“Prenda Minha” inclui bossa nova, música tradicional portuguesa, choro, chamamé e guarânia, bem como bolero mexicano e “um monte de coisas diferentes que a gente gosta de escutar”, segundo Yamandu. Lançado pela Universal Music Portugal, o álbum abre com a faixa-título, parceria do violonista com o compositor Paulo César Pinheiro. “Bela como a onça parda / Quando espreita a guarda / Quieta pra nos tocaiar / Pele quase cor de mate / Lábio de escarlate / Pronta pra beijar”, diz a letra de “Prenda Minha”.
Na sequência, vem “Nervos de Aço”, de Lupicínio Rodrigues, cujos versos caem como uma luva no timbre marcante de Zambujo e no compasso de Yamandu ao violão de sete cordas. A dupla também dá nova roupagem a temas consagrados do cancioneiro nacional, como “Valsinha”, de Chico Buarque e Vinícius de Moraes, “Gente Humilde” (Chico, Vinícius e Garoto), “Falando de Amor (Tom Jobim) e “Tristeza do Jeca”, de Angelino de Oliveira.
Já os ritmos latino-americanos ganham destaque com “Profecía”, do cubano Antonio Machin, “Recuerdos de Ypacaraí” (Demetrio Ortiz e Zulema de Mirkin) e “Cosechero”, do argentino Rámon Ayala, que fecha o álbum. Yamandu brilha sozinho nas faixas instrumentais “Odeon”, clássico de Ernesto Nazareth, e “Serelepe”, de autoria própria. A mistura de ritmos e sonoridades diversos é puro deleite para os ouvintes.
“Não houve uma concepção muito elaborada do repertório, que é bem eclético. A gente toca e canta o que gosta de ouvir. Por isso a América Latina está muito presente no álbum. É como se a gente revisitasse as nossas raízes musicais. 'Prenda Minha' retrata nossa amizade, nossos encontros e a nossa vontade de estar juntos no palco”, diz Yamandu, lembrando que as gravações ocorreram no seu estúdio em Lisboa, “sem nenhuma parafernália”.
Para entender o início dessa parceria, é preciso voltar a 2008. Segundo Yamandu, o primeiro contato com Zambujo – que além de cantor também é compositor e instrumentista – aconteceu quando este começava a fazer carreira no Brasil. Naquele ano, ele veio ao país para sua primeira apresentação, um show no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, para o qual convidou Yamandu através de um amigo em comum.
“Eu aceitei e combinamos um ensaio. Ali já se deu uma sintonia, uma afinidade muito grande, que veio de forma natural. Não conseguimos ensaiar para o show, mas viramos amigos instantaneamente”, recorda. Zambujo, por sua vez, já era um dos maiores intérpretes contemporâneos da música e da língua portuguesas – e um dos seus mais notáveis embaixadores no mundo.
"Fazer o 'Prenda Minha' era algo inevitável. Tinha de acontecer. Desde que nos conhecemos, Yamandu e eu sempre mostramos uma grande afinidade na escolha das músicas. Logo começamos a fazer shows juntos. O álbum é fruto dos nossos encontros, das conversas regadas a bons vinhos, deste amor pela música que nos une. Acredito que este será o primeiro de muitos discos que vamos fazer juntos", aposta Zambujo.
Os dois chegaram a fazer uma turnê no Brasil em 2014, com apresentações em meia dúzia de cidades. Mas ambos tinham o desejo de ir mais longe e estreitar os laços musicais. A parceria foi reforçada há quatro anos, quando Yamandu fixou residência em Portugal – incentivado pelo próprio Zambujo.
Em setembro de 2022, veio o show que deu origem ao disco, no palco do Teatro Tivoli, em Lisboa, durante as comemorações do bicentenário da Independência do Brasil. Desde então, os dois vêm lotando teatros e salas de espetáculos em países como Brasil, Portugal, Espanha, França e Sérvia. Agora chegou a vez de lançar um álbum que fortalece os vínculos de amizade e abre novos horizontes na trajetória de Yamandu e Zambujo. “Prenda Minha” é um marco na carreira de artistas que transitam por culturas e gêneros musicais diferentes, sem jamais perder a originalidade.
FICHA TÉCNICA
Prenda Minha
António Zambujo e Yamandu Costa
Gravação: Jorge Cervantes – Estúdio Bagual (Lisboa)
Edição: Elodie Bouny, Jorge Cervantes
Mixagem e Masterização: Jorge Cervantes – CervanteStudio
Produção: Yamandu Costa e António Zambujo
Universal Music Portugal (2024)
Faixas:
1. Prenda Minha – Yamandu Costa e Paulo César Pinheiro
2. Nervos de Aço – Lupicínio Rodrigues
3. Serelepe – Yamandu Costa
4. Sinal da Cruz – Ferrer Trindade e Max
5. Valsinha – Chico Buarque e Vinícius de Moraes
6. Recuerdos de Ypacaraí – Demetrio Ortiz e Zulema de Mirkin
7. Tristeza do Jeca – Angelino de Oliveira
8. Falando de Amor – Tom Jobim
9. Gente Humilde – Chico Buarque, Vinícius de Moraes e Garoto
10. Odeon – Ernesto Nazareth
11. Estrela da Tarde – José Carlos Ary dos Santos e Fernando Tordo
12. Profecía – Antonio Machin
13. Rapaz da Camisola Verde – Pedro Homem de Mello e Frei Hermano da Câmara
14. El Cosechero – Ramón Ayala
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