Com a “carne mais nobre do mundo”, uma raça de gado japonês
ganha cada vez mais fãs no prato e no pasto dos brasileiros. Em capitais como
São Paulo, o quilo da carne do boi Wagyu pode chegar a custar R$ 600 e atende a
demanda do mercado da alta gastronomia.
Enquanto um animal de 700 quilos de raças convencionais
custa em torno de R$ 3.200, um Wagyu é negociado em torno de R$ 7.000. É um bom
dinheiro. Mas no fim do ciclo, quando infelizmente o animal segue para o abate
e dali para os açougues, o criador tem um retorno de no mínimo 40% sobre o
investimento realizado.
Não é por acaso que esse gado é tão bem tratado. Segundo os
criadores, metade da qualidade da carne depende da genética do animal e metade
do tratamento. No Japão, por exemplo, o boi bebe cerveja, ouve música clássica
e até recebe massagem. Aqui no Brasil, as regalias são menores. Até os oito
meses, eles se alimentam com o leite das vacas e recebem uma quantidade de
ração que aumenta conforme seu peso.
Segundo o veterinário Vilson Junior, que trabalha com a raça
há mais de dez anos, os primeiros meses são os mais importantes para o animal.
“É quando são formadas as células responsáveis pela produção da gordura, que
fica entremeada na carne, e dá o alto valor ao produto”, explica.
Depois, ficam 10 meses em pastos com diferentes capins,
sempre com ração planejada. E então, ficam mais 300 dias confinados em um
galpão onde há ração à vontade - mais que o dobro do tempo de um bovino
convencional.
Marmoreio. Para Alder Lopes, proprietário de uma butique de
carnes em Sorocaba (SP), um dos principais diferenciais do Wagyu é a quantidade
de gordura entremeada na carne (chamada de marmoreio). “Essa gordura contém o
bom colesterol”, diz. “Por isso é preciso certificar a origem: os animais
cruzados não têm essas qualidades, apenas os puros”.
Ele diz que é fundamental conhecer características da
criação, a origem e os atributos de cada animal como uma garantia para os
consumidores. “O Wagyu é uma iguaria, uma carne para momentos especiais”,
afirma. “O animal que não tem padrão não pode ser vendido como Wagyu”, diz o
empresário, que compra de cinco a seis animais por mês e vende a carne in
natura a 70 clientes, além de servir os cortes em seu restaurante.
Cenário. Há cerca de 37 mil animais com a genética do Wagyu
em todo o País - 30 mil cruzados com outras raças e 7 mil puros, segundo
estimativas da Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos da Raça Wagyu.
“Ainda é uma raça pouco conhecida porque é um animal muito caro de se criar,
são criações pequenas, mas estamos em mais de 10 estados”, diz o presidente, George
Gottheiner.
“Se juntarmos todos os criadores, não conseguiríamos suprir
a demanda da Grande São Paulo”, diz o presidente, que cria Wagyu em Boituva
(SP) e Aquidauana (MS).
Com 500 animais puros, o pecuarista Daniel Steinbruch tem
uma das maiores criações da raça no País, em Americana (SP). “Ainda é tudo
muito novo, então nós aprendemos errando e acertando”, diz Steinbruch, que cria
Wagyu desde 2006. Ele abate dez animais por mês e, com leilões, quer incentivar
mais gente a criar Wagyu. “A procura é muito grande. O objetivo é chegar a 50
animais abatidos por mês e vender para o exterior”, explica Steinbruch.
O professor doutor Sergio De Zen, coordenador das pesquisas
de pecuária do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP),
diz que houve no Brasil um crescimento de várias raças de bovinos nos últimos
anos. Segundo ele, cada uma agrega diferentes características à carne, desde o
teor de gordura, maciez, suculência e sabor.
“As pessoas passaram a buscar mais a qualidade da carne”,
afirma. “As raças podem oferecer esses atributos. Mas, em termos de mercado,
sempre haverá uma base, que é o boi como uma commodity, e essas opções, que
representam nichos”.
História. O gado Wagyu ficou conhecido a partir da Segunda
Guerra (1939-1945), quando marinheiros voltavam do Japão dizendo que tinham
comido a carne mais macia do mundo, o bife de Kobe, o principal porto do país
na época. “Kobe beef nada mais é do que
a carne de Wagyu daquela região. É a mesma relação dos espumantes de Champagne,
na França, e do vinho do Porto, em Portugal”, compara Gottheiner.
A genética foi transportada para os Estados Unidos e,
depois, veio para o Brasil nos anos 1990. No mundo, grandes produtores são
Austrália e Estados Unidos. Na América Latina, os destaques são Chile,
Argentina e Uruguai.
Fonte: Estadão
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