Conhecido por suas formas minuciosas e ousadas de arquitetar acordes, instrumentos e voz, o cantor e compositor mineiro Rafael Macedo imprime essa identidade em seu novo disco Talvez uma Dansa, que estreia no dia 20 de julho pela gravadora carioca Rocinante.
Resultado de um longo processo de criação, o LP é o terceiro do artista. “Esse processo de Talvez uma Dansa foi relativamente lento, pausado: algo é anotado ali, às vezes outra coisa, anos depois, acolá…”, relembra Rafael. “Esse é o primeiro disco em que escrevi todas as partituras e rascunhos à mão e eu mesmo os editei. Reúno no LP músicas começadas em 2012 a músicas iniciadas e concluídas entre 2021 e 2022, sendo algumas delas pensadas exatamente para o disco, que é o caso de Seja Dansa.”
Sobre o lançamento, o maestro Benjamim Taubkin escreveu: "(...) é música para ouvir com os ouvidos abertos. E se deixar encantar pelo que ainda não conhecemos/não ouvimos, pelas saídas e soluções criativas encontradas para cada desafio musical (...)”
Com 10 faixas divididas em Lado A e Lado B, próprio do formato vinil, Talvez uma Dansa mistura instrumentos brasileiros, como berimbau e cuíca, a outros da tradição europeia, como o piano, violino e viola. Em outros momentos, explora somente a voz e violão, como em Duas canções sobre a vida da morte, e também textos de outros gêneros literários, como o poema Instante, de Carlos Drummond de Andrade, que ganha voz, violino e piano na última faixa do álbum, ||: do instante :||.
Dessa fusão de influências, nascem ritmos e sons únicos, livres de rótulos e amarras do que se é esperado para um artista de “música popular brasileira”. “Sou apaixonado pelo universo aberto por cada uma dessas mágicas alquimias, e também porque minha formação enquanto sujeito e músico foi sempre na direção contrária à ideia de que uma coisa fica aqui e outra fica ali, que música séria é uma e música ligeira é outra”, revela Rafael.
Talvez uma Dansa conta com participações de nomes como Lívia Nestrovski, Jhê e Kristoff Silva. “A música que faço só existe porque existem outras pessoas que desejam, além de mim, que ela exista. Eu seria um barbudo com partituras à mão, caso não houvesse essas pessoas não só disponíveis e envolvidas de forma criativa e transcendente no fazer artístico”, conclui o músico.
“Talvez uma Dansa é, poderia dizer, mais um disco em que faço uma espécie de panorâmica daquilo que vou produzindo durante o passar dos anos e que desejo que soe num todo onde antevejo unidade. Espero ganhar um novo ritmo daqui pra frente, porque de compor não parei.”, completa o músico.
Além do novo álbum de Rafael Macedo, a gravadora Rocinante confirma, pelo menos, mais três lançamentos em 2023, entre os meses de julho e dezembro. São eles: Jards Macalé & Sérgio Krakowski Trio, Gabriele Leite e Aguidavi do Jêje.
Link: https://bfan.link/talvez-uma-dansa
BENJAMIM TAUBKIN SOBRE RAFAEL MACEDO
A canção feita em nosso país é, sem dúvida, um dos melhores e mais bem acabados produtos da nossa cultura. Pode reunir, em sua tradição, a sofisticação de um bem elaborado texto literário, caminhos harmônicos originais e sofisticados, e ao mesmo tempo melodias e ritmos que mobilizam multidões e são parte da vida e do imaginário de todos nós.
Uma grande parte de nossa identidade vemos refletida neste universo. Nossas contradições, anseios cotidianos, crônicas de inúmeras realidades, muitas vezes convivendo simultaneamente.
Assim, confesso que não foi sem desalento que vi a canção seguir, nos últimos tempos, de maneira quase uniforme (mas lembrando sempre das exceções), uma estética mais pop - tornando-se, em boa parte, plana, padronizada, menos surpreendente e expressiva.
Por isso, é com satisfação que ouço este novo projeto do Rafael Macedo - músico que sempre me surpreendeu pela elaboração e originalidade da sua criação.
Timbres acústicos, inusitados, incomuns. Provavelmente vamos considerar este trabalho experimental. Mas o que é experimental? Algo que sai do nosso campo habitual-previsível?
De qualquer forma, é música para ouvir com os ouvidos abertos. E se deixar encantar pelo que ainda não conhecemos/não ouvimos, pelas saídas e soluções criativas encontradas para cada desafio musical, pelas ideias com cheiro de jardim em algum lugar do futuro, de algum passado… (das utopias que sempre sonhamos).
Se for citar uma canção, fico com “Duas Canções”, que toca na ferida ainda não cicatrizada de Marielle e Amarildo, e no nosso pesadelo de todos esses últimos anos. Sua estrutura me remete a um curta - música seguindo a lógica das imagens - com um resultado que é tocante. Fico aqui com o desejo de que possa chegar a muita gente.
E de que a proposta aqui apresentada por Rafael e todo o grupo de excelentes músicos siga nos surpreendendo em suas próximas criações.
E parabéns à Rocinante por apoiar vida inteligente no cenário cultural contemporâneo.
Benjamim Taubkin
SOBRE RAFAEL MACEDO
O compositor, arranjador, pianista e cantor, Rafael Macedo, já se apresentou com Hermeto Pascoal, UAKTI, Gabriel Grossi, Toninho Horta e foi saudado por Arrigo Barnabé de modo arrebatado: “bem-te-vi portador da esperança, fazendo o som jorrar da rocha estéril com as batidas de teu cajado, salve!”.
Seu primeiro álbum, “Quase em Silêncio” (2009), já flagrava um artista caminhando decididamente na direção do “universal” – o que levou Hermeto Pascoal a observar que Rafael “não é do tipo que precisa se misturar para aparecer”. Lançado em 2018 pela Rocinante, microarquiteturas é o nome do segundo disco de Macedo com o grupo Pulando o Vitrô.
A ROCINANTE
A gravadora e fábrica de discos de vinil Rocinante foi criada em 2018, em Petrópolis. Trata-se do fruto do encontro de Sylvio Fraga com o conhecimento técnico do engenheiro de som Pepê Monnerat. A gravadora lança discos em vinil e em formato digital, com destaque para a canção e música instrumental brasileira na composição de seu catálogo.
O disco de vinil de qualidade produz um som especial – sem compressão – e é, portanto, um meio de reprodução importante para os objetivos da gravadora: expressar a singularidade e intenções estéticas de cada artista. “Nossa bússola é a comoção diante do que ouvimos. Atuamos principalmente nos campos da canção e da música instrumental brasileiras. Lançamos os discos em vinil, prensados na nossa própria fábrica com prensas modernas Newbilt, e também em formato digital”, comenta Sylvio Fraga, músico e sócio.
No romance “Dom Quixote” de Cervantes, Rocinante é o nome do cavalo do protagonista. Portanto, de acordo com os sócios, a gravadora é uma aventura que se assume quixotesca. No pool de artistas representados pela gravadora, o brilhantismo de Jards Macalé, Bernardo Ramos, Erika Ribeiro, João Donato, José Arimatéa, Marcelo Galter, Ilessi, Nelson Angelo, a obra de Letieres Leite + Quinteto / Orquestra Rumpilezz, Thiago Amud e o próprio Sylvio Fraga.

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