O formato reality show se consagrou no Brasil. Temos realities em televisão aberta, em canais por assinatura e em streamings, com diferentes temáticas e prêmios. O público tem mostrado atração por acompanhar acontecimentos em tempo real, com reações espontâneas e muitas vezes intempestivas.
Notoriamente, o Big Brother Brasil (TV Globo) e A Fazenda (TV Record), com dezenas de edições, firmaram-se como sucesso de público e de mercado, garantindo boa audiência e receitas comerciais significativas para as respectivas emissoras.
Parte da atração dos realities, sobretudo nas últimas edições, vem dos “barracos”, de situações extremadas onde se tem xingamentos, ameaças, muita gritaria e dedo na cara. Tivemos situações com participantes expulsos por conduta inadequada e por violar as regras dos programas.
Mas, mesmo assim, a cada edição repete-se a fórmula, ao buscar um perfil de participante que não seja planta, ou seja, que tenha mais atitude e não leve desaforo para casa. Em outras palavras, a procura é por um perfil mais agressivo, capaz de gerar situações fortes e pesadas que possam refletir em índices favoráveis de audiência.
No entanto, se caminha por uma linha tênue. O programa não pode simplesmente ser visto como uma baixaria, o que o desvaloriza comercialmente, porém, também não pode ser local para uma convivência fraterna de amigos, como desejou fazer Thiago Abravanel em sua participação no Big Brother.
Se tudo estiver muito calmo, as mídias sociais irão proclamar que o programa “flopou”, mas se descambar todos condenarão a baixaria e buscarão culpados (basicamente o participante que extrapolou).
Mas se trata de um programa “de diretor”. A direção seleciona os participantes por meio dos perfis que deseja, projeta provas, divisões de quartos, jogos de discórdia, dirige o laboratório humano com um script basicamente pré-definido. Só que a exigência cresce a cada ano, caso contrário a fórmula do reality se esgota, trazendo novas atrações, estresses e brigas.
Nesse sentido, A Fazenda que acaba de começar, promete. Com participantes de perfil esquentado, a fervura já começou e a direção espera poder controlá-los para que não descambe. Mas, e se não for possível?
E se chegar o momento em que uma agressão física seja consumada fortemente? Ou mesmo algo mais grave? Como agiremos? Culparemos os participantes pouco equilibrados de sempre ou atribuiremos responsabilidade àqueles que colocaram o barril de pólvora no paiol e deixaram o isqueiro ao lado do pavio?
Sobre Dr. Francisco Gomes Júnior: Advogado sócio da OGF Advogados, especialista em Direito Digital e presidente da Associação de Defesa de Dados Pessoais e do Consumidor (ADDP). Formado pela PUC-SP, pós-graduado em Direito de Telecomunicações pela UNB e Processo Civil pela GV Law – Fundação Getúlio Vargas. Foi Presidente da Comissão de Ética Empresarial e da Comissão de Direito Empresarial na OAB. Instagram: @franciscogomesadv - @ogf_advogados
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