quinta-feira, 5 de junho de 2025

Projeto paranaense U L T R A S O N H O expõe um labirinto de memórias sonoras em novo álbum.



U L T R A S O N H O, projeto idealizado pelo artista multidisciplinar paranaense Thomas Blum, é uma jornada audaciosa através de gêneros que desafiam categorizações fáceis.
Termos sonoros recentes ou pouco conhecidos como Signalwave e Hauntology se fundem em uma colcha de retalhos sonoros lo-fis que transcende fronteiras entre o passado e o futuro. Utilizando técnicas de colagem, distorção e uma estética lo-fi radical, o projeto constrói narrativas a partir de fragmentos radiofônicos, melodias truncadas e texturas que oscilam entre o hipnótico e o perturbador. “Não se trata apenas de música, mas de uma arqueologia do efêmero, onde falhas de transmissão, estática e a deterioração de mídias obsoletas são elevadas à categoria de arte”, explica Thomas. 

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"Nós Nunca Vamos Morrer" é o terceiro álbum do projeto, foi financiado pelo Programa Nacional de Apoio à Cultura Aldir Blanc (PNAB), via Prefeitura de São Mateus do Sul — cidade natal de Blum e protagonista invisível do álbum. A geografia sonora do município paranaense é tecida através de gravações da rádio local, entrevistas despedaçadas e comentários cotidianos, transformados em peças de um quebra-cabeça que evoca uma nostalgia não linear.


“Cada faixa opera como um portal dissonante: refrões pegajosos emergem de camadas de distorção, apenas para serem engolidos por ruídos que simulam a degradação de uma fita esquecida”, complementa o artista. A produção, deliberadamente raw, cria uma tensão entre o reconhecível e o estranho, enquanto melodias de sintetizador se entrelaçam com interferências que parecem vir de um rádio sintonizado em estações paralelas.


Ao longo das 15 faixas do trabalho, perpassadas por synths, guitarras e samplers dos mais variados, que vão de falas de personagens famosos da TV, passando por estranhas vozes das rádios, somados a músicas de artistas mundiais, que foram emuladas e reinventadas em samplers que recriam e dão novos significados a todos os nomes que indiretamente aparecem ao longo do trabalho. O resultado é uma narrativa quase onírica, que hora beira um sonho bom e em outras parecem pesadelos, mesmo que sempre com ares alucinantes e alucinógenos.


“O álbum funciona como um espelho quebrado para a cultura brasileira, refletindo não apenas o passado, mas seus futuros abortados. A escolha de usar recursos do PNAB — programa que ressignifica políticas públicas para a arte — dialoga diretamente com a proposta do projeto: reenquadrar o que foi descartado”, finaliza Thomas.


O álbum chega hoje em todos os serviços de streaming, além de download no bandcamp, através do selo indie digital brasileiro HC REC, braço do blog Hominis Canidae.

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