segunda-feira, 15 de junho de 2020

Bel_Medula lança compilação de músicas e vídeos do projeto #30dias30beats produzidos em tempos de quarentena


O #30dias30beats é um projeto dirigido pelo DJ paraibano Daniel Jesi, criado em 2019, que convida artistas ao desafio da produção diária de músicas associadas a alguma imagem (vídeo ou foto), durante 30 dias. Indicado ao prêmio de “Projeto do Ano”, na SIM SP do ano passado, quando se instalou a pandemia no Brasil, Daniel criou a segunda temporada em clima de distanciamento social. Durante todo o mês de Abril, mais de 100 artistas, de Norte a Sul do Brasil, participaram da iniciativa apenas associando a #30dias30beats no post do Instagram com o conteúdo, diariamente.



Bel_Medula, projeto da artista e pesquisadora, Isabel Nogueira, foi um dos participantes e se destacou com uma produção experimental e coesa com o tempo que se estendia e com sua narrativa pessoal. Hoje, em uma colaboração com o #30dias30beats, o projeto lança uma playlist especial com 11 vídeos selecionados. Ouça/assista aqui.


Isabel conta que esta é a segunda vez que participa da iniciativa e relata como o projeto cresceu e se tornou mais fluido. “Desta vez, a oportunidade de troca com todos os outros produtores e produtoras foi incrível e cheia de energia. Isto me motivou para criar, para buscar soluções que me ajudassem a produzir música e vídeo em um mesmo dia - e eu não tinha nenhuma experiência com fazer vídeos, produzi tudo com aplicativos. Ao mesmo tempo, a troca com as outras pessoas, através dos grupos de whatsapp foram muito estimulantes, criou-se uma verdadeira comunidade de escuta e interesse nos trabalhos uns dos outros, e isto foi muito potente”.


Nessa atmosfera, se inspirar diariamente não parece uma tarefa muito difícil e foi com esse espírito que a artista mergulhou no processo criativo: “O tema da criação e seus caminhos, desdobramentos e processos, é algo que sempre me interessou muito. Eu sou uma compositora, mas também sou performer, pesquisadora e escrevo poesias, então, estas várias vertentes se unem no caminho da criação. A pandemia mundial transformou nossas casa em nossos locais de trabalho, mas isto não aconteceu de forma tranquila ou como uma opção, mas como uma necessidade para as pessoas  que   assim pudessem proceder. Nestes dias, as emoções acontecem como um carrossel: uns dias animada, outros temerosa, procurando de alguma forma reestabelecer rotinas, dar conta dos trabalhos intensificados, manter a tranquilidade de alguma forma”.



Quanto ao conteúdo produzido, fica ainda mais evidente a veia experimental da artista que mergulhou em referências que vão de Kraftwerk a música folclórica brasileira, como se acontecesse uma imaginária e inusitada conversa entre Liana Padilha (No Porn), Edgar, Maria Beraldo, John Cage e Laurie Anderson. “Neste projeto, aconteceu uma espécie de diário sonoro, onde as impressões do dia iam sendo transformadas em músicas e vídeos. não usei materiais previamente prontos, e todo o desafio foi dar uma cara sonora para o dia a dia da quarentena. Neste processo, audios de whatsapp viraram samples, sentimentos como melancolia, saudade, dor, esperança, sons da casa foram sendo assimiladas e transformados em música. Os equipamentos utilizados também foram diferentes, teve músicas produzidas em hardware (no sampler SP 404, bateria eletrônica, sintetizadores, piano), outras no Ableton Live, outras em aplicativos do celular. As referências sonoras foram muitas, algumas músicas ficaram com um caráter de festa mesmo, outras ficaram em uma vibe mais mântrica, outras delas viraram canção, o mosaico sonoro que aparece aqui e amplo e complexo”.





PARA OUVIR/ASSISTIR CLIQUE AQUI



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SOBRE ISABEL NOGUEIRA

Isabel Nogueira é compositora, cantora, multiinstrumentista, produtora musical e musicóloga. Doutora em Musicologia pela Universidade Autônoma de Madrid, estuda piano desde a infância e, ao longo de sua trajetória, pesquisa as potencialidades da voz e dos sintetizadores na expressão artística. É professora da UFRGS e coordenadora do Grupo de Pesquisa Sônicas: Gênero, Corpo e Música (UFRGS).  Suas composições trazem diferentes visões sobre o “ser mulher" no mundo. Grooves, beats e ambiências se misturam à vozes sussurradas, cantadas e faladas, propondo mantras contemporâneos a partir da combinação de elementos sintéticos e orgânicos. Tem o projeto solo Bel_Medula, e o projeto Betamaxer, de música experimental. Lançou os trabalhos fonográficos "Vestígios Violeta" (2014), "Impermanente movimento", "Voicing" e "Lusque-Fusque" (2016), "Mar de tralhas", "Betamaxers", "Légua", "Meteoro-phoenix", "Unlikely Objects" e "Hybrid" (2017)," Zah", "Isama Noko", "Wnyhum" e “Se eu fosse eu” (2018). Tem atuado em festivais no Brasil (Kinobeat, Musica Estranha, FIME) e em festivais no exterior (Live Arts Culture – Itália, Feminoise – Argentina), além de performances em espaços consagrados da música experimental, como a sala Spectrum (NY).  Em 2919 foi orientadora da residência artística para mulheres no Projeto Concha, na cidade de Porto Alegre com financiamento da Natura Musical, no mesmo ano, lançou seu primeiro álbum Pele / Osso.

SOBRE O #30DIAS30BEATS

O movimento #30dias30beats veio na busca de novidade. A ideia surgiu quando o músico e DJ Daniel Jesi percebeu que a produção feita em casa estava aumentando entre os amigos músicos e viu uma necessidade de escoar essa produção. Já no primeiro ano, em 2019, beatmakers de todo o país se empolgaram com a proposta que se baseia em produzir uma música de 1 minuto com uma imagem associada, que pode ser vídeo ou foto, durante 30 dias, no Instagram. Basta usar a hashtag #30dias30beats no instagram que o beatmaker já está participando.


A ideia como o exercício, é forçar o artista a focar em ferramentas novas e entender qual é o seu método de produção. O ato de fazer, concomitantemente a outros artistas, estimula cada um a entregar a sua ideia diária e também a compartilhar informações. Esse processo formou uma rede de comunicação que mostra, em um escala maior, as características gerais de um beatmaker.


Uma característica do projeto é que mesmo sendo uma ação em grupo, os resultados são todos individuais. Nesse período cada artista pode avaliar seus pontos e assim comparar com quem fez o mesmo movimento. Não há certo nem errado. Esse movimento veio para dar possibilidade de produtores poderem criar sem um molde específico. E usar sua criatividade ao máximo.

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