A partir de uma visão crítica e feminina sobre o texto “João Sem Terra” de Hermilo Borba Filho, fundamentada no estudo dos Cadernos SELVAGEM de Sandra Benites (Guarani Nhandeva) sobre o conceito de Corpo-território, o espetáculo faz uma releitura de um texto escrito por um homem sobre um outro homem e suas terras, a partir do ponto de vista de três mulheres. “O Estopim Dourado” traz ao palco as vivências femininas, embasados nos textos de uma mulher indígena e em relação com seres em cena, que contam as histórias desses corpos com a terra. O espetáculo coloca em diálogo diversos estilos teatrais, relacionando o uso de máscaras, mamulengo, corporeidades e música ao vivo.
O texto “João Sem Terra” é ambientado em um espaço rural, revelando conflitos familiares, trazendo à tona temas como o uso da terra, preservação ambiental, valorização da natureza, industrialização, assédio, entre outros. Nesse contexto, Hermilo traz o personagem de João, que deixa explícito, em diversos momentos, o valor que ele dá a seu pedaço de terra, impedindo que ela seja mexida, cultivada, cavada, etc., preocupando-se com as dores que ela sentiria. Por outro lado, o texto também deixa nítido que toda esta preocupação e cuidado não é destinado às mulheres que permeiam sua vida. É perceptível no texto a objetificação da mulher, sendo esta igualada à terra, mas enquanto posse. Assim, a pesquisa Terra Corpo Feminino, que culminou no espetáculo “O Estopim Dourado”, propõe um contraponto sobre a perspectiva do personagem João acerca das mulheres e da terra.
“A nossa pesquisa para construção do espetáculo traz o conceito de ‘corpo-território’, base da cultura indígena Guarani, onde o corpo da mulher é compreendido como parte do corpo da terra, a fim de ressignificar as relações que se estabelecem tanto com a terra, quanto com as mulheres. A partir dos ensinamentos de Sandra Benites (Guarani Nhandewa), e a narrativa indígena sobre Nhandesy, figura feminina associada à própria terra, é possível trazer para cena um outro entendimento sobre como as mulheres e a terra podem ser vistas. Tendo em vista que Hermilo Borba Filho foi um dramaturgo e diretor que realizou um importante trabalho de inserção e valorização do mamulengo em suas iniciativas teatrais, nós exploramos também em cena a linguagem do mamulengo, realizando uma interlocução entre bonecos e atrizes”, detalham Anny Rafaella Ferli, Gardênia Fontes e Taína Veríssimo.
Sinopse “O Estopim Dourado” - Um acontecimento levanta questionamentos e críticas entre as mulheres de uma região que conviviam com um homem apegado à sua terra intocada, mas que mantinha uma conduta questionável com as mulheres de seu convívio. Três atrizes em cena conectam territórios individuais ao inconsciente coletivo de mulheres, provocando questões sociais e subjetivas que envolvem o universo feminino. Tomadas pela fonte profunda da terra, responsável pelos seus ciclos de expansão e reinvenção, o trabalho explora as possibilidades de suas naturezas mais verdadeiras, audazes e sábias, que se sobressaem a céu aberto, para além da soberania masculina.
SERVIÇO
Local: Teatro Hermilo Borba Filho (Cais do Apolo, 142)
Dias: 9, 10, 11 e 12 de maio de 2024
Hora: 20h (quinta e sexta-feira) 19h (sábado e domingo)
Entrada gratuita
12 anos
FICHA TÉCNICA
Dramaturgia: baseada no texto João Sem Terra de Hermilo Borba Filho e nos Cadernos Selvagem sobre Corpo-território de Sandra Benites
Direção, pesquisa, encenação e concepção: Anny Rafaella Ferli, Gardênia Fontes e Taína Veríssimo.
Elenco: Anny Rafaella Ferli, Gardênia Fontes, Taína Veríssimo, Maria Oliveira e Lucas Oliveira
Direção de cena e preparação corporal: Lau Veríssimo
Confecção de bonecos: Maria Oliveira
Figurino: Gabi Holanda
Costureira: Sarah Paixão
Trilha sonora ao vivo: Lucas Oliveira (violão) e Maria Oliveira (voz)
Iluminação: Felipe Braccialli
Fotografia: Débora Oliveira
Videomaker: Zé Diniz
Design gráfico: Nuvon Design
Assessoria de comunicação: Alcateia Comunicação e Cultura (Dea Almeida)
Bilheteria: Nattacha Valença
Produção Geral: Anny Rafaella Ferli, Gardênia Fontes e Taína Veríssimo.
MINIBIO DAS ATRIZES:
Anny Rafaella Ferli - É atriz e Palhaça (Mariolla). Graduada em Licenciatura em Artes Cênicas pela (UFPE) e pós-graduada em Gestão e produção cultural. Desenvolve trabalhos como Atriz, palhaça, mamulengueira, professora de Escola Pública, arte educadora e produtora cultural independente pela Ferli Produções. É pesquisadora em palhaçaria, arte para a infância, arte e feminismo. Desenvolve a "Vivência em Palhaçaria- Experimentando o Movimento Sagrado com as Mulheres", desde 2019, com encontros online e presencial, potencializando a alegria e a arte como caminhos de cura coletiva e autoconhecimento.
Gardênia Fontes - É arteterapeuta e pesquisadora da linguagem teatral como ferramenta para o cuidado em saúde mental. Hoje atua profissionalmente costurando seu trabalho entre arte, saúde e educação. Hoje é graduanda do curso de Licenciatura em Teatro pela UFPE e participante do grupo de extensão “Jogo a Jogo, a alegria como caminho para o teatro”, este último sendo aplicado em escolas e eventos grupais. Há 5 anos desenvolve um trabalho arteterapêutico junto a adolescentes em ambientes escolares como também em organizações não governamentais e espaços de cuidado de saúde.
Taína Veríssimo - É integrante do Grupo Totem desde 2004, desenvolvendo coletivamente uma linguagem cênica que parte da performance e da ritualidade, e onde atua como atriz-performer, produtora e arte-educadora, ministrando, junto aos integrantes do grupo a Oficina Corpo Ritual; é também pesquisadora do Acervo RecorDança desde 2010, abarcando a salvaguarda, difusão e produção de conhecimento sobre as danças pernambucanas, já tendo assumido também outras funções, como curadora, mediadora cultural, coordenadora de educativo, autora e produtora. Investiga, através do corpo, o diálogo entre arte, cura e espiritualidade nas artes cênicas e no audiovisual. É Pós-graduanda em Dança Educacional – CENSUPEG, formanda em Instrutora de Yoga – ANYI, Licenciada em Educação Artística/Artes Cênicas – UFPE.
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