A direção e roteiro de Nathan Cirino e Aluízio Guimarães foi desafiada a transpor a profundidade poética do poema de Ronaldo para o cinema. “Tivemos que criar por duas vertentes: trazer para a tela o que ele tinha contado em entrevistas e adicionar algo que tornasse a história ainda mais sensível e poética”, explica Nathan. Aluízio complementa: “Quando transportamos uma história de uma linguagem para outra, muitas vezes precisamos acrescentar elementos que na primeira linguagem não eram exigidos. Neste processo iniciamos com a escrita do argumento com a participação de José Sereco e Gal Cunha Lima, para então começamos a fazer a escrita do roteiro”, ressalta. A dupla trabalhou com rigor durante 12 versões de roteiro até chegar à versão final.
A realização do filme contou com um forte envolvimento regional. Gal Cunha Lima, filha do poeta e produtora executiva, foi peça-chave no projeto. “Gal foi a grande responsável por tornar o sonho do Habeas Pinho realidade. Foi a persistência dela que fez tudo isso acontecer”, destaca Nathan. Aluízio também aponta a importância de priorizar talentos locais na equipe: “Termos uma equipe paraibana mostra o quanto estamos amadurecidos para inúmeras incursões no universo do cinema. Talento não nos falta.”
Estética — Campina Grande não é apenas o cenário do filme, mas um verdadeiro personagem explica Aluízio. “A cidade desempenha um papel estético-visual que surpreenderá quem não a conhece. Não à toa, o arquiteto Geraldino Duda é um dos homenageados”, conta e acrescenta que a direção de fotografia de João Carlos Beltrão adiciona um toque aveludado e grandioso à narrativa. A trilha sonora, gravada previamente e utilizada no set, ajudou os atores a mergulhar na atmosfera da época. “Mayana Neiva gravou em estúdio em São Paulo para que já tivéssemos as músicas prontas para tocar no set. Já a montagem e a finalização foram pensados, desde o início, para serem o ponto alto deste filme e tenho certeza que será um dos destaques do produto final”, ressalta Nathan. A composição inclui também uma música adaptada de um poema de Ronaldo, que, segundo Aluízio, será uma das surpresas do filme.
Mais do que uma adaptação, Habeas Pinho é uma celebração da cultura paraibana e do legado de Ronaldo Cunha Lima. “É sobre um causo de Ronaldo, mas também é sobre poesia, amor, sobre a Rainha da Borborema, nossa musa maior”, comenta Nathan. A decisão de destacar artistas paraibanos também reforça a conexão com as raízes do poeta. “Este filme é um presente inclusive pra mim, por isso agradeço a produtora e amiga Gal pelo convite. Teremos um lindo filme”, assegura Aluízio.
Elenco — Nathan destaca as atuações de Juzé, Mayana e Lucas. “Foi uma experiência que vou guardar comigo, todos foram gigantes e nos entregaram um material primoroso. Quando Lucas Veloso entrou no set vestido como Ronaldo pela primeira vez, todos nós tivemos um choque. Não havia ator que mais se encaixasse nesse papel e nem falo fisicamente, mas pela construção que foi feita”, lembra Nathan. Já Aluízio cita Chico Oliveira, ator campinense que trouxe suas histórias e trajetória artística para o set.
Trama — Inspirando-se no ambiente das rádios dos anos 60, o filme recria a figura de Dafne, uma quase divindade inalcançável, que contrasta com a simplicidade de Paulo. “Na trama, Dafne é quase uma sereia que tem seu encanto na voz. Já Paulo, se deslumbra com aquele universo que é o máximo do que ele poderia sonhar. São opostos que se atraem poeticamente. O poema nos deu os personagens e Ronaldo nos deu todas as brechas narrativas para que pudéssemos engrandecê-lo”, destaca Nathan.
“O filme é fiel à história, a forma das pessoas falarem, aos personagens reais, à realidade da época. Esse foi o nosso norte. Nathan e eu, por termos também dirigido o filme, tivemos o luxo de colocarmos em prática aquilo que imaginamos no momento da escrita”, acrescenta Aluízio, que também foi preparador de elenco. “Esta proximidade favoreceu ainda a construção da dramaturgia dos atores”, explica.
Expectativa — Para a estreia, Aluízio espera que o público paraibano, especialmente o campinense sinta orgulho do seu lugar, suas histórias e antepassados. “Que Campina descubra os tantos outros poetas da escrita, teatro e música e que o filme provoque outros fazedores de cinema da nossa cidade a fazerem resgate de nossa história e personagens”, destaca.
“O poema declamado é lindo e se basta, então o que poderíamos fazer para tornar a sua leitura algo ainda mais sensível e visualmente interessante? Nossa saída foi criativa e muito bonita. Esse é o climax do filme, o motivo pelo qual todos trabalhamos por quase dois anos e o público vai ter que conferir pessoalmente”, convida Nathan.
Habeas Pinho estreia em breve, prometendo emocionar o público ao levar para as telas a força poética e cultural da Paraíba em uma narrativa universal sobre amor, música e memória.
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