabelecer rotinas, dar conta dos trabalhos intensificados, manter a
tranquilidade de alguma forma”.
Quanto ao conteúdo produzido, fica ainda mais evidente a
veia experimental da artista que mergulhou em referências que vão de Kraftwerk
a música folclórica brasileira, como se acontecesse uma imaginária e inusitada
conversa entre Liana Padilha (No Porn), Edgar, Maria Beraldo, John Cage e
Laurie Anderson. “Neste projeto, aconteceu uma espécie de diário sonoro, onde
as impressões do dia iam sendo transformadas em músicas e vídeos. não usei
materiais previamente prontos, e todo o desafio foi dar uma cara sonora para o
dia a dia da quarentena. Neste processo, audios de whatsapp viraram samples,
sentimentos como melancolia, saudade, dor, esperança, sons da casa foram sendo
assimiladas e transformados em música. Os equipamentos utilizados também foram
diferentes, teve músicas produzidas em hardware (no sampler SP 404, bateria
eletrônica, sintetizadores, piano), outras no Ableton Live, outras em
aplicativos do celular. As referências sonoras foram muitas, algumas músicas
ficaram com um caráter de festa mesmo, outras ficaram em uma vibe mais
mântrica, outras delas viraram canção, o mosaico sonoro que aparece aqui e
amplo e complexo”.
PARA OUVIR/ASSISTIR CLIQUE AQUI
LINKS
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SOBRE ISABEL NOGUEIRA
Isabel Nogueira é compositora, cantora, multiinstrumentista,
produtora musical e musicóloga. Doutora em Musicologia pela Universidade
Autônoma de Madrid, estuda piano desde a infância e, ao longo de sua
trajetória, pesquisa as potencialidades da voz e dos sintetizadores na
expressão artística. É professora da UFRGS e coordenadora do Grupo de Pesquisa
Sônicas: Gênero, Corpo e Música (UFRGS).
Suas composições trazem diferentes visões sobre o “ser mulher" no
mundo. Grooves, beats e ambiências se misturam à vozes sussurradas, cantadas e
faladas, propondo mantras contemporâneos a partir da combinação de elementos
sintéticos e orgânicos. Tem o projeto solo Bel_Medula, e o projeto Betamaxer,
de música experimental. Lançou os trabalhos fonográficos "Vestígios Violeta"
(2014), "Impermanente movimento", "Voicing" e
"Lusque-Fusque" (2016), "Mar de tralhas",
"Betamaxers", "Légua", "Meteoro-phoenix",
"Unlikely Objects" e "Hybrid" (2017)," Zah",
"Isama Noko", "Wnyhum" e “Se eu fosse eu” (2018). Tem
atuado em festivais no Brasil (Kinobeat, Musica Estranha, FIME) e em festivais
no exterior (Live Arts Culture – Itália, Feminoise – Argentina), além de
performances em espaços consagrados da música experimental, como a sala
Spectrum (NY). Em 2919 foi orientadora
da residência artística para mulheres no Projeto Concha, na cidade de Porto
Alegre com financiamento da Natura Musical, no mesmo ano, lançou seu primeiro
álbum Pele / Osso.
SOBRE O #30DIAS30BEATS
O movimento #30dias30beats veio na busca de novidade. A
ideia surgiu quando o músico e DJ Daniel Jesi percebeu que a produção feita em
casa estava aumentando entre os amigos músicos e viu uma necessidade de escoar
essa produção. Já no primeiro ano, em 2019, beatmakers de todo o país se
empolgaram com a proposta que se baseia em produzir uma música de 1 minuto com
uma imagem associada, que pode ser vídeo ou foto, durante 30 dias, no
Instagram. Basta usar a hashtag #30dias30beats no instagram que o beatmaker já
está participando.
A ideia como o exercício, é forçar o artista a focar em
ferramentas novas e entender qual é o seu método de produção. O ato de fazer,
concomitantemente a outros artistas, estimula cada um a entregar a sua ideia
diária e também a compartilhar informações. Esse processo formou uma rede de
comunicação que mostra, em um escala maior, as características gerais de um
beatmaker.
Uma característica do projeto é que mesmo sendo uma ação em
grupo, os resultados são todos individuais. Nesse período cada artista pode
avaliar seus pontos e assim comparar com quem fez o mesmo movimento. Não há
certo nem errado. Esse movimento veio para dar possibilidade de produtores
poderem criar sem um molde específico. E usar sua criatividade ao máximo.
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