terça-feira, 11 de junho de 2024

Como incluir a pessoa com autismo nas festas juninas?



A chegada do mês de junho marca o início das festas juninas, muito conhecidas pelas fogueiras,  os fogos de artifício, as comidas típicas, as músicas e as danças empolgantes, como forró, xote e o baião.
Por ser uma das festas mais queridas e tradicionais do Nordeste, as celebrações precisam ser inclusivas para garantir a participação de todas as pessoas, inclusive de crianças neurodivergentes. 



Considerando os diversos estímulos sensoriais destes festejos, a psicóloga Frínea Andrade, especialista em Transtorno do Espectro Autista e em Análise do Comportamento Aplicada, traz orientações de como tornar as celebrações mais inclusivas, evitando possíveis incômodos no corpo e na mente de pessoas autistas. 



“As pessoas neurodivergentes fazem parte deste mundo e elas precisam vivenciar as festividades, não somente as juninas, mas todas as comemorações do nosso calendário cultural, para ter a oportunidade de sociabilização, desenvolver laços comunitários e incorporar a nossa cultura”, destaca a psicóloga. 



Como as escolas podem promover festas juninas inclusivas?



Fazer um planejamento de forma antecipada


Estabelecer uma comunicação sobre a festa com a família e a comunidade terapêutica


Realizar adaptações no volume do som e na intensidade das luzes


Oferecer espaços silenciosos, caso a criança precise se acalmar e se reorganizar


Deixar a criança participar das apresentações no seu ritmo e do seu modo, sem impor padrões


Autorizar a participação do assistente terapêutico (AT) na apresentação sempre que o aluno necessitar de apoio



“Em todo evento é importante fazer uma aproximação sucessiva da criança, que nada mais é do que, gradativamente, apresentar o novo à pessoa com autismo. Para isso, as escolas, as famílias e a comunidade terapêutica devem, em conjunto, preparar a criança para vivenciar aquele momento através de estratégias como histórias sociais com o uso de imagens, comunicar a criança sobre os ensaios, fazer uma contagem regressiva do dia do evento com o calendário, aumentar o som da música gradativamente durante os ensaios para irem acostumando. Para as crianças que tiverem sensibilidade auditiva é importante que a família ou a escola disponibilize um abafador”, explica Frínea Andrade, que também é diretora do Instituto Dimitri Andrade. 



Como as famílias podem preparar as pessoas atípicas para as vivências juninas?



Vestir a roupa que será utilizada no festejo dias antes em casa para a criança ir se acostumando e não ficar incomodada no dia. Se for o caso, levar a roupa para a terapia para que o profissional de terapia ocupacional faça este trabalho de dessensibilização


Dançar com a criança em casa para que ela se adapte às músicas e aos passos das danças


Mostrar imagens e vídeos sobre as festas juninas para familiarização  



“Como as pessoas com autismo costumam ser pensadores concretos, a apresentação e a antecipação das coisas que acontecerão na festa através de imagens e vídeos, o que chamamos de história social, ajudam na organização mental do autista. Uma outra orientação super importante é que os pais cheguem na festa cedo, quando a pista está mais vazia, para a criança ir se adaptando ao ambiente”, destaca a especialista. 



O que fazer nos casos em que a pessoa com autismo se desorganiza?



“O episódio de desorganização deve ser tratado de maneira muito tranquila. Então, se a minha criança se  desorganizou, eu tenho que passar pra ela segurança e ser empático. A primeira coisa é afirmar para ela que entende que ela está passando por uma sobrecarga sensorial e que está tudo bem. É importante retirar do ambiente de forma acolhedora, levar para um ambiente com menos estímulos, como uma sala preparada para isso ou para dentro do carro, fazer pausas, sair e voltar à medida que a criança se reorganizar”, orienta Frínea Andrade, que também é mãe de adolescente com autismo. 



A especialista ainda chama atenção para a importância de evitar utilizar fogos de artifício barulhentos. “Devido à sensibilidade auditiva, pessoas com autismo podem ser fortemente impactadas por esses barulhos e se desorganizar. Pensando também nos animais, nos idosos e nas pessoas que estão hospitalizadas, o ideal é não soltar fogos”, diz Frínea Andrade.

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