Quem assiste ao drama pode questionar a atitude de Francisca em querer saber o motivo da partida de Felipe através do profissional de psicologia que o atendia. Os pais têm o direito de saber os segredos mais íntimos de um filho depois que ele morre, através do terapeuta dele? De acordo com a psicóloga especialista em luto do Morada da Paz, Simône Lira, é dever do profissional de psicologia respeitar o sigilo terapêutico a fim de proteger, por meio da confidencialidade, a intimidade das pessoas atendidas.
Ela explica que o processo terapêutico é regido pela confidencialidade e a quebra desse sigilo só pode ocorrer em circunstâncias específicas, conforme o Código de Ética Profissional do Psicólogo, como casos de violência contra crianças, adolescentes, idosos, ou em situações de violência doméstica, e, ainda, sempre que houver uma solicitação judicial. "Nada deve ser revelado com o objetivo de saciar a curiosidade de terceiros, nem invadir a privacidade do paciente", afirma Simône.
“Durante o processo terapêutico, o compartilhamento de informações dos pacientes também pode acontecer nas seguintes situações: em emergências, quando há risco iminente à integridade física ou mental do paciente ou a terceiros, quando for autorizado por escrito pelo paciente e, ainda, quando o psicólogo atua em uma equipe multiprofissional, limitado a informações essenciais para o atendimento do paciente”, completa.
O filme “A Metade de Nós” é inspirado na experiência pessoal do diretor e começou a tomar forma em dezembro de 2014. A irmã de Flávio morreu por suicídio em 2007, por isso a escolha sobre o tema e como lidar com a perda tão dolorosa. “Contei a história de um casal sexagenário, que representa tantos outros, inclusive os meus, nessa longa caminhada do luto”, conta Flávio Botelho. “O tema suicídio precisa ser falado, é uma das principais causas de morte entre os jovens no Brasil”, completa.
Quando alguém morre por suicídio, é muito comum as pessoas, principalmente, os familiares quererem saber os motivos que levaram o ente querido a fazer o que fez. “O suicídio é multifatorial e não deve ser reduzido a um motivo apenas. É certo que estamos diante de um sofrimento e vazio existencial enorme a ponto de a pessoa não conseguir perceber que existem outras possibilidades que não seja a morte”, esclarece Simône Lira.
“O tema é carregado de estigmas e tabus e silenciado socialmente, o que gera uma série de fantasias e mistérios para os que ficam, além de poder gerar sentimento de culpa. É importante que os sobreviventes enlutados pelo suicídio possam buscar ajuda profissional em grupos de acolhimento ou de forma individual para poder expressar suas emoções e vivenciar o seu processo de luto”, orienta a psicóloga especialista em luto do Morada da Paz.
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