O filme "Morra, Amor" (Die, My Love), que estreou recentemente nos cinemas brasileiros dirigido por Lynne Ramsay, não é apenas um drama psicológico intenso. Estrelado por Jennifer Lawrence, apontada como favorita ao Oscar de Melhor Atriz em 2026, e Robert Pattinson, o longa representa uma amostra da realidade que muitas mulheres vivenciam: o peso esmagador da maternidade isolada e suas consequências devastadoras para a saúde mental das mulheres.
Inspirado no livro da escritora argentina Ariana Harwicz, o filme conta a história de Grace, cuja mudança para uma fazenda isolada com o marido coincide com o nascimento de seu primeiro filho. A ausência de rede de apoio e a reclusão a levam a um quadro de deterioração mental grave, com a trama centrada na psicose pós-parto, um transtorno de extrema gravidade.
A mulher não é fraca, ela é enfraquecida
A advogada e pesquisadora Dra. Fernanda Las Casas, doutora em Direito Civil pela Universidade de São Paulo (USP) e presidente da Comissão Nacional de Pesquisas do Instituto Brasileiro de Direito da Família (IBDFAM), aponta que o que o filme retrata – a perda de si em meio às agruras da maternidade e do casamento – é um reflexo de uma sociedade que impõe uma carga de responsabilidades incessante e solitária às mulheres.
“O excesso de responsabilidades adicionadas dia a dia à vida dessa mulher faz com que ela perca a sua força natural. A mulher não é fraca, ela é enfraquecida, porque não pode mais lutar por si, uma vez que ela tem que cuidar de todos”, enfatiza Dra. Fernanda.
Em seu livro “Família: mitos da ancestralidade e crises da maternidade”, fruto de sua tese de doutorado pela USP, ela mostra os mitos culturais que colocam a mulher em uma posição de esgotamento:
O mito da maternidade e do amor à família: exige que a mulher renuncie a si mesma com "amor absoluto e sem se perguntar se é isso que ela quer".
O mito da indivisibilidade da atividade de cuidado: impõe à mulher a responsabilidade exclusiva por um trabalho que não tem fim (limpeza, comida, atenção constante), um trabalho de 24 horas que leva à exaustão e, em casos extremos, "à loucura".
A responsabilidade exclusiva: ter um filho, que biologicamente é responsabilidade de um casal, culturalmente é imputada como uma responsabilidade exclusiva da mulher. O mérito de uma família bem constituída é do pai, enquanto a culpa por qualquer problema é da mãe.
Dra. Las Casas destaca que a mulher é enfraquecida pela família quando é obrigada a cuidar sozinha da criança, mesmo em um período de instabilidade física, emocional e hormonal após o parto. “A atenção da sociedade se volta inteiramente para o bebê, e a mãe é abandonada em sua própria necessidade. O filme retrata a retirada lenta e gradual da dignidade humana da mulher quando é imposta a ela uma felicidade sublime ao maternar e renunciar a si", finaliza Dra. Fernanda.
Sobre a Dra. Fernanda Las Casas
Advogada e pesquisadora em Direito de Família e Sucessões. Doutora em Direito Civil pela Universidade de São Paulo (USP), Mestra em Função Social do Direito pela Faculdade Autônoma de Direito (FADISP) e Especialista em Direito de Família e Sucessões pela Escola Superior de Advocacia (ESA/SP).
Professora de Direito Civil, Digital, Bioética e Família nos Cursos de Pós-Graduação do EBRADI, da Universidade Estadual de Londrina - UEL, Curso Damásio e Escola Superior de Advocacia da Ordem dos Advogados do Brasil.
Autora do livro “Família: mitos ancestrais e crise da maternidade”, da Editora Foco, fruto da sua tese de Doutorado pela USP.
É coautora em 18 livros, sendo coordenadora em 3 e organizadora em 1.
Presidente da Comissão Nacional de Pesquisa do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM).

Nenhum comentário:
Postar um comentário