A exposição marca uma fase de liberdade e autenticidade para Renata Cabral. As obras, carregadas de uma energia lúdica e desprendidas dos rígidos conceitos de harmonia clássica, revelam uma artista que se reconecta com a criança interior que pintava para se realizar. "Quando falo de 'retinta,' estou falando também desta Renata de infância, que ainda vive dentro de mim," disse a artista.
Na entrevista que segue, Renata conta sobre a nova fase e de suas inspirações. Confira:
Qual foi a inspiração por trás da série "retinta"?
Durante meus estudos, percebi que muitos dos conceitos de beleza que eu trazia para as minhas obras eram heranças eurocentradas, que não condiziam com a minha ancestralidade. Isso me levou a brincar com os mitos gregos e clássicos, mas trazendo uma roupagem mais brasileira, mais conectada com o nosso povo. Paralelamente, eu me senti profundamente conectada com essa natureza retinta quando me apaixonei por um baiano de Salvador, cheio de axé. As coisas começaram a se encaixar e, de repente, eu me vi pintando aquela mulher, esperando por aquele encontro, relembrando cada momento. As cores surgiram de forma muito espontânea.
Como foi o processo de transformar essa paixão em arte?
Para mim, foi algo natural, mas ao mesmo tempo muito corajoso. Nunca tinha me expressado dessa forma, especialmente porque a gente se sente vulnerável. As pessoas não querem expor o que estão sentindo—uma ausência, uma saudade, ou talvez uma expectativa que pode não ser correspondida. Mas, naquele momento, era o que estava me curando. Eu sentia saudade, paixão, e o desejo de estar com aquela pessoa que me deixou.
Por que o nome "retinta"?
Minha terapeuta disse que o que aconteceu entre nós foi positivo, porque eu preciso estar apaixonada para sentir o sabor da vida. Esse renascimento, com novas cores, é fruto do nosso encontro, quase como se fosse um filho. Quando sugeri o nome 'retinta', ele gostou, pois reflete a resiliência do povo negro e simboliza meu próprio renascimento. É como se eu estivesse me tingindo de uma nova cor a partir dessa história.
O que diferencia a série "retinta" das fases anteriores?
A retinta representa minha liberdade artística, sem estar presa aos conceitos clássicos de verdade, bondade e beleza. Ela conecta com minha criança interior, aquela Renatinha que pintava sozinha e se realizava. Sempre fui introspectiva e, através da arte, exploro e compartilho meus sentimentos com o mundo. 'retinta' é minha verdadeira essência, e é assim que devo me expressar.
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